Antenas da Starlink são apreendidas com garimpeiros em terra Yanomami  


Equipamentos foram encontrados durante operações do Ibama e da Polícia Rodoviária Federal, na floresta amazônica. Agentes federais apreenderam o kit de internet em uma mina ilegal
Ibama via AP
Agentes federais brasileiros a bordo de três helicópteros apreenderam duas antenas de internet da Starlink, armas e munições em um garimpo ilegal na terça-feira (14), na floresta amazônica.
A ação foi feita por agentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Polícia Rodoviária Federal. Eles foram recebidos com tiros, mas os garimpeiros escaparam.
Um oficial que participou da operação disse que encontrou um terminal da Starlink funcionando. A empresa é um braço da SpaceX do bilionário Elon Musk.
Os agentes federais apreenderam 600 gramas de mercúrio, 15 gramas de ouro, 508 cartuchos de munição de diversos calibres e documentos pessoais. Além disso, destruíram 3.250 litros de combustível, quatro barcaças de mineração, 12 geradores, 23 unidades de acampamento e armazenamento e sete motores de barcos.
A área de mineração, que ficou conhecida como “Ouro Mil”, é controlada pelo Primeiro Comando da Capital (PCC), segundo investigações federais.
Além das duas antenas apreendidas nesta terça, o Ibama apreendeu outras 5 antenas da empresa de Musk em terras Yanomami, no último mês.
Um número incontável de terminais da Starlink pode ter sido levado com garimpeiros, enquanto eles fugiam para a floresta.
O Ibama disse à AP que, junto a outros órgãos federais, está estudando como bloquear o sinal da Starlink em áreas de mineração ilegal.
A AP procurou James Gleeson, diretor de comunicações da SpaceX, com perguntas sobre a presença da Starlink no Brasil e seu uso por mineradores ilegais em áreas remotas, mas não obteve resposta.
Uso de antenas Starlink no garimpo
O sistema de internet de alta velocidade da Starlink tem sido uma ferramenta para os garimpeiros ilegais do Brasil coordenarem suas ações e receberem avisos prévios de batidas policiais, além de fazer pagamentos.
Desde que assumiu o cargo este ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu poderes às autoridades para reprimir as violações ambientais, particularmente a mineração ilegal na terra Yanomami, o maior território indígena do Brasil.
Nos últimos anos, cerca de 20 mil garimpeiros contaminaram águas da região com mercúrio, usado para separar o ouro, prejudicaram a vida indígena tradicional, levaram doenças e causaram fome generalizada.
Garimpeiros ilegais usam a internet há muito tempo, mas, até então, era necessário o envio de um técnico, geralmente de avião, para instalar uma antena fixa, que não pode ser carregada sempre que os locais de mineração se mudam ou são invadidos.
Mesmo assim, a conexão era lenta e instável, principalmente em dias de chuva.
Starlink no Brasil
A Starlink – que estreou no Brasil no ano passado e se espalhou rapidamente – resolveu esses problemas. A instalação é do tipo “faça você mesmo”, o equipamento funciona mesmo em movimento, a velocidade é tão rápida quanto nas grandes cidades brasileiras e funciona até em temporais.
A Amazônia é vista pela Starlink como uma oportunidade. Isso foi ressaltado pela visita de Musk ao Brasil em maio passado. Ele se reuniu com o então presidente Jair Bolsonaro e a região esteve no centro da conversa.
“Super empolgado por estar no Brasil para o lançamento do Starlink para 19 mil escolas desconectadas em áreas rurais e monitoramento ambiental da Amazônia”, tuitou Musk na época.
Esse projeto com o governo brasileiro, porém, não avançou. A SpaceX e o Ministério das Comunicações não assinaram nenhum contrato, e apenas três terminais foram instalados nas escolas da Amazônia por um período experimental de 12 meses, disse a assessoria de imprensa do Ministério à AP.
No entanto, a Starlink decolou na região e começou a provocar mudanças.