Um dilema nacional: petróleo ou proteção?

O Ibama autorizou a Petrobras a avançar para a etapa de simulações de emergência, na bacia da Foz do Amazonas. A medida faz parte do Plano de Proteção e Atendimento à Fauna Oleada, que prevê a criação de um centro de reabilitação de animais em caso de vazamentos de óleo — condição técnica necessária para a estatal seguir no processo de licenciamento ambiental. Apesar da autorização, o órgão ambiental ressaltou que a licença para perfuração ainda não foi concedida. Antes disso, a empresa deverá passar pela Avaliação Pré-Operacional (APO), que incluirá simulações práticas e vistorias para avaliar a efetividade dos procedimentos de contenção e mitigação de impactos. A liberação reacendeu uma disputa que já dividiu ministérios, cientistas e ambientalistas. De um lado, o governo federal — com apoio do Ministério de Minas e Energia e da própria Petrobras — argumenta que a região é uma nova fronteira estratégica para a produção de petróleo no país, com potencial semelhante ao da Guiana, onde grandes reservas já são exploradas. A expectativa é de geração de empregos, royalties e investimentos bilionários, especialmente em áreas historicamente carentes da Região Norte. De outro lado, ambientalistas alertam que o risco é alto demais. A Foz do Amazonas é uma área de altíssima biodiversidade, com ecossistemas únicos, pouco estudados e espécies ameaçadas. Qualquer vazamento pode ser desastroso.
Carlos Bocuhy, presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), foi categórico: “Estamos vivendo o absurdo da burocracia que viabiliza insustentabilidade. A aprovação de um hospital para animais atingidos pela exploração de petróleo permitirá pesquisa para perfuração e extração em área de alta vulnerabilidade ambiental.” Para Bocuhy, o centro de atendimento à fauna é uma medida paliativa, incapaz de conter os verdadeiros danos de um possível acidente ambiental. “Se o desastre ocorrer, como no Golfo do México ou no Alasca, o equipamento para socorrer uma ínfima parte da fauna já estará pronto. Mas isso não evita a tragédia. Basta lembrar o vazamento que atingiu o litoral do Nordeste para ver como esse tipo de resposta é frágil.” A Foz do Amazonas, ao mesmo tempo em que atrai os olhos do setor energético, desafia o país a fazer escolhas estruturais. A pressa por explorar petróleo pode comprometer um ecossistema que leva milhares de anos para se formar — e segundos para ser destruído.