Trump da campanha e o Trump presidente

Donald Trump assume hoje a presidência dos EUA com grande popularidade. Afinal, foi vencedor tanto no colégio eleitoral quanto no voto popular, e o partido Republicano formou maioria na Câmara e no Senado. Além disso, a Suprema Corte tem maioria conservadora. Com esse amplo apoio, Trump não deve ter problemas de governabilidade. Mas isso não significa que Trump terá facilidade em colocar em prática todas as promessas de campanha, como o protecionismo e a deportação de imigrantes ilegais.

Não é simples aplicar medidas protecionistas. Primeiro, porque muitos acordos se deram no âmbito da OMC ou envolvem negociações bilaterais. Segundo, – e o principal motivo -, é que o protecionismo encarecia mercadorias nas lojas de departamento nos EUA, o que geraria uma grande insatisfação da população, sobretudo porque o país é um grande importador de produtos da China.

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Provavelmente, ocorrerá algum protecionismo, mas bem menor do que o anunciado, sem grandes efeitos em termos de comércio mundial. Da mesma forma, não é simples a deportação de imigrantes ilegais na prática. Primeiro, há a dificuldade de se mapear os imigrantes ilegais. Segundo, a deportação envolve um processo, o que gera custos, além da despesa financeira com o transporte aéreo. Terceiro, tem o desafio operacional: como deportar rapidamente 11 milhões de imigrantes ilegais? 

Só para ter uma ideia da dificuldade, um Airbus-380 (maior avião do mundo) tem 853 lugares. Seria necessário 12.820 Airbus lotados para fazer isso. Mesmo que a deportação fosse feita ao longo do tempo, demoraria anos. Isso ainda na hipótese irreal de as empresas áreas destinarem suas operações apenas para essa finalidade, sem transportar turistas e executivos. Assim, para avaliar a gestão Trump, é necessário separar o discurso de campanha das dificuldades do mundo real. Como já se diz no futebol: “treino é treino; jogo é jogo”.