Discussões da campanha eleitoral paulistana de 2024 ganharão dimensão nacional

Certa vez, recebi mensagem de uma grande empresária, por quem tenho enorme admiração. Ela é lulista assumida desde criancinha. Depois de ler um dos textos em que eu fazia críticas a Lula e a Bolsonaro, ela pedia gentilmente para que eu evitasse a polarização. Disse que era o momento de baixar a guarda, levantar a bandeira branca e viver em paz. Eu não disse nem que sim nem que não. Já escrevi cerca de 200 textos analisando principalmente as características da comunicação de Lula. E, por isso, conhecendo o presidente como conheço, sabia que ele não passaria mais de dois dias seguidos sem praticar seu esporte preferido: descer a lenha no antecessor. Não é que o petista queira brigar, ele não consegue viver sem brigar. Sim, porque o ex-presidente é Bolsonaro, seu maior desafeto. Mas, se não fosse, sua atitude não seria diferente. Basta nos lembrarmos do que Lula fez com Fernando Henrique Cardoso. Depois de ter recebido o país azeitado para iniciar seu primeiro mandato em 2003, sem motivos, passou a criticar seu antigo aliado. Durante oito anos repetiu a ladainha de que Fernando Henrique havia quebrado o país duas vezes.

Se agiu assim com aquele que era brother, imagine, então, o teor de seus discursos ao se referir ao mais recente ex-presidente. Desde que pisou no Palácio do Planalto pela terceira vez, não deu um minuto de trégua. Dia sim outro também Lula encontra algum meio de falar mal de Bolsonaro. E não é briguinha de rua não. Daquelas “cospe aqui se você for homem”. Não, o ataque vai da medalhinha para cima. Em iniciativa não muito prudente, pois se não der certo ficará desmoralizado, o presidente subiu em palanque ainda mais alto do que está acostumado e partiu na direção da jugular. Começou dizendo que a briga na eleição de São Paulo será entre Lula e Bolsonaro. Uma declaração arriscada, pois os petistas vivem cantando aos quatro cantos que o ex-presidente é um zero à esquerda, uma carta fora do baralho. Não teriam muito como explicar essa tese se Boulos não vencer as eleições.

Na sequência, ataques mais agressivos ao ex-presidente foram desferidos. Há poucos dias chamou Bolsonaro de “facínora” e “furacão do mal”. Mais ou menos dentro da linha adotada nos últimos anos, quando os adjetivos ao adversário caminharam por “genocida” e “miliciano”. Não sei se Lula refletiu bem, mas com essa atitude queimou as caravelas. Não terá como voltar para a casa, caso o inimigo seja mais poderoso que esteja supondo. A minha amiga empresária é inteligente e me prestigia com a leitura dos meus textos. Deve estar pensando que se enganou ao julgar que a beligerância era unilateral, que tinha origem apenas na direita. Polarização é isso. Há vantagens e desvantagens. Faz parte da vida. Ou não é assim também nos Estados Unidos e em todos os países desenvolvidos?!

Quem gosta de uma boa rinha deve estar esfregando as mãos para assistir de camarote a essa “luta do século”. São Paulo começa a se transformar na capital política do país. Os temas de campanha com a presença de Lula e Bolsonaro não se limitarão aos problemas da cidade. As discussões ganharão outras dimensões e abordarão principalmente as questões nacionais. Tudo o que foi discutido na campanha presidencial voltará à mesa de debate. Lula terá de dançar miudinho para neutralizar as acusações que receber, pois muitas das promessas que fez como candidato não foram cumpridas depois que se elegeu. Além das acusações que ele e Boulos receberão do candidato adversário, que até agora não está claro se será Ricardo Nunes ou Ricardo Salles, haverá um bombardeio nas redes sociais. As palavras ditas ontem ficam gravadas para sempre. Como dizem as tias do zap e os tios do churrasco: o print é eterno.

Portanto, não adianta tentar apagar o que foi dito ou desdizer o que foi afirmado, pois sempre haverá alguém para mostrar as provas de que o discurso foi aquele, muito diferente do que a nova campanha tenta mostrar. Essa disputa à prefeitura de São Paulo tem tudo para se transformar no maior embate político regional já presenciado. Quem souber usar com mais habilidade a linha de argumentação e tiver competência para refutar as posições opostas ampliará suas chances de vencer. Lembrando sempre que nessas eleições não serão julgados apenas os candidatos, mas sim Lula e Bolsonaro. Um tem o poder do cargo, o outro, pelas manifestações das ruas, o poder do povo. Quem irá vencer? Siga pelo Instagram: @polito