Ano de 2023 pode ser o mais quente da história; especialistas analisam efeitos das mudanças climáticas

A comunidade científica já trabalha com a possibilidade de 2023 ser o ano mais quente já registrado. Julho deste ano, por exemplo, já quebrou amplamente o recorde do mês mais quente da história, com 0,33 ºC a mais que o anterior, de julho de 2019, como anunciou o observatório europeu Copernicus. No Havaí, o número de mortos nos incêndios florestais que atingem a ilha chegou a 93, atingindo a marca de incêndio em floresta mais letal da história dos Estados Unidos. Em entrevista à Jovem Pan News, o ambientalista e presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental (Proam), Carlos Bocuhy, afirmou que o ser humano é a principal causa do atual estado do clima no mundo: “É um estado de emergência climática que exigiria, por parte da sociedade humana, uma reação e uma série de ações muito mais urgentes e com prazos e metas definidos para tentar reverter a situação”.

Acordos, tratados e políticas ambientais travam uma corrida contra o tempo para frear as mudanças climáticas, como explica o advogado em direito ambiental Alessandro Azzoni: “Tivemos o Acordo de Paris, as últimas COPs e inclusive a Cúpula da Amazônia, dos países da América do Sul. Isso tudo é um passo para que os países se comprometam, mas operacionalizar esses acordos se torna o grande problema. Primeiro, precisa de recurso, e as questões ambientais acabam convergindo com alguns impactos econômicos”. O advogado argumenta que há necessidade de criar um mercado de economia verde, com novas profissões e que busque um desenvolvimento equilibrado a partir do conceito de ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança). Além disso, Azzoni destaca que indústrias de base completamente poluentes têm o desafio de lidar com custos altos e entraves governamentais.

“Quando você pega uma indústria ou atividade econômica que já tenha o ESG aplicado, a chance dela ter uma infração ambiental ou causar um dano ambiental que cause prejuízos para os resultados da empresa é quase reduzido a zero, porque ele já pôs dentro do seu projeto todas as questões ambientais”, explica. O presidente do Proam ainda destaca que outro problema está em promover conferências climáticas sem combater os países que têm relação direta com a produção petrolífera. “Precisamos cortar esse processo, romper e colocar conferências climáticas em países de outro DNA, como por exemplo o próprio Brasil, que sedia a COP-30. O Brasil é um país que tem um DNA ligado à floresta e à biodiversidade. Isso traria um diferencial e o papel do país anfitrião é fundamental para a qualidade do acordo.”

Azzoni enfatiza o modo como as mudanças no clima afetam a economia, já que o acirramento dos fenômenos climáticos prejudica a agricultura, por exemplo: “Hoje, o meio ambiente se torna exatamente um grande problema para você fixar uma planta em um determinado lugar. Você não sabe se vai ter cota de água, se vai passar por uma estiagem de quanto tempo, incêndio, ou se vai sofrer com temperaturas muito baixas e inundações.”

*Com informações do repórter Misael Mainetti