‘Sou eu, não é você’: como lidei com o fim do meu namoro
Semana passada lancei meu livro em Portugal. Uma alegria sem igual. Meu namorado foi comigo. Estávamos juntos havia seis meses na intensidade “não há amanhã”. Passamos duas semanas viajando: a primeira em uma ilha paradisíaca. Lua de mel, diziam as fotos. A outra semana passamos com meus pais, em Lisboa. Ou seja, por 14 dias seguidos, dividimos a entrada e a sobremesa nos restaurantes e demos “boa noite” com a luz apagada.
Voltei. Os dias que se seguiram foram difíceis. Chegar de uma viagem pra realidade, o mundo caindo nas costas, além do fuso horário, para uma bipolar são motivos suficientes para nocaute. Ainda por cima, arrumei uma dor de garganta, daquelas que não há Benalet que alivie. E para fechar com chave de latão: depois de três dias que pisamos em terra brasilis, meu namorado terminou comigo. Detalhe: por mensagem de texto.
Ele optou pelo clássico: “Não estou bem comigo mesmo. Sou eu, não é você”. Nem em toda a história da humanidade essa frase foi verdade. Não tive direito de resposta. Ele repetia: “Preciso ficar sozinho para me entender. Falamos quando isso acontecer”. Essa é boa. O dia em que eu me entender te falo, mas espere sentado numa poltrona macia. Acabei optando por sair por cima, para não mostrar o quanto eu estava por baixo, e disse: “Entendo. Se precisar de alguma coisa estou aqui”. Depois disso, fiz o que deu pra fazer: bati a testa no travesseiro e caí no choro.
Não dá para dizer que nosso namoro era um mar de rosas. Tinham espinhos nesse oceano. Mas nos conectávamos onde eu mais precisava: romance e carinho. Eu vinha de um relacionamento onde essas coisas eram artigo de luxo. E eu queria me dar a esse luxo. Se fiquei mal? Digamos que minha canoa foi atropelada por um iate. Que entrei num túnel com o farol apagado. Teria mais metáforas para representar meu estado emocional, mas vamos seguir.
Não quero falar mal dele, mas vou. Afinal, ele me deixou pelo zap. Ele era controlador e as coisas tinham que ser do jeito dele. E pensava rápido, o desgramado. Vou dar um exemplo: abri a porta de trás do carro e coloquei no banco a bolsa de praia, preenchida com as toalhas. Ele, que ficava observando meus movimentos aéreos, disse, como quem não quer coisa nenhuma: “Não é melhor colocar no chão para não cair?”. Sim, fazia sentido. O problema é que na décima dessas comecei a me sentir o quê? Burra. Sem falsa modéstia, até porque minha autoestima está precisando ser polida: um dos elogios que mais recebi na vida é de que eu sou inteligente. Mas esse tipo de inteligência não estava acionado nas férias. Quando vi, lá estava eu me sentindo desprovida de capacidade cognitiva.
O segundo lance: ele tinha necessidade de ser elogiado e valorizado o tempo todo. E eu era boa nisso. Quase que diariamente o acordava com poemas e mensagens dizendo o quanto o amava, ele era especial e por aí seguimos. Sou romântica, lembra? E eu falava a verdade. Gostava dele. Senão não estaria aqui tentando me convencer dos defeitos dele. Mas, o fato de eu precisar encher seu balão constantemente fez com que eu fosse murchando o meu. Desenvolvi um mecanismo inconsciente de me apagar, para não me sobrepor a ele. Bem eu, que sou um trio elétrico com luzes coloridas.
Justiça seja feita. Ele foi fofo em ir comigo ao lançamento do meu livro. Me deu força e me ajudou, por exemplo, com o roteiro da apresentação que fiz na livraria. Me acompanhou em entrevistas, uma delas para a Revista Caras. Quando na minha vida que eu ia imaginar que faria um ensaio fotográfico no rooftop de um hotel chique, com trocas de roupa, para a revista dos famosos? Mas, enquanto eu reluzia, ele fazia o making of, de trás de sua câmera, atrás da câmera do câmera.
Só que, depois que nos separamos – na verdade, ele nos separar –, ouvi de algumas pessoas: “Ele não ficou confortável com seu brilho em Portugal”. No começo rejeitei a hipótese, mas depois considerei. Muita gente foi dizer a ele que tinha tirado a sorte grande por estar comigo. Que eu estava lindíssima, que eu era isso e mais aquilo outro. E que, ao ouvir esse tipo de coisa, não o viram estampar um sorriso de orgulho no rosto.
Outro ponto importante é que ele é obcecado pela ex-mulher. No processo de divórcio, ela estava querendo comê-lo com farinha e pimenta malagueta (tinha seus motivos) e ele não tinha raiva dela. Aliás, ajoelhou ao meu lado, em Fátima, para rezar pela felicidade da abençoada. Tem duas coisas para as quais eu não tenho vocação: ser amante ou a segunda. Minha vontade era dizer a ela: “Querida, esse homem ainda te ama. Ele fala de você obcecadamente. Se ainda te interessar, é só bater os calcanhares que ele volta.” (reveja “Mágico de Oz”).
E agora, voltamos pra hoje. O chato de terminar um namoro depois de uma viagem é que tenho um álbum — compartilhado com ele, por sinal — com uma profusão de fotos nossas, em lugares maravilhosos. Muitas fotos só minhas, já que ele é um ótimo fotógrafo, e eu, uma exibida. Estou fadada a olhar para mim e imaginá-lo atrás do celular. Há também uma playlist, também compartilhada, com músicas que eu amo, mas, que agora, estão contaminadas por memórias afetivas. Ainda mais porque foram ouvidas incessantemente na nossa road trip. Ele as assobiava e eu cantarolava as letras que, por sinal, pego rápido.
O fato é que radiante não estou. Como num fim de relacionamento, mesmo de meio ano, muita coisa me faz lembrá-lo. Mas o que tenho aprendido com tudo isso é que o amor mais importante é o amor-próprio.