UNCTAD aponta avanços do Brasil na adoção de IA, mas destaca lacunas em infraestrutura e formação de talentos
A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) publicou, em 7 de abril, o relatório Technology and Innovation Report 2025, que analisa a preparação dos países para adoção da Inteligência Artificial (IA) de forma inclusiva e sustentável. O Brasil aparece como um dos países em desenvolvimento com desempenho acima da média no índice de prontidão para novas tecnologias, ocupando a 38ª colocação entre 170 economias avaliadas.
No índice, o Brasil obteve pontuação total de 0,74, o que representa um avanço em relação à edição anterior do relatório, quando estava na 40ª posição. Os três primeiros colocados no ranking global são Estados Unidos (1,00), Suécia (0,97) e Reino Unido (0,96). No recorte latino-americano, o Brasil lidera com folga, à frente de Chile (0,70), Uruguai (0,67), Argentina, México e Colômbia (todos com 0,63).
Segundo a UNCTAD, o Brasil destaca-se por políticas públicas voltadas à inclusão digital e à expansão da conectividade em áreas remotas. Essas iniciativas são consideradas relevantes para permitir o uso de IA em setores como agricultura, manufatura e saúde. No entanto, o relatório observa que ainda há carência de infraestrutura avançada, como data centers de alto desempenho, e escassez de investimentos direcionados à inovação em tecnologias emergentes.
O documento também menciona que o Brasil possui mais de 4 milhões de desenvolvedores na plataforma GitHub, o que indica massa crítica de talentos. Apesar disso, aponta que essa força de trabalho ainda carece de capacitação especializada para atuar na criação de soluções com alto valor agregado em IA. A estratégia nacional de IA, lançada em 2021, é citada como uma das iniciativas que podem ampliar o potencial de desenvolvimento tecnológico, desde que haja articulação entre governo, academia e setor produtivo.
Oportunidade gigantesca
O relatório estima que o mercado global de IA crescerá de US$ 189 bilhões em 2023 para US$ 4,8 trilhões em 2033, o que representa um aumento de 25 vezes em uma década. Nesse cenário, a IA deve se tornar a principal tecnologia de ponta, passando de 7% para 29% de participação no mercado global de tecnologias emergentes. Ainda assim, a UNCTAD alerta que os benefícios tendem a se concentrar nas grandes economias. Apenas 100 empresas, principalmente dos Estados Unidos e da China, respondem por 40% do investimento em P&D em IA, 60% das patentes registradas e um terço das publicações científicas na área.
A organização também prevê que a IA impactará 40% dos empregos no mundo, com os países desenvolvidos mais expostos, porém também mais preparados para capturar os ganhos em produtividade. Entre as economias avançadas, 33% dos postos de trabalho estão potencialmente expostos à automação, mas 27% poderiam ser aprimorados por tecnologias baseadas em IA.
Para o setor de telecomunicações, a UNCTAD destaca que o avanço da IA depende de redes robustas, serviços de cloud computing e maior capacidade de armazenamento e processamento de dados. Isso reforça a necessidade de investimentos em conectividade, inclusive por parte de operadoras e provedores regionais, tema presente em diversas discussões recentes sobre redes neutras, infraestrutura de fibra e leilões de espectro.
Por fim, a UNCTAD defende que estratégias nacionais para IA devem priorizar infraestrutura, dados e formação de competências. Recomenda, ainda, o fortalecimento da governança global, com participação mais ampla de países em desenvolvimento nos fóruns internacionais sobre regulação da tecnologia.
O relatório confirma percepções locais. “O investimento em IA responsável é condição para o avanço da tecnologia. Do ponto de vista jurídico e regulatório, precisamos criar entendimentos e marcos normativos que atribuam segurança jurídica e incentivo às atividades essenciais de treinamento e validação de modelos de IA, que passam, necessariamente, pela possibilidade de acesso a uma diversidade relevante de dados. Só assim a IA entende o contexto social que o cerca e se torna capaz de produzir outputs que sejam considerados éticos e socialmente aceitáveis”, comenta Luis Fernando Prado, sócio do escritório Prado Vidigal Advogados e conselheiro da Associação Brasileira de Inteligência Artificial (Abria).
O relatório da UNCTAD na íntegra, em inglês, está aqui.
O post UNCTAD aponta avanços do Brasil na adoção de IA, mas destaca lacunas em infraestrutura e formação de talentos apareceu primeiro em TeleSíntese.