Ser contra a escalada da guerra não é ser a favor do Irã

A direita americana é dividida em relação à entrada dos EUA numa eventual guerra de Israel com o Irã. Para os neons (neoconservadores), há uma oportunidade única para acabar com o Hamas e o Hezbollah, e derrubar de vez a teocracia radical do Irã, que financia esses grupos terroristas contra Israel. Já a outra parte da direita entende que uma ação militar de Israel contra o Irã seria inócua, podendo trazer graves consequências para o Oriente Médio e para o mundo.
Muitos especialistas cometem o erro de fazerem análises estáticas, sem considerar a reação da outra parte envolvida. Nassim Taleb chama corretamente a atenção para este fenômeno nas análises econômicas. Mas não é apenas nas ciências econômicas que ocorre este tipo de miopia. Nas análises geopolíticas, muitos intelectuais não consideram os efeitos de segunda ordem (reação da outra parte).
Um ataque de Israel ao Irã traria inevitavelmente uma reação do país persa. Por mais que Israel tenha superioridade militar, o Irã, no último ataque de mísseis, mostrou que tem capacidade de provocar danos ao país judeu.
Outro ponto a ser considerado é que as incursões americanas no Afeganistão e Iraque se mostraram desastrosas. Não acabaram com o terrorismo, a democracia não foi implantada, e houve perdas de vidas e de trilhões de dólares. Por que agora ação seria exitosa?
Os neocons, para justificar uma guerra contra o Irã, costumam argumentar que soluções via negociação política fracassaram para evitar a ascensão do nazismo. Alegam, com razão, que foi justamente o uso da força militar responsável para derrotar Hitler. Mas também é verdadeiro que uma série de guerras foram desastrosas, com elevado custo político, econômico e humanitário – Vietnã, Iraque, Afeganistão, entre outras.
De outro modo: a solução adotada na segunda guerra mundial não é replicável para todas as situações. Aliás, o antológico livro “Arte da Guerra” diz que a guerra deve ser evitável ao máximo – ainda mais nos dias de hoje em que os conflitos se tornaram extremamente custosos do ponto de vista político, econômico e humanitário.
Antes de embarcar na saída beligerante, convido humildemente o leitor para alguns pontos de reflexão: Israel sabe exatamente onde o Irã estoca urânio e desenvolve energia e armas nucleares? Esses alvos são de fácil destruição? Caso atingidos, haveria vazamento de radiação? Quais são as consequências de uma contaminação nuclear para a população civil iraniana, e para os países vizinhos do Oriente Médio?
Como será a reação iraniana contra Israel? Quantos judeus inocentes não poderiam morrer num eventual conflito contra o Irã? A defesa de Israel é tão segura capaz de evitar ataques do Irã e morte de civis num território relativamente pequeno? Como lidar com as consequências econômicas do fechamento do estreito de Ormuz e da destruição de refinarias de petróleo?
Levantar esses pontos não significa ser pró Irã, pelo contrário. Desde 07 de outubro de 2023, Israel é a vítima nessa história, e tem a legitimidade de poder defender seu povo e território contra grupos terroristas e seus financiadores (Irã). No entanto, nem sempre a solução beligerante é a melhor saída – inclusive para o bem de Israel.