Apesar da expectativa de safra recorde para 2023, professor alerta para problemas com o clima: ‘Poderia ser maior’

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), estimativa de junho para a produção de cereais, leguminosas e oleaginosas de 2023 é de 307,3 milhões de toneladas. Valor é 16,8% maior (ou mais 44,2 milhões de toneladas) que a obtida em 2022 (263,2 milhões de toneladas) e 0,6% acima da estimativa de maio. Para falar sobre a expectativa de safra recorde neste ano, o Jornal da Manhã, da Jovem Pan News, entrevistou o especialista em economia agrícola e professor da Fundação Getúlio Vargas, Felippe Serigatti, que alertou para possíveis perdas provocadas pelo acirramento dos fenômenos climáticos: “A gente colherá, ao longo de 2023, uma safra recorde. Nos números apresentados pelo IBGE, a gente está olhando apenas o universo de grãos (…) Se a gente for pelos números da Conab a estimativa é ainda maior, de quase 318 milhões de toneladas. Esse número é resultado de algo que tenha dado tudo certo? Não”.

“Só pelas condições que a gente teve ao longo dessa safra, até poderia ser maior. Por exemplo, o pessoal do Rio Grande do Sul sofreu principalmente na safra de verão devido à seca. A mesma seca que atropelou a safra da Argentina e do Paraguai (…) Todo ano alguém tem alguma perda, todo ano tem alguma geada, todo ano a gente tem cenário de seca e excesso de chuva. Então, nenhum ano é 100% ideal”, declarou. De acordo com Serigatti, as altas taxas de juros também podem representar um problema para o Plano Safra 2023/2024: “Em termos de volume, é um volume recorde, sem dúvida. Mas é um Plano Safra caro, então as taxas de juros apresentadas vão operar em patamares elevados (…) A nossa taxa de juros de referência, a Selic, está em 13,75%. Tem viés de baixa, mas quando o plano foi desenhado esse era o custo do dinheiro (…) Tem um probleminha de cobertor curto, mas dado esse problema, o Plano Safra que foi divulgado eu acho que representa uma boa notícia”.

Frente a este contexto, o professor da FGV fez um apelo pela redução do valor do seguro rural: “O seguro rural não foi anunciado adequadamente no Plano Safra e até o momento não temos clareza do volume a ser subvencionado para este programa. Ele é muito importante, seja porque confere maior estabilidade para o produtor e para regiões em que o agro é atividade econômica predominante, seja porque a gente está operando em um ambiente em que as condições climáticas adversas, que antes aconteciam uma vez a cada 12 anos, tem acontecido uma vez a cada cinco, uma vez a cada sete. No Rio Grande do Sul teve quebra de safra por três anos consecutivos. Isso é um evento muito raro, nessa frequência é um evento muito raro. Resultado disso? O seguro para os produtores foi lá para cima. Mas para o produtor produzir com segurança, é importante ter o seguro. O governo deveria entrar justamente com um programa de prevenção, reduzindo o valor do seguro para o produtor, e isso não aconteceu.