Especial: IA PCs trazem computadores de volta ao jogo corporativo

Guercio, da Positivo; Oyama, da Qualcomm; Abraham, da HP; Cristiane, da Acer; Benatti, da Samsung; e Carvalho, da Dell. AI PCs

O mercado corporativo deverá viver uma grande transformação com a expansão dos chamados IA PCs, computadores equipados com inteligência artificial (IA). De acordo com o Gartner, os AI PCs representarão 43% de todas as remessas de PCs até 2025, em comparação com 17% em 2024, uma resposta das empresas por mais inteligência na ponta. Analistas apontam que este é um momento crucial para os novos PCs, impulsionado pela tendência de renovação do parque tecnológico modernizado durante a pandemia de Covid-19. A grande questão é: o mercado está com apetite para essa atualização agora?

O Gartner define PCs com IA como computadores com uma unidade de processamento neural (NPU) embarcada e utiliza essa classificação para suas previsões. PCs com IA incluem opções com unidades de processamento neural integradas aos sistemas Windows em ARM, macOS em Arm e x86 em PCs com Windows.

Rodrigo Guercio, diretor de produto da Positivo, acredita que essa nova geração de PCs representará o novo normal no ambiente de trabalho até 2026. Em conversa com o IT Forum, o executivo destacou o crescimento acelerado que a tecnologia de IA aplicada aos computadores corporativos deve experimentar nos próximos anos.
“Já temos hoje o hardware necessário, mas ele está em constante aprimoramento, assim como as plataformas de software que tiram proveito desse poder de processamento local”, afirma.

O executivo comparou a introdução das NPUs com a adoção do Wi-Fi nos computadores de gerações anteriores. “Hoje, ninguém pergunta se um PC tem Wi-Fi. A NPU deve seguir o mesmo caminho. Em poucos anos, será impensável ter um computador corporativo sem essa capacidade de IA embarcada”, disse Guercio.

Pedro Carvalho, diretor comercial da Dell Technologies no Brasil, enfatiza que o mercado está em um momento de transição. “Estamos nos preparando para essa mudança, mas o mercado ainda precisa de mais maturidade para entender as vantagens dos AI PCs”, pondera. Carvalho também ressalta que a Dell está focada em oferecer soluções completas que vão além do hardware, integrando a sustentabilidade e a segurança em toda a cadeia de valor.

Guercio explicou que os AI PCs permitem o processamento local de funcionalidades que antes dependiam da nuvem, aportando ganhos em segurança e velocidade. Isso é especialmente relevante para o ambiente corporativo, onde há uma crescente pressão por desempenho e proteção de dados.

Para Guercio, o maior impacto da chegada do AI PC é nas corporações, que verão um aumento considerável de produtividade com o uso de assistentes de IA capazes de simplificar tarefas do dia a dia. “Imagine um assistente que resuma e-mails, gere relatórios ou até faça o acompanhamento de reuniões automaticamente. Se você perder 15 minutos de uma reunião, por exemplo, o assistente já pode fornecer um resumo do que foi discutido”, explica.

Esses assistentes são apenas o começo, opina. “As soluções de IA vão além de correções de imagem ou ajustes no enquadramento de vídeo. Estamos falando de ferramentas que ajudarão a melhorar a gestão de tempo, a criação de documentos e até mesmo o alinhamento estratégico de decisões”, complementou o executivo da Positivo, explicando que o ganho imediato e mais palpável no momento está em imagens e vídeos, mas seu potencial é ainda maior.

Hardware volta ao protagonismo

Embora o mercado de AI PCs esteja em ascensão, Guercio pondera que o hardware já está à frente do software e retoma seu protagonismo na tecnologia. “Há uma corrida para que o software acompanhe o hardware, especialmente em áreas como segurança e produtividade. Estamos em um ponto de inflexão, em que o poder do hardware já está disponível, mas as aplicações ainda estão sendo desenvolvidas para tirar o máximo proveito disso”, afirmou.

Ele destaca que a Positivo tem trabalhado em colaboração com gigantes do setor de chips, como Intel, AMD e Qualcomm, para desenvolver plataformas capazes de atender a essa nova demanda. “Temos um centro de desenvolvimento em Taipei e, tanto na Ásia quanto nos EUA, estamos avançando nos testes dessas arquiteturas. Nosso objetivo é entregar ao mercado um portfólio completo de AI PCs”, assinala.

Questão de segurança

Com o cibercrime avançando na mesma proporção que as tecnologias, a segurança é uma das principais preocupações das empresas, e os AI PCs oferecem uma solução mais robusta nesse sentido. Com o processamento de dados ocorrendo localmente, há uma maior proteção contra vazamentos e um menor custo operacional.

