Sua faculdade não gera engajamento nos alunos? Saiba as principais razões do problema e como driblá-lo

Dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, do MEC) apontam que 54% dos alunos que ingressaram em 2015 em cursos de ensino superior abandonaram os estudos após cinco anos, 10% continuaram estudando e 35% se formaram. Nitidamente, os jovens estão descontentes com o conteúdo acadêmico oferecido pelas instituições de ensino superior. Nesse sentido, há tempos escrevo sobre a necessidade das faculdades reformularem suas grades curriculares para a transmissão de conteúdos que sejam atraentes aos jovens, especialmente a fim de conectá-los às reais demandas do mercado de trabalho e desenvolvê-los no empreendedorismo e na inovação. 

Justamente no sentido de identificar as causas do descontentamento dos jovens em seus estudos, fenômeno que atinge não só o Brasil, a editora americana John Wiley & Sons realizou a pesquisa “State of Student 2022”, que revelou que 55% dos alunos de graduação e 38% dos alunos de pós-graduação não conseguem manter o engajamento em suas aulas. Igualmente grave, 55% dos alunos de graduação responderam enfrentar dificuldades para assimilar os conteúdos transmitidos em sala de aula. Os respondentes também consideram que teriam melhor aproveitamento na jornada de estudos se os professores transmitissem conteúdos aplicáveis à vida prática dos alunos.

Sensível ao tema, a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) realizou pesquisa intitulada “Mapa do Empreendedorismo na Educação Superior Brasileira”, em que apenas 32% dos jovens acham que as faculdades oferecem cursos que estimulem os alunos a colocarem a mão na massa para desenvolver soluções inovadoras para velhos problemas. Atualmente, em um mundo apegado à big data e à inteligência artificial, em que os jovens estão recebendo e buscando informações nos ambientes digitais com facilidade e rapidez, o professor precisa desenvolver aulas que verdadeiramente entreguem um conhecimento especial, baseado na experiência da vida prática, do mundo real, ensinando aos alunos como é possível conectar as informações obtidas a partir das ferramentas digitais com as demandas do mercado.

Nesse sentido, a pesquisa realizada pela John Wiley & Sons também demonstra que os alunos preferem uma metodologia de ensino baseada em projetos liderados por empresas parceiras das universidades, que demandam do corpo discente soluções para os reais problemas da sociedade, do meio ambiente e do mercado. Esse método é conhecido por “PBL” (Problem Based Learning , ou, em português, “Aprendizado Baseado em Problemas”). Para uma melhor compreensão, convido os leitores a refletirem sobre suas experiências acadêmicas. Certamente, a esmagadora maioria se recordará que parte significativa dos conteúdos que receberam em sala de aula jamais foram aplicados em suas vidas práticas, gerando um enorme desperdício de tempo e esforço.

O ambiente universitário seria muito mais interessante se transmitisse conteúdos como matemática financeira, gestão de vendas, gestão de projetos, comunicação, marketing (online e offline) e transformação digital. A evasão escolar e universitária só será reduzida se as grades curriculares contemplarem o melhor das hard skills (competências técnicas para o enfrentamento dos verdadeiros desafios do cotidiano) e das soft skills (competências comportamentais necessárias para a edificação de uma vida equilibrada e virtuosa em um mundo tão competitivo e exaustivo) a fim de que os jovens possam encontrar seus propósitos de vida e aproveitá-los da maneira mais inteligente possível.

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*Wilson Victorio Rodrigues é professor, palestrante, diretor-geral da Faculdade do Comércio de São Paulo e vice-presidente da Associação Comercial de São Paulo. Estreia nesta terça, 8, a sua coluna no portal da Jovem Pan, onde escreverá sobre educação e seus impactos na sociedade.