SXSW 2025: quais são as emergências da nova era tecnológica?

*Por Guilherme Pereira, diretor de Inovação da Alura + FIAP Para Empresas
O South by Southwest (SXSW) se consolidou como um dos eventos mais importantes do mundo ao reunir pessoas criativas, mentes diversas e expoentes da tecnologia para debater e compartilhar visões sobre o futuro da humanidade. Na edição de março de 2025, ficou claro que estamos vivendo um momento de emergência em múltiplas frentes da nova era tecnológica.
Das discussões sobre inteligência artificial (IA) à transformação acelerada da sociedade e dos negócios, vemos que as mudanças digitais vão além de ferramentas de inovação, mas reformulam o modo como vivemos.
O evento destacou também uma emergência global relacionada ao bem-estar e à saúde social, assim como suas implicações para a nossa qualidade de vida. A pesquisadora Kasley Killam levantou um questionamento essencial: como as ferramentas tecnológicas afetam nossas conexões e relações no mundo real?
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Embora a inteligência artificial possa ser utilizada para aprimorar interações sociais, muitos de nós estamos substituindo parte essencial do que nos torna humanos. E isso nos mostra que realmente há uma emergência em relação a IA, que não se limita à substituição de empregos ou ao temor de uma superinteligência.
Como abordou o professor Scott Galloway, a verdadeira questão é o quanto essa tecnologia pode nos tornar passivos, afetando nossa autonomia, capacidade criativa e cognição. Em um cenário onde algoritmos decidem por nós, a humanidade corre o risco de perder seu protagonismo na própria tomada de decisão – mas isso não quer dizer que perderão os seus empregos.
Novas tecnologias
Outras emergências levantadas no SXSW foram sobre o impacto das novas tecnologias. A computação quântica, por exemplo, está se tornando uma realidade cada vez mais palpável, permitindo que problemas complexos sejam tratados de forma mais precisa, sem as limitações do pensamento binário. Essa evolução promete transformar os negócios e as ciências humanas, acelerando a digitalização e criando novos paradigmas para processos, ideias e soluções.
No entanto, a futurista Amy Webb descreveu esse novo ciclo da tecnologia como “The Beyond” e destacou um alerta importante: estamos atravessando um espaço liminar onde a inovação está reescrevendo as regras sociais. A civilização está começando a mudar rapidamente de maneiras que ainda não conseguimos explicar completamente. E com isso surge um alerta: algumas das condutas que guiaram nossa sociedade por séculos estão começando a se desintegrar.
Novos futuros
Se pararmos para pensar, a própria existência do SXSW também demonstra que há uma emergência de novas ilusões. Alucinamos se encaramos eventos como esse ou se lemos relatórios de tendências que profetizam caminhos, para pensarmos que estamos a salvo. Para termos a “certeza” que sabemos o que vai acontecer. Este é o aviso da professora Esther Perel quando reflete que a tecnologia nos dá a ilusão de controle e conveniência, mas as relações humanas são por natureza cheias de incertezas e imperfeições.
Isso nos leva a entender que precisamos de uma nova inteligência. Devemos entender, por exemplo, que ferramentas como a IA ainda não são inteligentes de fato. Ainda há muito espaço para novos modelos e arquiteturas, como a defendida por Peter Voss, um dos criadores do termo AGI (Artificial General Intelligence). A arquitetura neuro-simbólica integrada ou talvez a inferência ativa, que podem ser caminhos mais prósperos para uma AGI do que os LLMs que estão na hype.
O papel da criatividade e da humanidade
Curiosamente, um dos maiores desafios do futuro não está na tecnologia, mas na maneira como lidamos com a complexidade. A pesquisadora Brené Brown destacou que soluções para dilemas como a IA não serão encontradas apenas em conjuntos de dados binários, mas na interseção entre lógica e criatividade. Para compreender e liderar a inovação, precisaremos transitar entre os prédios da computação e das artes liberais, explorando paradoxos, metáforas e poesia.
No fim, o SXSW revelou algo ainda mais profundo: uma emergência individual. Como destacou Tracee Worley, se não imaginarmos futuros diferentes, corremos o risco de ficarmos presos a versões recicladas do nosso passado. É emergente a necessidade de mantermos nossa humanidade no centro das transformações. A inovação mais importante talvez não esteja apenas na tecnologia, mas na capacidade de cada um de nós de enxergar e construir novas possibilidades para o futuro.
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