A influência econômica da J&F não pode ser ignorada pelos Poderes

Joesley e Wesley Batista contrataram Ricardo Lewandowski para emitir pareceres na disputa bilionária da J&F com a Paper Excellence pela Eldorado Papel e Celulose. Nos bastidores do Judiciário, fala-se em contrato milionário, com pagamento de ‘luvas’ digno de craque de futebol. Mas o valor é o que menos importa. Lewandowski deixou a cadeira no Supremo Tribunal Federal há 1 mês e não deveria pular para o outro lado do balcão com tanta rapidez. Pega mal. Especialmente, porque saiu de sua caneta em dezembro passado a decisão que arquivou por prescrição processo em que o Tribunal de Contas da União cobrava do grupo R$ 670 milhões por irregularidades no empréstimo de R$ 2,5 bilhões que o BNDES fez em 2008 ao frigorífico Bertin, logo depois incorporado pela JBS. O próprio ministro havia suspendido a tramitação do caso em 2021.

O conflito de interesses parece mais flagrante que o alegado pelo TCU no caso da contratação de Sergio Moro pela Alvarez&Marsal, mas nem o procurador Lucas Furtado ou o ministro Bruno Dantas se manifestaram até o momento. Eles também não se mostraram interessados até agora na contratação de Cristiano Zanin pela J&F para tentar derrubar a multa de R$ 10 bilhões de seu acordo de leniência. Se o advogado de Lula for nomeado para o Supremo, o gordo contrato permanecerá no escritório que Zanin mantém com a mulher, Valeska Teixeira? Que influência o maior grupo de proteína animal do mundo terá sobre o eventual ministro em julgamentos de seu interesse? Zanin vai se declarar impedido nesses casos, assim como naqueles envolvendo Lula ou noutros 100 em que já atuou no STF ou nos mais de 550 que tem no STJ?

O exercício flagrante do enorme poder econômico da J&F não é algo que possa ser ignorado pela imprensa, pelo Judiciário ou o Senado. Inclusive pelo fato notório de que o concorrente direto de Zanin na disputa pelo Supremo é Manoel Carlos, indicado de… Lewandowski. Fica a impressão de que o mesmo grupo que, no passado financiou campanhas políticos de aliados e adversários para garantir ‘bom relacionamento’ com todos, agora o faz, direta e indiretamente, com os dois favoritos a uma cadeira na Suprema Corte brasileira.