Setor elétrico e eletrônico registra alta de 11% neste ano e prevê novo avanço em 2025, aponta a ABINEE

Após dois anos de queda, o setor elétrico e eletrônico do país voltou a se recuperar. Segundo um levantamento divulgado pela ABINEE, a indústria superou as projeções para 2024 e obteve um crescimento de 11% em comparação com o ano anterior. Esta é a primeira vez, desde 2021, que o setor apresenta um balanço positivo no final do ano.
Ainda assim, Humberto Barbato, presidente executivo da ABINEE, afirmou que o resultado poderia ter sido melhor se não fosse o alto volume de tributos. A associação tem mantido contato com o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e do Comércio para reduzir os impostos. “Estamos encaminhando esse relatório ao ministério para que vejam o impacto que essa carga tributária tem sobre a indústria. Poderíamos ter produzido R$ 12 milhões a mais, se não fossem os impostos”, afirmou.
Segundo o presidente, as conversas com o Ministério também têm buscado incentivar a instalação de data centers no país. A expectativa é de que o próximo ano traga não apenas o crescimento no número de data centers no Brasil, mas também o aumento das redes óticas para suprir as novas construções.
O país dos data centers?
Durante uma coletiva de imprensa para tratar dos resultados de final de ano, o presidente da ABINEE falou sobre o trabalho da entidade para tornar o Brasil uma referência em data centers. Segundo a associação, para serviços como esses, que demandam grande consumo de energia elétrica, o país possui grande potencial para atrair investidores com o uso de energia limpa.
“Nós temos uma indústria preparada para atender a essa demanda e acho que sim, precisamos trabalhar mais o fato de termos energia elétrica limpa, para que isso seja um incentivo, inclusive, para taxas menores de exportação”, afirmou.
Veja também: Gastos com data centers no Brasil podem superar US$ 2 bi 2024
Este ano, a associação trabalhou em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio para criar um PPB (Processo Produtivo Básico) para os data centers instalados no país.
O fator Trump
Segundo Glauco Freitas, diretor de Geração, Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica da associação, a alta do dólar e a eleição de Trump nos Estados Unidos causam certa preocupação.
“Com os investidores colocando dinheiro nas fontes renováveis, já existem algumas restrições aos produtos chineses na Europa e nos Estados Unidos. Com o Trump e o aumento dessas restrições, me preocupa que a China foque mais na América Latina e que tenhamos uma invasão de produtos chineses maior do que já existe, prejudicando a indústria nacional”, afirmou.
Freitas ressaltou ainda que é necessário que o governo busque investimentos para o país e não apenas empresas que “deixam seus produtos e nunca mais voltam”. Atualmente, a indústria elétrica e eletrônica brasileira importa 11% de seus insumos da China, sendo este o país para o qual menos se exportou em 2024 (-67%).
Em contrapartida, o Brasil obteve um crescimento de 2% nas exportações para os Estados Unidos, o que foi visto com bons olhos pela ABINEE. “Estamos vendendo para um dos mercados mais competitivos e exigentes do mundo”, afirmou Barbato. Este ano, o Brasil obteve um crescimento de 53% nas exportações de transformadores, sendo 70% dessa exportação para os EUA.
Uma esperança com Windows 11
Voltando ao mercado interno, a notícia foi mais positiva para os vendedores de tablets, que obtiveram um crescimento de 32% em suas vendas, em comparação com o ano anterior. Em contraste, os notebooks sofreram uma queda de 1% nos resultados. Para o presidente da ABINEE, a queda se deve à alta do dólar ao longo do ano, que fechou 2024 a R$ 6,00, e aos altos impostos sobre os produtos.
“Se falou muito no meio do ano sobre a busca por notebooks, principalmente por aqueles com IA embarcada, mas com o prêmio que o cliente precisa pagar, que é em torno de 10-15%, o mercado não está apostando muito no produto”, afirmou Maurício Helfer, diretor de Informática da ABINEE, durante a coletiva.
A expectativa é que, no próximo ano, o número de vendas volte a crescer, impulsionado pela chegada do Windows 11. A transição para a nova versão, principalmente no setor corporativo, pode contribuir para esse aumento.
Mercado não oficial de smartphones
Ao longo da coletiva, uma das maiores preocupações expressas pela ABINEE foi o combate ao mercado não oficial de smartphones. Segundo a associação, a estimativa é de que o país tenha perdido cerca de R$ 4 bilhões em arrecadação de impostos devido a essa prática, que representa 20% do mercado total de smartphones.
Este ano, a ABINEE, em parceria com a Anatel e a Receita Federal, realizou diversas investigações para apreender e coibir a prática, resultando em uma queda de 2,6 milhões de unidades vendidas. Apenas na Black Friday, foram 22 mil produtos confiscados, entre eles aparelhos celulares, power banks e notebooks, que somavam um valor estimado de R$ 3 milhões.
Para o próximo ano, a associação não especificou as ações que pretende adotar, mas afirmou que esse é um dos maiores focos de combate e que continuará trabalhando com a Anatel e a Receita Federal para reduzir ainda mais o mercado irregular.
Para o ano que vem
Durante a coletiva, Barbato também mencionou que as projeções para 2025 são otimistas, mas cautelosas. A expectativa é que o faturamento do setor atinja R$ 241 bilhões em 2025, um crescimento de 6% em relação a 2024.
A projeção reflete a previsão de crescimento do PIB em 1,8% para o próximo ano, além da postura dos empresários do setor. O relatório da ABINEE mostra que os executivos se mostram confiantes em relação aos seus negócios, mas reticentes em relação à economia do Brasil.
Ainda assim, 71% dos entrevistados projetaram crescimento nas vendas e encomendas para 2025, 25% estabilidade e apenas 4% previram queda. O levantamento também indicou que 81% das empresas do setor têm a intenção de investir no próximo ano e 71% planejam contratar novos funcionários.
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