“Quando pensamos em segurança, estamos falando de checagens constantes. As novas arquiteturas de IA possibilitam que as verificações sejam feitas com muito mais frequência e com maior profundidade, o que eleva o nível de proteção”, destaca Guercio.

Ele também menciona a importância da distribuição inteligente do processamento entre CPU, GPU e NPU, o que possibilita um uso mais eficiente de recursos, especialmente em tarefas críticas como criptografia de dados.

Mais autonomia e manutenção inteligente, como a TI ganha

Outro benefício é a melhoria na autonomia das baterias dos dispositivos e na gestão de consumo energético. Com o uso de IA, é possível otimizar o desempenho das baterias, aumentando sua durabilidade e permitindo um uso mais eficiente dos recursos, concordam os especialistas ouvidos pela reportagem.

Além disso, os AI PCs trazem uma novidade no quesito manutenção: o self-healing. “Esses dispositivos serão capazes de identificar problemas e se corrigirem automaticamente, sem a necessidade de intervenção física. Isso reduz o tempo de inatividade e aumenta a eficiência da TI nas empresas”, ressalta Guercio.

Matheus Benatti, gerente sênior da área de notebooks da Samsung Brasil, destaca ainda os PCs com IA como chave na estratégia para transformar a gestão de infraestrutura de TI, tornando-a mais eficiente, proativa e inteligente para os líderes da TI.

“Ao automatizar tarefas, analisar dados e prever problemas, esses dispositivos liberam os profissionais de TI para se concentrarem em atividades de maior valor agregado, como o desenvolvimento de novas soluções e a otimização de processos de negócios.”

IA que vem do chip

É inegável que um dos grandes motores dessa revolução é a evolução dos chipsets. Helio Oyama, diretor de Business Development da Qualcomm, destacou ao IT Forum que as novas plataformas da série Snapdragon X são projetadas para atender às exigências do mercado empresarial, em linha com o cenário atual.

“As plataformas Snapdragon X Series foram desenvolvidas para revolucionar a produtividade, trazendo mais eficiência para pontos cruciais aos usuários corporativos, como desempenho, eficiência energética e segurança”, afirma Oyama.

Ele ressalta que os processadores X Elite e X Plus suportam até 45 trilhões de operações por segundo (TOPS) em inteligência artificial, executando funcionalidades localmente sem a necessidade de depender da nuvem. “Essa capacidade de processamento local oferece mais privacidade e segurança dos dados corporativos”, garante.

Além de ganhos em segurança, Oyama destaca que o uso de AI PCs trará uma nova era de autonomia e manutenção inteligente para o mercado corporativo. “A Qualcomm projetou a NPU para ser extremamente eficiente em termos de consumo de energia, o que prolonga a vida útil da bateria e permite o uso ininterrupto dos dispositivos por mais de 20 horas com uma única carga. Isso é essencial para os executivos que dependem de alta performance em movimento”, diz ele.

A Intel também está forte nesta arena. A empresa anunciou, nos últimos meses, novidades para AI PC. Uma delas é o Gaudi 3. Fabiano Sabatini, gerente de contas e especialista em IoT da Intel para a América Latina, revela que um dos destaques do semicondutor está na questão da memória.

“No Gaudi 3, por exemplo, temos 128 GB de HBM, o que é fundamental para a criação e o treinamento de modelos. A eficiência no consumo de energia também é um ponto crucial: observamos uma melhora de 1,9 vez em relação ao concorrente, que trabalha com 8 bilhões de parâmetros. Além disso, ao comparar o desempenho por dólar, temos uma melhoria de quase 1,8 vez em relação à concorrência”, compara.

A escalabilidade do sistema Gaudi também é um diferencial importante, segundo ele. Com até 24 nós, é possível trabalhar com modelos robustos, tanto para inferência quanto para treinamento. “Aliado a isso, o ecossistema de software que suportamos já conta com integração a plataformas amplamente usadas, como PyTorch, e modelos como Lema 2 e Lema 3. Muitos clientes, incluindo os que utilizam IBM Cloud em Denver, já adotaram essa solução e estão realizando testes e provas de conceito para integrar às suas plataformas.”

Para o executivo, a vantagem do Gaudi está na flexibilidade que ele oferece em custo, performance e opções de implementação. “Para empresas que querem evitar o alto custo de licenciamento de soluções como as da Nvidia e que buscam um ambiente mais aberto, o Gaudi se apresenta como uma alternativa altamente competitiva, tanto em termos de desempenho quanto em eficiência energética.”

