‘A falta do hábito da leitura pode nos levar ao desastre’, alerta especialista sobre pesquisa realizada no Brasil

Durante uma reunião na escola da minha filha de 11 anos, percebi a preocupação dos professores que afirmaram que o maior desafio de hoje é fazer com que essa geração saiba ler e interpretar textos. Com o avanço da era digital, as pessoas se distanciaram do hábito de leitura e isso tem seu preço. Ao me deparar com a história de Andréia Roma, CEO da Editora Leader, que, ao crescer em um cenário humilde recortava revistas para fazer suas próprias cartilhas (na tentativa de já criar livros), percebo como o propósito de vida faz diferença na evolução humana e de todos a seu redor.

Filha de pais analfabetos, a executiva que hoje é também idealizadora do Selo Editorial Série Mulheres e presidente do Instituto Série Mulheres trava uma batalha dia após dia: a de incentivar a leitura em um país repleto de contrastes. De acordo com a 5ª edição do estudo “Retratos da leitura no Brasil” realizada pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, cerca de 52% dos brasileiros mantêm o hábito de leitura, porém, o país perdeu cerca de 4,6 milhões de leitores nos últimos anos. Enquanto o brasileiro lê somente quatro livros por ano, o canadense lê doze, ou seja, nosso índice anda abaixo da média. O que isso acarreta? Muitos problemas. “A falta do hábito de leitura pode levar a consequências desastrosas. Como terapeuta comportamental, observo que a leitura é uma ferramenta fundamental para o desenvolvimento intelectual, emocional e cultural das pessoas. A leitura expande horizontes, estimula a criatividade, a imaginação e a empatia. A ausência desse hábito pode limitar a capacidade de adquirir conhecimento, dificultar a expressão escrita e oral, e diminuir a capacidade de compreensão e análise de informações. Além disso, a leitura também desempenha um papel importante na saúde mental, oferecendo uma forma de escapismo saudável e relaxamento”, ressalta Andréia.

Em resumo, o impacto dessa defasagem de leitura na aprendizagem é devastador. Vale lembrar que, segundo o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), que analisa estudantes entre 15 e 16 anos de 77 países, 50% dos brasileiros têm resultados nível 1 em leitura, na escala que vai de 1 a 5. “Ou seja, a compreensão média do brasileiro é literal e infelizmente se restringe a frases curtas e isso é alarmante. É claro que o brasileiro lê pouco se comparado a outros países por diversos motivos. Um dos fatores é a falta de incentivo e acesso à leitura desde a infância. Posso afirmar isso por ter crescido em um lugar humilde e com poucos livros. Lembro que eu fazia meus próprios livros com revistas e jornais velhos, além das cartilhas escolares que eram o presente da escola pública para mim. Ainda enfrentamos desafios relacionados à educação e à formação de hábitos de leitura desde cedo. Além disso, existem questões socioeconômicas, falta de tempo e excesso de distrações no mundo atual, que podem dificultar a dedicação ao hábito da leitura”.

Apesar de tantas dificuldades, inclusive econômicas já que assistimos ao fechamento de grandes livrarias em território nacional, o cenário editorial está em crescimento e mudança. “Podemos esperar uma contínua evolução em direção à digitalização e à adoção de novas tecnologias. Acredito que os e-books e audiolivros ganharão mais popularidade, proporcionando uma experiência de leitura mais flexível e acessível, porém os livros físicos não sairão de moda por muito e muito tempo ainda. Além disso, o mercado editorial deverá se adaptar às demandas dos leitores por conteúdo diversificado e relevante, explorando novos gêneros literários e abordando temas atuais. Cabe a nós, editoras, criar caminhos e promover a melhoria intelectual com projetos como a Ong Instituto Série Mulheres, que foi criada para atender às minorias com foco na educação e leitura, além de outras frentes”, conta a empresária.

Motivada a “pensar fora da caixa” desde cedo, Andréia criou também o Selo Editorial Série Mulheres, que é reconhecido em mais de 170 países no mundo. “O selo trouxe uma valorização nunca antes vista no mundo editoral para mulheres, primeiro porque todos os títulos dos livros são patenteados, a Editora Leader entende que cada mulher é única e com isso registramos todos os títulos de todos os projetos. Além disso, trouxemos a valorização a todas as áreas, que são mais de cento e cinquenta livros registrados, como: Mulheres no Conselho, Mulheres na Medicina, Mulheres ESG, Mulheres no Direito, dentre outros inúmeros títulos. O foco do selo é destacar o trabalho de profissionais talentosas com a valorização de suas histórias, cases e metodologias, incentivando a produção literária feminina, promovendo a igualdade de gênero no mundo editorial e oferecendo aos leitores uma ampla gama de histórias e perspectivas e é só um de nossos projetos, que abrangem também autores homens, claro, em outras frentes. Meu slogan já diz muito sobre o meu propósito de vida: um livro muda tudo e é por isso que trabalho, arregaço as mangas e faço acontecer mesmo em meio a dificuldades e não vou parar”, finaliza a CEO.

Mais do que um exemplo de superação, Andréia Roma nos traz uma reflexão, aliás, duas: você tem praticado o hábito de leitura? E a mais importante: você persegue seu propósito todos os dias? Pensa aí a respeito porque a resposta à segunda indagação pode ser a diferença entre ser feliz ou não. Eu corro atrás do meu propósito, que é traduzir em palavras informação de valor que pode mudar seu dia ou sua vida. Se consegui te fazer ler até aqui e parar pra pensar, já ganhei o dia!