Sociedade brasileira não pode mais esperar pela próxima tragédia anunciada; é preciso plano de reurbanização

Carnaval às vésperas das famosas “águas de março” tem uma rotina previsível. O povo cai no samba, mas do céu sempre cai muita água. Lamentável é que a História e as estórias sempre se repetem. Nossa “crise hídrica” parece permanente. De vez em quando é por seca. Na maioria das vezes é por excesso de água. Os problemas variam, e os desastres se alternam. Quando o aguaceiro foge da normalidade, a tragédia ganha destaque. Todo verão é assim. Calamidade pública. Deslizamentos. Desabamentos. Inundações. Mortes! Perdas materiais. Rodovias interditadas. Pessoas desabrigadas. A maioria das vítimas é composta por gente que ocupa área de risco. Isso ocorre de modo regular, legalizado ou apenas tolerado pelas “autoridades”. Sempre se repetem as promessas oficiais de que nada acontecerá novamente. Pura mentira (ops, agora é fake news que fala). Até que um novo temporal devolve todo mundo à realidade cruel.

O abandono é evidente! A crítica é permanente. Mas o problema estrutural é evidente. Sobram perguntas, faltam respostas sinceras. Quando haverá uma solução concreta de infraestrutura? Cadê o saneamento? Quando vamos tornar mais seguras as estradas do litoral, situadas em área de mata atlântica? Quando vamos planejar corretamente e executar os planos para aproveitamento de tanta água da chuva? Ela só serve para causar estragos? Cadê as obras para melhorar a canalização, ampliar reservatórios, racionalizar o uso e promover o reuso do tão valioso recurso hídrico? Quando teremos uma política efetiva, eficiente e eficaz de Defesa Civil? Na dor, sempre as pessoas de bem se unem. No entanto, a cada “desastre natural”, fica evidente que o Brasil deveria ter uma Política Estratégica de Defesa Civil — capaz de evitar e minimizar tragédias com danos previsíveis. Enfim, quando partiremos das promessas para as ações reais?

Na “crise hídrica” em pleno carnaval 2023, que “socializou” a desgraça, pois atingiu pobres e ricos, finalmente surge uma decisão política acertada. O governador Tarcísio de Freitas decidiu transferir a sede do gabinete de crise do governo de São Paulo para o município de São Sebastião — um dos lugares mais atingidos pelas chuvas no litoral norte paulista. Tarcísio poderá usar sua experiência de especialista em obras de infraestrutura, sobretudo na recuperação de estradas. Também poderá utilizar toda sua vivência profissional em ambiente de desastre (quando foi militar do Exército, atuou na Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, nação devastada por uma guerra e por um terremoto). Tarcísio já antecipou que vai apelar para a parceria com as Forças Armadas — que têm estrutura e pessoal preparado para lidar com situações de emergência. O governador tem tudo para liderar o debate indispensável para a construção da Política Estratégica de Defesa Civil e para a formulação de um plano nacional de reurbanização que o Brasil tanto necessita, no curto, médio e longo prazos.

O Brasil não pode (sobre)viver em um estágio carnavalesco de gestão pública. Não dá mais para suportar o que se poderia batizar de “Samba da Ilegalidade Doida”. Desastres acontecem. O problema é quando a política é a causa desastrosa. Emergência tem de ser resolvida no tempo mais curto possível. O que não se pode repetir é a mesma história de sempre: um estágio criminoso de improvisação permanente e postergação de solução, que combina amadorismo, incompetência, canalhice e corrupção. O presente “acidente ambiental” no litoral de São Paulo vai reunir o presidente Lula da Silva e o governador Tarcísio de Freitas. A hora de fazer Política (com P maiúsculo) se impõe pela tragédia. A iniciativa privada tem de cobrar do Poder Público. Políticos têm de direcionar recursos para as soluções. A mídia tem de contribuir para a seriedade do debate. Basta de desastre! Não fica bem a gente assistir à população debaixo d’água (inundada, desabrigada, desamparada e apavorada), enquanto o jornalismo permanece sambando. O Carnaval da Desgraça não pode durar para sempre em Bruzundanga!