13 países que dizem muito sobre o rumo dos Brics
Nascido como uma ideia em um artigo científico e englobando apenas quatro países, Brasil, Rússia, Índia e China, o Bric logo teria um acréscimo no início de sua existência em 2010, incluindo também a África do Sul, que representaria o continente com mais rápido crescimento demográfico do mundo. Então, com cinco países membros, os renomeados Brics passariam 14 anos realizando cúpulas para intensificar o comércio bilateral e multilateral entre os participantes, além de dividir experiências valiosas adquiridas e aprendidas em suas sociedades sendo nações de população expressiva e crescimento econômico promissor. Em grande parte de sua vida os Brics foram o que nasceram para ser, uma aliança econômica visando a ampliação de mercados entre seus membros, e de fato, conseguiu progredir e ter resultados perceptíveis nas balanças comerciais de seus países.
Eis que chegamos em 2023, ano extremamente tenso na geopolítica global e com fortes realinhamentos e reagrupamentos no aspecto econômico, ideológico e até mesmo militar. A guerra da Ucrânia intensificada em 2022, isolou de vez a Rússia do mundo ocidental, fazendo com que os Brics se tornassem muito mais importantes para os russos do que tinham sido até o momento, como uma forma de mostrar ao resto do planeta que ainda possuíam amigos. As tensões no estreito de Taiwan e na península coreana têm a China como protagonista em um caso e relevante coadjuvante no outro, por isso mesmo aumentar a relevância de um grupo que lidera, também se tornou estratégia vital para a política externa chinesa.
Em um caminho semelhante, tanto Brasil, quanto Índia, também perceberam a projeção e expectativa criada ao entorno dos Brics para representar uma nova forma de governança global, tornando-se interessados na ampliação do grupo. Exatamente por isso, a 15ª cúpula do bloco em agosto de 2023 anunciou a primeira grande expansão, convidando seis novos países, por razões distintas, para sua inclusão. Dentre estas seis nações, quatro aceitaram o convite e já figuram como membros plenos na cúpula de 2024.
O Egito sendo um gigante no continente africano com mais de 100 milhões de habitantes e influente no mundo árabe, já faz parte dos Brics, assim como seus colegas africanos da Etiópia, igualmente importantes na África oriental com mais de 100 milhões de pessoas em sua população. Um convite polêmico, mas compreensível no aspecto econômico foi feito ao Irã, que isolado de grande parte do mundo por sanções, aceitou prontamente a oferta. No mundo árabe temos a inclusão dos Emirados Árabes Unidos, nação moderna e bem relacionada tanto com Ocidente, quanto com o Oriente, além do convite, ainda não aceito em sua plenitude, à Arábia Saudita.
Por fim, representando a América Latina, houve um convite formal à Argentina, que inicialmente respondeu de forma positiva sob o comando do presidente Alberto Fernandez, mas revisto e rejeitado após a vitória do incumbente Javier Milei. No período pós expansão muitos criticaram a inclusão de tantas ditaduras, argumentando que por mais que o objetivo do grupo seja majoritariamente econômico, é impossível não notar um padrão nas semelhanças de modelo político adotado pela, agora maioria, dos países membros.
Durante todo esse ano, muito se discutiu sobre novas possibilidades de ampliação dos Brics, com muitas informações provenientes de Pequim e Moscou dizendo que ambos os países gostariam de uma expansão para até 30 nações. O Brasil, de maneira mais ponderada, cobrou critérios claros para a adição de novos países, mas mesmo não tendo uma resposta objetiva em relação a tais condições mínimas para a inclusão de novos membros, teve seu pedido acatado, quando hoje o presidente Vladimir Putin leu o nome dos novos países convidados, e eles não incluíam Venezuela e Nicarágua. A presença de Nicolás Maduro em Kazan de nada adiantou na defesa da causa venezuelana, também em busca de criar mais pontes em um novo período de isolamento, causado por fortes indícios de fraudes eleitorais cometidas nas últimas eleições presidenciais do país.
