Trump e a arte da negociação

O protecionismo econômico do presidente Donald Trump chamou a atenção do mundo durante seu primeiro governo. A guerra comercial travada com a China por um período de seu mandato, fez com que o dólar se valorizasse e a economia chinesa desacelerasse, dois trunfos para a pasta econômica do republicano. Para os demais países do mundo, a guerra comercial pesou nos bolsos de muitas nações, arcando com o prejuízo de suas moedas se desvalorizarem, concomitantemente ao medo de tarifas serem impostas aos seus produtos. Aquilo protagonizado por Estados Unidos e China, aparentam hoje, ter sido apenas um prelúdio da nossa realidade em 2025.

Apesar de ser um método antiquado na interpretação dos grandes economistas de nosso tempo, o antagonismo com a China através do protecionismo, é compreensível do ponto de vista geopolítico, onde o maior império em atividade faz de tudo para retardar a ultrapassagem do grande império vindouro. Contudo, o pacote de tarifas anunciadas sobre o México e o Canadá, causaram grande espanto até mesmo nos defensores mais fervorosos da agenda MAGA nos Estados Unidos.

As duas nações fronteiriças dos norte-americanos, também representam centenas de bilhões de dólares para a balança comercial do país, sem dizer que são aliados de longa data, não representando nenhuma ameaça ou contraponto na dominância estado-unidense no cenário regional e global. 

O comércio entre Estados Unidos e México representa mais de 700 bilhões de dólares e uma relação de crucial relevância para ambos, já que os mexicanos são os maiores parceiros comerciais dos norte-americanos e vice-versa. Mesmo com uma defasagem tecnológica e econômica óbvia em relação aos seus vizinhos ao norte, o México representa várias partes fundamentais do processo manufatureiro dos Estados Unidos, sobretudo em produtos de alto valor agregado.

As peças automotivas e de maquinários alimentam as indústrias de carros e de equipamentos pesados nos Estados Unidos, que tem como produtos finais, itens de milhares de dólares comprados por centenas de milhões de pessoas. Sobretaxar essa cadeia de produção significa sobretaxar os próprios cidadãos americanos que, a posteriori, comprariam carros, eletrodomésticos e dezenas de outros equipamentos a preços consideravelmente mais carros.

Além disso, o petróleo cru mexicano refinado nos Estados Unidos é parte vital do abastecimento de alguns estados no país, o que significaria outro encarecimento em um bem essencial. No lado canadense, os americanos também têm o déficit, mas a dependência de commodities energéticas revela a quão estratégica é a relação entre os dois vizinhos. 

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Inicialmente Donald Trump prometeu tarifas de 25% sob a maioria dos produtos mexicanos e canadenses a partir de 01 de fevereiro. A medida que entraria em vigor esta semana, todavia, teve uma reviravolta inesperada. Após telefonema com a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum, o mandatário norte-americano suspendeu as tarifas por 30 dias.

Donald Trump disse que depois de uma produtiva conversa com a sua homóloga, o México colocará 10 mil soldados na extensa fronteira com os Estados Unidos para prevenir a entrada de imigrantes ilegais no território norte-americano, o fluxo de fentanil, ajudando também a enfraquecer os cartéis de drogas, concluindo que novas negociações serão conduzidas nas próximas semanas com a presença do Secretário de Estado, Marco Rubio.

O Canadá havia anunciado uma resposta proporcional às tarifas de Trump, aplicando taxas de 25% nos produtos do vizinho que chegassem em solo canadense. Todavia, da mesma maneira como ocorreu com o México, apenas algumas horas mais tarde, Justin Trudeau anunciou a suspensão das tarifas. O primeiro-ministro canadense disse que a conversa com Trump foi decisiva para a medida, e que o Canadá se comprometeu a alocar um fundo de 1.3 bilhão de dólares para proteger melhor as fronteiras, colocando 10 mil funcionários de prontidão para regular o fluxo de imigração ilegal e drogas.

Para ambos os casos a receita foi a mesma e o resultado também o mesmo: ameaçar com tarifas para que no final os vizinhos pagassem pelo patrulhamento das fronteiras. A promessa mais enfática de Donald Trump durante a campanha foi deportar o maior número possível de indivíduos em situação irregular e proteger as fronteiras e interesses americanos. Tal promessa, por mais que seja difícil de ser alcançada em sua completude, é possível de ser implementada com algumas dezenas de bilhões de dólares.

Para ficar com o menor prejuízo econômico e o maior lucro político, a estratégia de Trump se mostrou certeira para alcançar seus objetivos. Se os chefes de governo do México e Canadá cumprirão as suas promessas, ainda é cedo para dizer, mas o trunfo das negociações ficou, por hora, com o republicano. Agora que o mundo viu Trump em seu novo modus operandi, basta saber se tal estratégia será bem-sucedida caso seja utilizada novamente, e se surtirá efeito em outras frentes. Aquilo que podemos dizer no momento é que o Senhor das Tarifas talvez tenha sido apenas um personagem na arte da negociação.