Com apoio do Itaú, Zup aposta em IA para transformar grandes corporações em “challengers”

Marcos Bonas, Zup

A Zup, empresa de tecnologia controlada pelo Itaú Unibanco, quer ajudar grandes organizações a desafiar a si mesmas. Em entrevista ao IT Forum, Marcos Bonas, vice-presidente de engenharia, arquitetura, marketing e vendas da companhia, defende que o segredo para inovar em escala está menos na tecnologia e mais na cultura das corporações.

“A gente acredita que toda incumbente hoje deveria se transformar em uma challenger. É a única forma de sobreviver num mundo que muda todo dia”, afirma Bonas. Para ele, o avanço da inteligência artificial exige das empresas não apenas adoção de ferramentas, mas uma mudança estrutural na forma como operam.

Na Zup, essa transformação começou há três anos, com a aposta em IA generativa aplicada ao desenvolvimento de software. A empresa criou a StackSpot AI, uma plataforma que permite criar e orquestrar agentes inteligentes treinados para tarefas específicas — do jurídico ao RH, da engenharia à administração.

Hoje, 30 mil usuários usam a ferramenta, sendo 30% deles de áreas não técnicas. “A gente nasceu com esse DNA de inovação. Em oito anos, crescemos de 100 para 3.500 pessoas, e a empresa se reinventa a cada ciclo. É o que nos permite antecipar tendências”, diz o executivo.

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IA no centro do negócio

A plataforma da Zup começou voltada para desenvolvedores, mas ganhou adesão de outras áreas à medida que se mostrou útil para automatizar processos, eliminar tarefas repetitivas e reduzir erros. Segundo Bonas, o uso disseminado da IA se tornou parte do dia a dia da companhia. “Somos AI-driven e AI-core. Usamos IA em tudo e também construímos IA para o mercado”, diz.

Internamente, o desafio foi cultural. “Tivemos que convencer especialistas a usarem IA quando os modelos ainda estavam no começo, com muitas limitações e respostas pouco confiáveis. Mas insistimos no uso como forma de aprendizado, para entender o que funcionava e o que não funcionava”, afirma.

Segundo ele, o StackSpot AI processa atualmente cerca de 1,2 milhão de prompts por mês e já registra mais de 400 agentes criados. A plataforma, que pode ser testada gratuitamente, também tem sido usada por clientes como o próprio Itaú — que co-desenvolveu parte da solução.

Da cultura ao produto

A relação com o maior banco privado do país é descrita como parceria estratégica. “O Itaú tem uma estrutura técnica muito forte, investe em temas como computação quântica e nos desafia constantemente. Co-criamos produtos com eles e validamos a StackSpot em um ambiente de alta complexidade”, diz Bonas.

O executivo avalia que o maior obstáculo à inovação em escala nas grandes empresas está na integração entre áreas e no engajamento da liderança. “Se o CEO fala para usar IA sem explicar o porquê, não adianta. Tem que haver um processo de convencimento, treinamento, espaço para erro e responsabilidade.”

Segundo ele, o papel da Zup vai além da entrega de tecnologia: é também apoiar os clientes na transformação cultural. “Tecnologia a gente ensina, tem trilha, hackathon. O difícil é mudar o jeito de pensar. E isso começa na alta liderança.”

Próximos passos

Com mais de 20% de ganho de produtividade em ambientes altamente regulados, a empresa agora aposta em agentes proativos (sistemas que não apenas reagem a comandos, mas que observam padrões e sugerem melhorias em tempo real).

“A próxima geração de agentes vai trabalhar em segundo plano, detectando problemas antes mesmo que o usuário perceba. É isso que estamos estudando”, diz.

Sobre planos de expansão, Bonas não revela metas específicas, mas indica crescimento de dois dígitos e uma estratégia voltada para a consolidação da StackSpot como plataforma central da Zup. “Não sabemos o que é médio prazo hoje em dia. Pode ser um ano, pode ser seis meses. Mas sabemos que o caminho é a plataformização com governança e segurança.”

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