Em setembro, a Intel também lançou o Intel Core Ultra Série 2, prontos para IA, que a empresa definiu como “o melhor processador x86 de todos os tempos”.

Da mesma forma, a AMD está impulsionando o avanço dos AI PCs no mercado corporativo por meio do desenvolvimento de chipsets inovadores Com processadores como o Ryzen PRO Série 8000, as expectativas da AMD em relação à adoção de chipsets com capacidades de IA nos dispositivos corporativos são bastante positivas, conta Alfio Fioravanti, gerente de vendas corporativas na AMD Brasil.

“Milhões de PCs com Ryzen AI já foram comercializados pelos nossos principais OEMs, incluindo Asus, Acer, Dell Technologies, HP e Lenovo”, destaca. Esses dispositivos aceleram a produtividade e aprimoram a colaboração, mas também “permitem que a criatividade flua para usuários corporativos”, atendendo às diversas necessidades do mercado empresarial.

Hoje, no entanto, um dos maiores desafios enfrentados pela AMD não é a tecnologia do chip em si, mas educar as empresas sobre como implementar a IA em seus processos. Para superar esse obstáculo, a empresa mantém um contato próximo com os clientes, “oferecendo uma consultoria completa para mostrar como tecnologias como AI PCs podem revolucionar o dia a dia das empresas”.

Parceria com fabricantes e o futuro dos AI PCs

Outro ponto importante que liga a Qualcomm à evolução dos AI PCs é a parceria com fabricantes de dispositivos. Segundo Oyama, mais de 20 PCs equipados com os processadores Snapdragon X Elite e Snapdragon X Plus já foram anunciados globalmente por marcas como Acer, ASUS, Dell, HP, Lenovo, Microsoft e Samsung.

“O Lenovo ThinkPad T14s Gen 6, lançado no Brasil com o Snapdragon X Elite, já traz esses benefícios de IA embarcada para o mercado corporativo, consolidando o AI PC como o futuro dos negócios”, destaca.

Para o executivo da Qualcomm, no entanto, um dos desafios é promover a massificação e a escalabilidade dessa tecnologia. “Estamos atuando nessa questão expandindo a Snapdragon X Series além do X Elite, com o X Plus (de dez núcleos) e o X Plus 8-core (de oito núcleos) para atender a diversos públicos. A expectativa é de que o X Plus 8-core permita que os fabricantes ofereçam PCs Copilot+ na faixa de US$ 700 a US$ 900”, revela.

Lançamentos movimentam o mercado

Na Positivo, a era do IA PC chegou em janeiro deste ano com o Positivo Master N6445, que foca em produtividade e segurança com NPU para processamento local de IA, com processadores AMD Ryzen Séries 7040. O modelo se destaca por tecla dedicada ao Copilot, assistente de inteligência artificial do Windows.

A HP também está avançando nesse segmento. Abraham Hernandez, gerente de Categoria para Computadores Comerciais Latam da HP, aponta que a empresa identificou uma grande demanda por AI PCs em setores como saúde, bancos, arquitetura, engenharia e design, além de áreas emergentes como desenvolvimento de IA e ciência de dados. “Temos parcerias estratégicas com Intel, AMD, Qualcomm, Microsoft e NVIDIA, que nos ajudam a desenvolver soluções que integram IA ao hardware de alta performance”, destacou.

Na HP, são três os modelos de IA PCs disponíveis no mercado: série 400 até a Série 1000, equipados com processadores Intel e AMD; EliteBook Ultra G1, com processadores Qualcomm, voltado para alto desempenho, e a linha de Workstations, que atende a diferentes faixas de preço.

AI PCs: Positivo Master N6445 (à esquerda) e Galaxy Book4 360 (à direita)

AI PCs: Positivo Master N6445 (à esquerda) e Galaxy Book4 360 (à direita)

A Samsung segue a mesma linha. “PCs com IA, como a nossa linha Galaxy Book4, podem automatizar tarefas repetitivas, gerar insights a partir de dados e personalizar a experiência do usuário”, reforça Benatti, da Samsung.
De acordo com ele, a Samsung está intensificando seus investimentos em tecnologias digitais para oferecer soluções inteligentes aos consumidores, integrando a IA para aprimorar a tomada de decisões e a inovação.

Na empresa coreana, o destaque nesse segmento é o Galaxy Book4 Ultra, equipado com a CPU mais recente de até 16 núcleos, compatibilidade aprimorada com GPU e a nova NPU Intel, que proporciona um desempenho de IA 2,3 vezes superior. Com suporte a mais de cem aplicações e 300 recursos de IA em parceria com a Intel ISV, o dispositivo oferece processamento de IA mais rápido e eficiente em termos energéticos.

