Falta de atenção das teles às PMEs desafia economia global

CEO da Jazz apresenta no palco do MWC 2025, em um ambiente de conferência com cortinas brancas e iluminação azulada. Ele veste um blazer azul, camisa branca e jeans, segurando um controle remoto na mão enquanto fala para a plateia. Atrás dele, um grande telão exibe um slide com o título 'SMEs Growth is Essential for a Strong Economy' e destaca estatísticas sobre o impacto das PMEs no Paquistão, incluindo sua contribuição para o PIB (40%), participação nas exportações (25%), potencial de exportação (US$ 40-60 bilhões) e número total de PMEs (5,2 milhões). O slide também menciona desafios, como o baixo acesso a financiamento (7%) e o alto uso de pagamentos em dinheiro (85%), além de dados sobre a penetração da banda larga (58%). A plateia, vestida formalmente, acompanha a apresentação atentamente.

Com a crescente digitalização dos negócios e o avanço da inteligência artificial (IA), o futuro das pequenas e médias empresas (PMEs) depende de uma mudança estratégica das operadoras de telecom. O setor precisa deixar de lado uma visão centrada apenas em grandes clientes e reconhecer que, ao investir no fortalecimento dos pequenos negócios, o impacto econômico será significativo e duradouro. Essa foi a conclusão de um dos painéis realizados no Mobile Word Congress (MWC), que acontece nesta semana em Barcelona*, na Espanha.

Aamir Ibrahim, CEO da Jazz, principal operadora de telecomunicações do Paquistão, destacou que a negligência ao mercado de PMEs não é apenas um erro estratégico, mas um problema econômico global. “As PMEs são a espinha dorsal de qualquer economia. No Paquistão, temos 5,2 milhões de pequenas e médias empresas, que empregam 80% da força de trabalho e representam quase 50% do PIB. E, no entanto, apenas 7% delas têm acesso a crédito e 58% possuem conexão de banda larga de qualidade”, afirma.

A mudança de mentalidade, segundo Ibrahim, exige que as telcos deixem de ser apenas provedoras de infraestrutura para se tornarem facilitadoras de serviços digitais. Ele defende uma abordagem baseada no que chama de “3Bs”: banda larga, banking e business tools.

Banda larga, primeiro pilar para o crescimento das PMEs

O acesso à internet de qualidade ainda é um desafio em muitos mercados emergentes. Estudos do Banco Mundial mostram que um aumento de 10% na penetração da banda larga pode elevar o PIB de um país em 1,4%. No entanto, a infraestrutura continua desigual. “Não podemos priorizar apenas clientes que podem pagar por headsets de US$ 200 em áreas urbanas. A conectividade precisa alcançar a base da pirâmide”, alerta o executivo.

Nesse cenário, a Jazz tem investido fortemente na expansão do 4G em vez de focar apenas no 5G, buscando democratizar o acesso à conectividade para PMEs e microempreendedores. A empresa já destinou mais de US$ 5 bilhões para melhorar sua infraestrutura.

Banco digital e o papel telcos no financiamento das PMEs

Além da conectividade, as PMEs enfrentam um desafio crônico de financiamento. Ibrahim ressaltou que os bancos tradicionais raramente concedem crédito a pequenos negócios, preferindo atender grandes corporações e indivíduos de alta renda. Para resolver esse problema, a Jazz adquiriu uma licença bancária para atuar no setor de microfinanças.

“Hoje, emitimos 150 mil microcréditos diários, com valores que variam entre US$ 10 e US$ 100, direto para carteiras digitais. Já emprestamos mais de US$ 1 bilhão nos últimos três anos”, afirma. Segundo ele, esse modelo tem sido essencial para financiar estoques, pagar fornecedores e sustentar o crescimento de pequenos negócios no país. Além disso, um dos focos da Jazz é impulsionar o empreendedorismo feminino. A empresa tem priorizado microcréditos, capacitação digital e infraestrutura para apoiar mulheres empreendedoras a escalar seus negócios.

Poder do digital

As telcos, tradicionalmente grandes consumidoras de data centers e soluções de nuvem, têm direcionado serviços para grandes corporações. No entanto, Ibrahim argumenta que é fundamental adaptar essas soluções para PMEs, oferecendo armazenamento, análise de dados e ferramentas digitais em modelos flexíveis de pagamento.

“A maioria das telcos foca na revenda de produtos de hyperscalers para grandes empresas, mas ignoram o imenso potencial das PMEs. Precisamos de modelos pay-as-you-grow e serviços personalizados para esse segmento”, explicou.

O consenso foi que a hiperconectividade e a inteligência artificial podem ser grandes aliadas das PMEs, mas apenas se houver um esforço conjunto das operadoras para incluir essas empresas no mercado digital. “A inovação só tem valor real se for acessível para todos. Deixar as PMEs para trás significa comprometer o crescimento econômico e a inovação global”, conclui Ibrahim.

*A jornalista viajou a Barcelona convite da Intel

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