5 perguntas para Marcos Fontoura, CTO da Stone, e autor do recém-lançado “Tecnologia Intencional”
O que artistas, bicicletas e cavalos têm a ver com inovação e transformação de carreiras? Foi a partir dessas inusitadas metáforas que Marcos Fontoura, CTO da Stone, escreveu o recém-lançado Tecnologia Intencional: como artistas, bicicletas e cavalos transformam carreiras e negócios, da editora Um Livro. Fugindo dos clichês, a obra, disponível também na Amazon, oferece uma abordagem disruptiva sobre o papel da tecnologia nas empresas de hoje.
Aclamada por Satya Nadella, CEO da Microsoft, a obra de Fontoura argumenta que a tecnologia precisa ser o centro da estratégia empresarial, impulsionada por propósito e criatividade. Combinando insights práticos e experiências acumuladas em gigantes como IBM, Yahoo, Google e Microsoft, o livro desafia os leitores a repensar como a inovação pode florescer em ambientes inclusivos e dinâmicos.
O IT Forum fez cinco perguntas ao executivo para entender o que realmente move a inovação e como ele mantém talentos excepcionais. Confira a seguir:
IT Forum – O que motivou você a escrever “Tecnologia intencional: como artistas, bicicletas e cavalos transformam carreiras e negócios” e como sua experiência nos Estados Unidos influenciou as ideias apresentadas no livro?
Marcos Fontoura – Minha vinda para a Stone como CTO, após uma carreira de mais de 20 anos nos Estados Unidos, foi motivada pelo desejo de transformar a cultura da empresa, de uma startup para uma big tech. Hoje, lidero um time de tecnologia com mais de 2 mil pessoas. Operar em larga escala, com uma equipe desse porte, só é possível com uma cultura de engenharia muito forte. Esse tem sido meu foco principal na Stone, e o livro surgiu justamente da vontade de compartilhar essa mentalidade, ajudando outras empresas e profissionais que buscam se desenvolver em liderança de tecnologia.
Além disso, decidi reverter minha parte da arrecadação do livro para a Fundação Estudar, que apoia a formação de jovens talentos no Brasil. Acredito fortemente que a tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para resolver problemas sociais relevantes, e o Brasil precisa de mais líderes nessa área. Enquanto nossos produtos e serviços geram impacto positivo no País, investir na formação de jovens também tem um efeito transformador. Uma carreira em tecnologia pode ser um caminho de ascensão social, beneficiando não apenas os profissionais, mas também suas famílias e comunidades.
IT Forum – Satya Nadella, CEO da Microsoft, mencionou que seu livro evita a retórica cansativa de lideranças anteriores. Quais aspectos da sua abordagem você acredita que são inovadores e como eles se aplicam ao cenário atual das empresas?
Fontoura – Atualmente, a tecnologia é tão complexa que ninguém consegue inovar sozinho, por melhor que seja. A colaboração é essencial para criar soluções inovadoras, e isso só acontece em um ambiente corporativo que incentiva e fomenta essa troca de ideias. Embora já existam muitos livros sobre colaboração, diversidade, inclusão e cultura organizacional, e outros tantos sobre gestão em tecnologia, acredito que “Tecnologia Intencional” se destaque por combinar todos esses temas de forma coesa. Na minha visão, eles são indissociáveis, o que influencia diretamente o impacto que podemos gerar nas empresas.
No livro, conto várias histórias nas quais a criação de um ambiente seguro, onde cada pessoa pode ser autêntica e trazer o seu melhor, resultou em inovação significativa. Acredito que foi essa abordagem – de ver cultura, diversidade e colaboração como motores centrais da inovação tecnológica –, que chamou a atenção do Satya Nadella como algo inovador e relevante para os desafios que as empresas enfrentam hoje.
IT Forum – Na obra, você fala sobre a importância de criar ambientes de trabalho inclusivos que fomentem a criatividade e a inovação. Quais estratégias você recomenda para líderes que desejam implementar essa cultura em suas organizações?
Fontoura – Esse é o ponto central do livro e é um desafio multifacetado que precisa ser abordado por diferentes frentes. Não adianta tentar resolver esse problema a partir de uma única perspectiva. Por isso, no livro, dedico vários capítulos para discutir diversos aspectos da criação de uma cultura inclusiva, desde a organização do time até os atributos de liderança.
Um aspecto frequentemente negligenciado, por exemplo, é a construção de plataformas reutilizáveis e o uso de ferramentas padronizadas de engenharia. Na obra, explico como a padronização de ferramentas não só melhora a eficiência, mas também promove a colaboração. Compartilho exemplos de como essa abordagem funcionou em projetos nos quais participei no Google e na Microsoft, onde o uso de ferramentas padrão permitiu que diferentes equipes colaborassem mais facilmente, gerando um impacto positivo no resultado.
IT Forum – Você também discute como atrair e manter talentos excepcionais. Quais são os principais desafios que as empresas enfrentam nesse sentido, e como a tecnologia pode ajudar a superá-los?
Fontoura – O maior desafio hoje é a competição por talentos excepcionais, os chamados desenvolvedores “10x” – aqueles que têm uma capacidade de produção desproporcional e que geram um impacto significativo dentro da organização. Esses profissionais, que eu chamo de “artistas”, no livro, são raros e muito valorizados, mas são essenciais para o sucesso de qualquer empresa de tecnologia.
No entanto, não basta apenas atrair esses talentos, é fundamental criar um ambiente onde todos possam entregar o seu melhor. Isso significa desenvolver as pessoas por meio de mentoria, oferecer as melhores plataformas e ferramentas e criar produtos que tenham impacto positivo tanto para os clientes, quanto para a sociedade. E, ainda, criar um ambiente onde todos se sintam motivados e inspirados a trabalhar, o que reflete na cultura da empresa como um todo. Você quer que as pessoas sintam que estão em um lugar tão bom que, como diz a música de Dominguinhos: “Olha, isso aqui tá muito bom. Isso aqui tá bom demais. Olha, quem tá fora quer entrar. Mas quem tá dentro não sai”.
IT Forum – Poderia compartilhar algum exemplo prático ou história pessoal que ilustre como a “Tecnologia Intencional” pode transformar um negócio e trazer uma vantagem competitiva?
Fontoura – Um exemplo que compartilho no livro é de quando fomos intencionais no uso de IA para entender a utilização de recursos no Azure, o serviço de nuvem da Microsoft. Ao entender melhor como os recursos computacionais eram utilizados, conseguimos gerenciar a nuvem em escala com menor custo e de maneira mais sustentável, reduzindo nossa pegada de carbono.
Havia diversas maneiras de abordar o problema, mas desde a formação da equipe até a construção da plataforma de IA, fomos muito intencionais em nossas escolhas. O resultado foi uma plataforma que trouxe um valor tremendo para a empresa, ajudando a otimizar a eficiência e reduzir custos operacionais. Esse projeto foi um dos mais desafiadores e gratificantes nos quais já trabalhei, e é um excelente exemplo de como uma abordagem intencional à tecnologia pode transformar um negócio.
Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!