4 abordagens para empresas alcançarem uma ‘mentalidade aberta’, segundo a Sensedia

Kleber Bacili, Marcílio Oliveira, Sensedia

Negócios abertos, ou open business, no jargão em inglês, são mais conhecidos pelos exemplos encontrados no setor financeiro, mas deverão estar em todos os segmentos no futuro. E há várias formas de fazer isso, inclusive com APIs que não necessariamente disponibilizam dados para o público externo, mas para o público interno, ajudando a implementar uma mentalidade aberta e de maior colaboração.

Essa foi a mensagem passada por Kleber Bacili (CEO) e Marcílio Oliveira (CGO), cofundadores da Sensedia, na aberta do já tradicional APIX, realizado nessa quinta-feira (22) em São Paulo.

“Um posicionamento open tem muita mais a ver com mindset”, lembrou Oliveira. “A gente falava muito de open banking, mas nossa missão é que todos entendam que open business não é exposição pública de dados apenas, me transformar no Facebook.”

Segundo o executivo, mais da metade dos clientes da Sensedia usa APIs internamente, com o objetivo de construir soluções próprias e para públicos internos. Parte delas tem estratégias que conjugam APIs públicas e privadas, outra parte usa só privadas, ou só públicas.

“É um movimento muito mais comum do que a gente pensa. Tem a SulAmérica que usa APIs internas, expõe para clientes finais e para parceiros”, exemplifica. “Internamente, para agilizar uma arquitetura ágil, mais da metade usa.”

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Desde que a empresa foi fundada, em 2007, contou o CGO, e principalmente ao longo dos últimos 10 anos, em que o “movimento open” cresceu substancialmente, foram identificados quatro grandes ângulos que empresas abertas têm usado em suas estratégias de APIs. São eles: por indústria (industry-wide), negócios incorporadores (embedded business), jornadas interconectadas, e aberto vs privado (open vs private).

“Importante que a gente entenda que isso não é coisa de Vale do Silício, muito pelo contrário”, ressaltou o executivo, indicando que são todas estratégias viáveis.

Abordagem vertical

Segundo o executivo, pensar nos bancos e no sistema financeiro como principal exemplo do pensamento aberto nas corporações não é por acaso. Eles materializaram a ideia de que é possível abrir dados para o mercado sem “serem o Facebook”, mas sim “usando APIs para que os dados possam ser acessados por outras plataformas”, disse Oliveira.

No caso específico da indústria bancária brasileira, que é fortemente regulada, a abertura foi principalmente imposta pelo Banco Central, mas há exemplos desse movimento em outras indústrias, movidos por necessidades de mercado.

“O e-commerce é um bom exemplo disso. Quase todas as lojas de retail tem APIs abertas e se transformaram em marketplaces”, lembra Oliviera, citando empresas do setor de telecomunicações, que cada vez mais compartilham infraestrutura. Educação e logística também tem se movimentado nesse sentido.

A saúde é um capítulo a parte. Apesar da vontade do setor e de experiências de ambientes mais abertos, com dados compartilhados, o grande número de atores do setor (e de interesses) impede um movimento mais substancial. Para Marcílio, em conversa com o IT Forum, essa diversidade vai exigir regulação para que o Open Health realmente ocorra.

“O presidente do Banco Central já falou que talvez seja a próxima vertical a ser regulada”, lembrou o executivo. “São dados sensíveis, assim como um extrato bancário. E o ecossistema é muito grande. Além disso o movimento open favorece novos entrantes e as grandes empresas são ameaçadas, como foi no Open Banking. Eu acredito muito na regulação do open health.”

“Qual vai ser o próximo? Toda vez que o dado tiver valor relevante, se tende a ter um movimento aberto”, ressaltou.

Negócios incorporados

Outro exemplo bem comum é o financeiro, que tem tido serviços incorporados em uma série de outros por meio de APIs. “É o exemplo mais comum e fácil de entender”, disse Kleber Bacili. “Fazer com que empresas que não são bancos possam oferecer serviços financeiros para os seus clientes”.

O executivo deu como exemplo bancos como Topazio e o Original, que oferecem serviços financeiros a empresas de diversos segmentos há alguns anos. Esse último tem uma linha de negócios de banco como serviço desde 2019, atuando como “White Label”. A indústria de seguros também tem adotado essa estratégia.

Citando a administradora de pagamentos Cielo, Bacili contou o caso das máquinas da linha LIO, capazes de se tornar uma plataforma de serviços além do financeiro. “São mais de 250 apps construídos para rodar na máquina, podendo oferecer serviços de muito valor agregado para quem usa o POS.”

Jornadas digitais

Outra abordagem bastante comum atualmente é a das empresas que participam da jornada digital de outras empresas, não necessariamente as delas. “E hoje a maior parte das jornadas são digitais”, disse Oliveira, citando o exemplo da jornada da matrícula de uma criança na escola. “Posso fazer a matrícula do meu filho e na jornada aparecer um botão de financiamento estudantil”, exemplificou.

Outra jornada possível para “pegar carona” e citada pelo executivo é a de uma viagem. Enquanto o cliente programa suas próximas férias, poderia receber ofertas de seguro residencial, por exemplo, uma vez que a casa vai ficar alguns dias sozinha. Ou sugestões de passeios, de casas de câmbio etc.

“É fácil porque é sem atrito. Eu não estava pensando nessas coisas. Mas só é possível com dados abertos e APIs”, disse.

“A provocação é onde está o botão da sua empresa? Em que jornadas ele pode ser inserido?”, provou Kleber Bacili, no palco.

Aberto vs privado

Por último, Bacili citou clientes da Sensedia que resolveram não abrir dados para parceiros externos, mas tem obtido sucesso em adotar uma mentalidade aberta, usando APIs, mas apenas para clientes internos. Isso traz, segundo ele, possibilidade de aumentar a colaboração entre os times de uma companhia, além de aumentar a eficiência dos negócios e a transparência interna.

“Temos na carteira clientes que estão há muito tempo na jornada, criando e evoluindo APIs. Alguns têm centenas de APIs com milhares de desenvolvedores em áreas diferentes com objetivos diferentes. E com as dificuldades de entender e conhecer o que a empresa já tem”, resumiu ele. “A provocação é: embora essas APIs não vão ser abertas, como o pensamento aberto pode se aplicar dentro das empresas?”

Segundo Oliveira, a maioria dos clientes atuais da Sensedia adota APIs para públicos internos, às vezes conjugadas com estratégias internas, mas muitas vezes não.

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