Além disso, a Samsung enfatiza a segurança da informação por meio do Samsung Knox, um sistema que protege dados com verificação constante do kernel e um chip de segurança.

Ontem (3/10), a Acer lançou seu PC equipado com IA. O Swift 14 AI PCs, com processadores Snapdragon X Plus e X Elite, são voltados para amantes de tecnologia, criadores de conteúdo, profissionais e estudantes, oferecendo uma experiência otimizada e produtiva. “Em breve devemos anunciar o lançamento de outros modelos de AI PC. Essa é uma tendência daqui para frente e vai estar cada dia mais presente no nosso portfólio”, adianta Cristiane Ramos, head de Produtos da Acer, sem, no entanto, entrar em detalhes.

Para atender ao mercado brasileiro, a Acer desenvolveu um modelo de negócios exclusivo, alinhado às necessidades locais. Esse plano abrange desde a fabricação local de produtos até soluções de locação e serviços altamente customizáveis, fatores que a empresa acredita serem cruciais para competir em um segmento dominado por grandes players.

Já a Lenovo quer lançar quatro notebooks da linha ThinkPad até o final do ano, considerando apenas produtos com mais de 40 TOPS da Nova Geração de PCs com Inteligência Artificial (NGAIPC), segundo Leandro Lofrano, diretor de produtos para o mercado corporativo da Lenovo Brasil.

A empresa anunciou recentemente o ThinkPad T14s com processador Snapdragon X Elite. “É o primeiro PC para empresas com IA da próxima geração da Lenovo, e marca um salto significativo no domínio dos PCs embarcados com IA para uso comercial. Ele oferece novos avanços de personalização na computação pessoal, em que o processamento local de tarefas inteligentes baseadas em software e maior produtividade, criatividade e segurança dá a esses NGAIPC a combinação para oferecer uma experiência totalmente nova na interação com PC”, conta ele.

Carvalho, da Dell, destaca que nos últimos meses, a gigante de tecnologia norte-americana renovou suas linhas de notebooks Latitude com IA e workstations Precision, trazendo ao mercado brasileiro modelos focados em desempenho, portabilidade e sustentabilidade.

A Série 7000 destaca-se com o Latitude 7450, disponível em versões com construção em alumínio ou magnésio ultraleve, pesando 1,07 kg. Equipado com processadores Intel Core Ultra 5 e 7, o notebook oferece desempenho em um design premium, incluindo recursos como touchpad colaborativo para facilitar videoconferências e telas com resolução de até QHD+ no formato 16:10. Pela primeira vez, modelos fabricados no Brasil contam com conectividade 5G.

Já a Série 5000 apresenta os modelos de 13” (5350) e 14” (5450), também equipados com processadores Intel Core Ultra 5 e 7. Conhecidos pela versatilidade e alto desempenho, esses dispositivos possuem construção metálica e recursos avançados de colaboração, como câmeras Full HD com redução de ruído.

O Latitude 5350 2 em 1 de 13” é um dos destaques, oferecendo flexibilidade entre notebook e tablet. Além disso, a série reforça o compromisso com a sustentabilidade, utilizando baterias feitas de cobalto reciclado. As configurações permitem até 64GB de RAM e 1TB de SSD, com telas Full HD no formato 16:9.

A Série 3000 foi atualizada para oferecer excelente custo-benefício para uso corporativo, com modelos de 14” (3450) e 15” (3550). Equipados com processadores Intel Core i3, i5 e i7 de 13ª geração e Intel Core Ultra 5, eles contam agora com memórias DDR5. Melhorias incluem câmeras Full HD compatíveis com Windows Hello para reconhecimento facial e conectividade atualizada, como portas HDMI, DisplayPort 2.0 e USB 4 nos modelos com processadores Intel Core Ultra. A Dell também anunciou novas workstations Precision focadas em alto desempenho com processadores Intel de última geração.

O executivo explica que na era da IA PC, a Dell tem abordagem que vai além da simples venda de hardware. “Não fazemos uma venda operacional. Nossos produtos têm uma cadeia de supply chain sustentável, e a nossa vantagem é que oferecemos sustentabilidade. Após a compra, temos um processo de deployment eficiente, em que o usuário abre a caixa, insere usuário e senha e já começa a trabalhar.”

O retorno do PC como peça central na experiência do usuário final é algo que a Dell tem destacado. “Ouvimos que o PC vai morrer há uns 15 anos, mas o que estamos vendo é o contrário”, explica. “Agora, o PC voltou a ser o mais importante para o usuário”, finaliza.

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