Se o pedido do Brasil foi atendido nesses dois casos, vemos que os pedidos de outros membros também foram escutados ao ser revelada a lista com os 13 nomes de convidados. Vale lembrar que são países incluídos em um convite formal a aderir ao bloco e que agora têm total independência para aceitar ou rejeitar a proposta dos BRICS. Na América Latina dois países constaram na lista lida por Putin, Bolívia e Cuba.
A Bolívia economicamente se mostra uma nação promissora principalmente para os chineses, já que possuem abundantes reservas de lítio e tantos outros minérios, além de gás natural. Incluir os bolivianos também foi desejo do presidente Lula, buscando ampliar a presença do bloco na América do Sul. Cuba, parece para muitos, ter sido escolhida apenas por critérios puramente político-ideológicos, sendo um país com economia singela e poucos recursos relevantes, teria maior peso midiático e simbólico em sua representação anti-ocidental do que qualquer outra coisa.
Partindo ao continente africano temos três nações invitadas, Nigéria, Uganda e Argélia. Os nigerianos representam a grande potência africana do futuro, sendo uma nação mais populosa que o próprio Brasil e com projeções para chegar a 400 milhões de pessoas até o final do século, também possui amplas reservas de petróleo o que faz a sua presença nos BRICS mais do que justificada. Havia o pedido para que mais uma nação árabe fosse adicionada e a escolha natural seria a Argélia, já que possui uma estrutura demográfica e social muito mais semelhante com os demais países emergentes do que as bilionárias nações árabes do Golfo.
Por fim, a pequena, mas populosa Uganda com seus quase 50 milhões de habitantes, é convidada pela sua posição geoestratégica no centro da África banhada pelo maior rio do continente, o Lago Victoria. Na Europa, como já havia sido antecipado pelos russos em 2023, o convite foi feito a Belarus, uma nação que espelha de maneira quase idêntica a política interna e externa do Kremlin e como uma extensão da própria Rússia, foi incluída a pedido do presidente russo. Ligando o Ocidente ao Oriente de maneira literal, a Turquia é mais uma nação transcontinental que pode fazer parte dos Brics no futuro, sendo um aliado extremamente estratégico por sua localização e influência, sendo inclusive o primeiro e único membro da OTAN a fazer parte dos planos do bloco que muitos esperam rivalizar com o Ocidente no futuro.
Na Ásia duas ex-repúblicas soviéticas e ricas em recursos minerais e energéticos, o Cazaquistão e Uzbequistão, têm seu convite confirmado pelos interesses russos e chineses mais uma vez. Até que chegamos ao sudeste asiático, até agora não representado no bloco, mas que pode contar com 4 membros em breve. A Tailândia, nação que sempre construiu pontes em sua diplomacia, a Malásia, rica em recursos naturais, além do Vietnã, país extremamente importante em sua produção industrial, e a Indonésia, a quarta maior nação do mundo em população.
Com esse breve resumo podemos ver que a maior parte das escolhas, se observadas do ponto de vista econômico e de ampliação da relevância para as principais macrorregiões do planeta, faz sentido. Caso a maioria aceite o convite e o comércio multilateral dentro dos BRICS se amplie, será extremamente benéfico em muitos setores, fazendo do Sul Global uma região mais próspera e competitiva em suas respectivas capacidades. Todavia, é novamente impossível olhar para essa lista anunciada hoje e não notar o mesmo padrão de 2023: não há nenhuma nação plenamente democrática entre os 13 convidados.
É verdade que são regimes que variam muito, desde uma das ditaduras mais antigas em funcionamento do mundo, Cuba, passando por autocracias de um homem só com Alexandr Lukashenko em Belarus ou Yoweri Museveni em Uganda, até democracias em estado crítico como a cada vez mais autoritária Turquia de Erdogan. De qualquer maneira, a mensagem que fica para o resto das nações de nosso planeta é que em um bloco, no qual com crescente frequência se discute política e antagonismo com o Ocidente, os Brics têm se tornado de forma mais evidente um grupo organizado de nações pouco ou nada democráticas. Nesse cenário, o nosso Brasil, se isola cada vez mais como uma das poucas vozes que falam em direitos humanos, estado democrático de direito e eleições livres e universais.