Trump extingue a USAID e corta o financiamento de ONGs progressistas

Quem imaginava que a posse de Donald Trump não traria muitas consequências para o Brasil se enganou. Uma de suas últimas decisões, por exemplo, tem impacto direto no nosso país: ele decidiu acabar com a USAID (Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional). Essa drástica decisão nos afetará em cheio, para o bem ou para o mal, já que inúmeras ONGs e instituições no país são financiadas por essa agência. É curioso que algumas pessoas viram a sigla USAID pela primeira vez, sem entender bem o seu significado.

Uma poderosa fonte de recursos será fechada

Embora muitos não saibam, o impacto será grande para setores progressistas, que há anos contam com o dinheiro destinado por eles para projetos ligados a meio ambiente, direitos indígenas, causas LGBTQIA+, feminismo e jornalismo independente. Entre as iniciativas que podem ser atingidas estão: financiamento de ONGs ambientais na Amazônia, projetos de empoderamento feminino em comunidades carentes, apoio a veículos de mídia alternativa e ativismo digital.

Para a direita, essa decisão encerra um braço do globalismo progressista. Para a esquerda, é um duro golpe contra causas sociais. Mas qual foi o verdadeiro papel da USAID? Como passou de instrumento da Guerra Fria para alvo da direita conservadora? A resposta começa nos anos 1960, quando a USAID desembarcou no Brasil com um propósito bem diferente.

O MEC-USAID e a Guerra Fria no Brasil

Nos anos 1960, eu era um garotão. Ouvia falar do MEC-USAID, mas não entendia muito bem. O acordo entre o Ministério da Educação e Cultura (MEC) e a USAID provocou revolta entre estudantes, que viam nele uma tentativa dos EUA de moldar a educação brasileira para evitar o avanço do comunismo.

 Criada em 1961 por John F. Kennedy, a USAID foi apresentada como uma agência “independente” para fomentar o desenvolvimento global. No Brasil, o MEC-USAID (1966) propôs uma reforma universitária baseada no modelo americano. Para a esquerda, isso era um plano para formatar a educação ao gosto dos EUA.

A pressão contra o acordo cresceu. Acompanhei diversas passeatas estudantis para combater o que chamavam de imperialismo americano. Sem entender bem o que acontecia, estive em muitas reuniões no Centro Acadêmico da Faculdade de Filosofia Ciências e Letras de Araraquara. A palavra de ordem era: fora USAID. Essa revolta se tornou cada vez mais intensa, e o governo militar rompeu o acordo em 1971. Mas a influência da USAID no país seguiu em outras áreas.

De combatente do comunismo a promotora do globalismo

Se nos anos 1960 a USAID ajudava a fortalecer governos anticomunistas, nos anos 1990 ela mudou de foco. Sem o comunismo como principal inimigo, os EUA passaram a usar a agência para promover pautas progressistas.

A USAID financiou ONGs focadas em direitos humanos, feminismo, questões LGBT, meio ambiente e imprensa independente. A esquerda, antes crítica, começou a apoiar sua atuação. Já a direita passou a acusá-la de interferência política e de desestabilização de governos conservadores.

No Brasil, a USAID foi associada a financiamentos para ONGs ambientais e movimentos indígenas na Amazônia. Sua atuação virou alvo de críticas, principalmente de setores alinhados ao governo Bolsonaro.

Trump e o fim da USAID

Esse cenário mudou drasticamente com Donald Trump. Durante seu primeiro mandato, ele cortou grande parte dos financiamentos da agência, alegando que os EUA não deveriam gastar bilhões em causas externas sem retorno direto.

Agora, no segundo mandato, Trump anunciou o fechamento definitivo da USAID, decisão comemorada por Elon Musk, que comanda o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE). Musk chamou a agência de “ninho de víboras”, acusando-a de ser um instrumento de ativismo político globalista.

O fechamento da USAID marca o fim de um ciclo. Criada para combater o comunismo, depois transformada em fomentadora do progressismo global, e agora desmantelada pelo conservadorismo americano, sua trajetória reflete a maneira como os EUA moldam sua política externa conforme seus interesses de turno.

O fim da USAID é definitivo?

A história nos mostra que essas mudanças são cíclicas. Se hoje Trump extingue a USAID, amanhã outro governo pode criar uma nova agência com objetivos semelhantes, sob outro nome e uma nova bandeira.

Assim como o MEC-USAID refletia o contexto da Guerra Fria, a USAID recente refletia a globalização progressista. Agora, o pêndulo se move novamente. O que virá depois? Se há algo previsível na política, é que nada é definitivo. Siga pelo Instagram: @polito