Além de sermos consumidores globais, precisamos ser investidores globais

No meu último texto, falei sobre algumas razões pelas quais você deve considerar ter poupança em dólar. Hoje vou abordar uma questão de necessidade. Pode parecer extremo, eu sei, mas acompanhe-me que você vai entender por que é essencial ter renda e/ou ativos em dólar. Pode parecer que não, mas, nos últimos 30 anos, nossas vidas têm melhorado. O Brasil se abriu para o mundo, e passamos a ter acesso a mais produtos, marcas e serviços que, em muitos casos, gostamos ou nos identificamos.

No passado, tínhamos, por exemplo, acesso a apenas quatro marcas diferentes de carros, enquanto hoje temos diversas alternativas de escolha. Nossas TVs e computadores não se restringem mais a marcas nacionais. Agora, temos acesso à telefonia na palma da nossa mão com telefones de última geração (os mais velhos se lembrarão de como era difícil ter uma linha telefônica ou até mesmo o uso comum de orelhões). Passamos a ter acesso a tênis de marcas internacionais, alimentos, roupas, relógios, entre outros produtos. Nossa vida pode ter melhorado, mas também é verdade que também ficou muito mais cara. Os preços dos carros importados soam o absurdo; no supermercado, muitos dos produtos que gostamos se tornaram menos acessíveis; a troca de aparelhos eletrônicos precisa ser muito bem pensada, ou ainda se tornou cada vez mais difícil.

O que justifica isso? A alta tributação? Os custos de logística? O “custo Brasil”? Sim, eles influenciam, mas além deles, existe um componente nessa equação que não podemos deixar de lado: o dólar. À medida que a cotação da moeda passa de R$ 1 para R$ 2, R$ 3, R$ 4 e atualmente R$ 5, todos esses produtos aos quais tivemos acesso nos últimos 30 anos foram se tornando mais caros. E tão mais caros a ponto de “escaparem das nossas mãos”. Passamos a ter que controlar a compra de produtos que gostamos, pois eles já não cabem no nosso bolso. Mas, indo além, não são apenas produtos importados que ficam mais caros. Produtos bem brasileiros também. Produtos que fazem parte do dia a dia e que possuem quase que uma “identidade nacional”.

E quais produtos são esses? Não sei vocês, mas eu tomo muito café. Como gaúcho, aprecio um bom churrasco, sou fã de um pão francês na chapa, e meu bolo favorito é o de fubá. São produtos brasileiros nos quais somos bons em produzir. No entanto, cada um deles tem seus preços também atrelados ao dólar. O café, o boi gordo, o trigo e o milho são chamados de commodities e são transacionados no mercado internacional. Adivinhem em que moeda? Sim, o dólar. Isso quer dizer que a cotação do dólar acaba influenciando o preço do pão na chapa, do cafezinho, do churrasco e do bolo de fubá. E eu poderia ainda citar todo o impacto dos preços dos combustíveis, os quais derivam do petróleo, também cotado em dólar. Ou seja, goste você ou não, temos passivos (despesas, gastos) que são dolarizados e que sofrem a influência do dólar, tornando-se mais caros quando o dólar sobe.

E quais ativos (renda ou patrimônio) você tem em dólar? Seu salário? Possui algum imóvel que gera renda em dólar? Ações? A grande maioria dos brasileiros não possui ativos dolarizados. Somos consumidores globais e investidores locais. Concentramos todo nosso patrimônio e/ou poupança em reais, ficando à mercê não só das nuances da economia, mas também das variações do dólar. No passado, R$ 1 comprava US$ 1; atualmente, R$ 1 nos permite comprar apenas US$ 0,20. Seu poder de compra se reduziu em 80%. Para manter seu poder de compra de diversos produtos aos quais fiz referência aqui, você precisa de muito mais reais. E o que é pior: nos acostumamos com isso, achamos normal ter dificuldades para trocar o celular ou o carro. E, ao mesmo tempo, em muitos casos, consideramos arriscado investir em dólar? Faz sentido? A meu ver, não.

Para concluir, uma mensagem que pode parecer dura, mas a verdade é que mesmo que você tenha conseguido juntar um capital ou fazer uma poupança, enriquecer no Brasil é como enriquecer em uma ilha cada vez mais empobrecida. Por isso, falei no início deste texto sobre a necessidade de termos dólar e/ou formas de investimento em dólar. Devemos ser consumidores globais, mas também investidores globais. Siga nas redes sociais: X (antigo Twitter) @willcastroalves e Instagram @willcastroalves