Cristiane Gomes, da CCR: “Nossa mentalidade é de ser digital em primeiro lugar”
Desde a chegada de Miguel Setas, em março de 2023, à posição de diretor-presidente, a CCR tem passado por uma reestruturação de suas operações. O objetivo da organização continua o mesmo – cuidar da mobilidade das pessoas, seja em rodovias, aeroportos ou na mobilidade urbana. A forma de alcançar esse objetivo, no entanto, está se transformando, e a tecnologia é uma das protagonistas desse processo.
Até o ano passado, a CCR operava com uma TI voltada para temas tradicionais, como infraestrutura, cibersegurança e arquitetura. Agora, pela primeira vez, a organização implementou uma diretoria de Tecnologia e Digital no ano passado. A decisão simboliza o desejo de ter a tecnologia não apenas como suporte ao negócio, mas como parte integral da estratégia.
“O papel da tecnologia dentro da estratégia da CCR é de habilitadora. Nossa área se transformou em uma área mais abrangente”, contou Cristiane Gomes, diretora dos times de Tecnologia e Digital da CCR., em entrevista ao IT Forum. “Estamos trabalhando com uma mentalidade digital first, mesmo sendo uma empresa de infraestrutura com muitos ativos”.
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A visão é clara: a CCR nunca deixará de ser uma empresa que opera ativos físicos, mas a tecnologia é um caminho não apenas para tornar sua gestão mais eficiente, mas para torná-los mais seguros e oferecer uma melhor experiência de uso para clientes finais. A longo prazo, a companhia busca consolidar também a inovação como um dos pilares de sua atuação.
O ano de 2024 foi fundamental para essa virada. Ao longo dele, a companhia não só passou por uma reorganização interna na TI, mas também investiu pesado em tecnologia para digitalizar ainda mais suas operações. No total, mais de R$ 500 milhões foram investidos pela empresa em tecnologia ao longo do ano, incluindo o uso de big data e analytics, a aplicações de inteligência artificial e modernização do parque tecnológico, com incremento da capacidade de servidores e de nuvem.
Essa reformulação – e o investimento relevante em tecnologia – são partes cruciais para atingir as metas de eficiência operacional do Grupo CCR. A empresa tem como meta reduzir a relação Opex Caixa / Receita Líquida para 38% até 2026 e 35% até 2035, conforme previsto na Ambição 2035, plano estratégico de longo prazo da Companhia.
Novas tecnologias em ação
São diversos os projetos de tecnologia já em ação dentro da CCR. Um dos exemplos é o uso de drones e sistemas de inteligência artificial para a manutenção preventiva de viadutos e rodovias de grande escala. O monitoramento, que antes precisava ser feito por profissionais alpinistas, hoje é mais rápido e seguro com os novos sistemas automatizados.
“A manutenção reativa é aquela que conserta depois que algo quebrou. Isso gera um transtorno tremendo e um custo elevado. Então, queremos gerar eficiência operacional para o negócio e redução de custo”, explica Cristiane. “Os drones também são capazes de captar dados e imagens que conseguimos aplicar aos algoritmos para montar um plano de manutenção”. O mesmo modelo está sendo utilizado para a manutenção de trens.
O cliente final também está sendo impactado positivamente. No ano passado, outra ação adotada pela empresa foi a implementação de Wi-Fi gratuito em todas as estações da Linha 8 e Linha 9 dos trens metropolitanos de São Paulo, como parte da Via Mobilidade. Em todos os 15 aeroportos conquistados pela organização no leilão federal de 2021, a CCR também está na fase de implementação de novas tecnologias para a melhoria dos terminais.
Esse passo é visto como um impacto positivo para a experiência do cliente e, futuramente, como uma nova oportunidade de receita. Hoje, cerca de três milhões de pessoas passam todos os dias pelas estações de metrô, trens e barcas operadas pela CCR, o que faz da empresa um ponto de contato importante no cotidiano de muitos.
“Através desse ecossistema, podemos oferecer algo que vai além dos serviços que já prestamos. Isso pode trazer novas avenidas de receita e até negócios adjacentes. Isso também é um foco estratégico desse investimento”, afirma.
A CCR implementou ainda uma série de iniciativas estruturantes, em paralelo a essas ações, para criar as fundações necessárias para sua estratégia digital first – com atenção especial à robustez dos dados. Isso incluiu a criação de uma nova diretoria dedicada à governança, engenharia e arquitetura de dados, além do desenho de um roadmap de evolução contínua. “Se os dados não estão organizados, nós não temos nada”, aponta Cristiane.
Transformação orientada por pessoas
A estratégia de virada digital da CCR não depende apenas da adoção de tecnologia. Segundo a diretora de TI e Digital da empresa, as pessoas também são fundamentais para o sucesso do plano de transformação. No ano passado, mais de 60 posições especializadas em tecnologia foram abertas para a nova composição do grupo.
“A partir do momento em que passamos a pensar em como o digital pode fazer a diferença para um ativo físico, isso se torna uma motivação muito grande para os times de tecnologia”, conta a executiva, que vê na transformação digital da CCR uma oportunidade nova de engajamento de times.
Os ganhos de eficiência gerados pela adoção de novas tecnologias pela companhia já têm impactado positivamente as equipes de back office, por exemplo. Agora, elas não precisam estar mais tão próximas do planejamento de manutenção de ativos, e têm mais tempo dedicado a novos projetos.
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A implementação de novos programas de upskilling e reskilling para o desenvolvimento interno de talentos também foi um foco, em pareceria com a Accenture. A empresa firmou parcerias com organizações como a SPTech e FIAP para atração de profissionais da área, convidando alunos a experimentarem projetos implementados pela empresa ao longo do ano.
“Esse trabalho voltado para dentro, com o desenvolvimento de pessoas, e para fora, tem a ver com desenvolver a CCR como uma marca empregadora de tecnologia. É uma modernização com foco em melhorar a vida das pessoas”, diz Cristiane.
Outra ação realizada ao longo do ano foi um processo de “letramento digital” para evoluir a estratégia digital internamente. “Começamos pelo top level para conscientizar a todos sobre o que é ser um negócio digital”, contou. “Isso continuará para outras camadas no próximo ano”.
Próximos passos da CCR
O ano de 2025 também promete ser importante para as equipes de tecnologia da CCR. Uma das principais ações previstas é a expansão do chamado free flow para a região metropolitana de São Paulo. O projeto, que permite a cobrança automática de pedágio sem que o motorista precise passar por uma cancela na estrada, começou pela BR-101, mas agora será expandido para uma área de maior densidade.
“Estamos na fase final de testes. Todo o desenvolvimento, software e back office é nosso. Vamos colocar em operação já no primeiro trimestre, e esse é nosso grande projeto quando falamos de Rio-SP”, conta.
Até 2026, a organização também tem a meta de não operar mais com dinheiro em suas praças de pedágio, migrando para o modal de autoatendimento. Neste ano, o projeto para migração das mais de mil pistas de pedágio operadas pela CCR no Brasil deve acelerar, incluindo não apenas o trabalho de tecnologia, mas também campanhas de conscientização da população sobre a mudança.
Por fim, a inteligência artificial generativa também estará no radar da CCR. De acordo com Cristiane, no entanto, a tecnologia está em fase interna “deliberativa”. Múltiplos projetos são previstos pela companhia para 2025, mas a executiva ainda não compartilhou detalhes sobre a iniciativa. “Vamos dar sequência a essas ações para poder trazer o digital e a IA para dentro dos negócios. Tudo vai acontecer agora, em 2025”, anotou.
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