Arsalan Tavakoli, da Databricks: ‘gestão da mudança’ é desafio que IA generativa traz para empresas
Para Arsalan Tavakoli, cofundador da empresa especializada em dados e inteligência artificial Databricks, a criação e operação de LLMs proprietários por companhias que querem se aproveitar do potencial da IA generativa já não representa um grande desafio do ponto de vista técnico. A garantia da qualidade dos dados – ponto fundamental para criação de grandes modelos de linguagem (LLMs) –, por exemplo, já é uma tarefa simples de ser executada por uma série de ferramentas de mercado.
O verdadeiro desafio, no entanto, está nas pessoas. “Acho que o difícil será a gestão da mudança e a mudança cultural das organizações“, avaliou Tavakoli em conversa com o IT Forum durante o Data+AI World Tour Brasil, evento realizado pela empresa nesta semana, em São Paulo. “Criar a mentalidade de ensinar as pessoas que você tem que ser capaz de descrever os dados, de observar como as pessoas consomem algo, quais são os SLAs para isso e como definir o que é um dado de qualidade. Os LLMs e IA ajudarão, mas a parte mais difícil é ajudar as pessoas a realizar esse processo.”
Criadora da Lakehouse, plataforma que unifica dados, análises e IA em um misto de data warehouse e data lake, a Databricks tem apostado pesado no mercado de IA generativa. Em julho deste ano, a companhia anunciou a aquisição da MosaicML, plataforma de IA generativa, por US$ 1,3 bilhão. A visão da companhia para o futuro da IA generativa é a da “democratização” da tecnologia, com empresas operando modelos menores e especializados treinados em seus próprios dados.
“Acho que essa noção de que você terá duas ou três empresas monopolistas, todas cobrando ‘uma perna e um braço’ para fazer algo que deve se tornar uma commodity, não será o caso. Acho que veremos modelos abertos especializados. A maioria das empresas criará seus próprios modelos e perceberá que seus dados são valiosos para esse recursos. Elas os protegerão”, disse.
Esse processo deverá desencadear uma nova era de uso das ferramentas de IA generativa. Na avaliação de Tavakoli, vemos hoje a multiplicação de chatbots e de aplicações de IA generativa para “inteligência aumentada” – como quando um advogado pede para a IA rascunhar um argumento, mas revisa o conteúdo depois. Com o avanço dessas ferramentas, suas aplicações se expandirão.
“Acredito que, em cinco anos, vamos chegar a um ponto em que estaremos muito mais confortáveis com alucinações, com a precisão e aplicabilidade dos modelos. Uma vez que chegarmos a esse ponto, quando entendermos que os modelos têm vieses, mas que podemos explicá-los e entender o porquê estão fazendo o que fazem, vamos ver mais casos de uso nos quais há menos humanos no processo.”
IA generativa e o papel do CIO
Assim como todas as organizações deverão ser impactadas pela IA generativa no futuro, na visão de Tavakoli, C-levels também terão seus papéis transformados pelo avanço dessas ferramentas. “Em cinco anos, qualquer CEO que acredite que a IA não deve ser parte do desenvolvimento de produtos provavelmente não será mais um CEO”, disse. “Isso porque sua empresa não sobreviverá”.
Os líderes de TI não estão fora dessa lógica. Para o executivo, CIOs que se mantiveram em posições de suporte, responsáveis apenas pela infraestrutura ou pela manutenção da TI corporativa, terão seu valor “significativamente reduzido nos próximos anos”. Ainda não é possível, no entanto, determinar qual será o papel dos CIOs dentro de organizações cada vez mais orientadas por IA.
“A pergunta ‘quem será responsável pela estratégia de IA’ é a número um em minhas reuniões com clientes”, disse o cofundador da Databricks. Ainda que a transformação no papel do CIO não seja certa, Tavakoli garante que esses executivos terão peso no processo de adoção dessas tecnologias. “Acredito que o caminho mais provável é que eles tenham amplo poder para garantir como a organização irá montar a plataforma para se tornarem capazes de aproveitar a IA da maneira correta”, disse.
Em conversas com clientes, o executivo pontua algumas das melhores práticas que observou na relação de CIOs com sistemas de IA generativa. “As empresas foram até o CIO e disseram: ‘ sua responsabilidade é garantir que nós, como organização, tenhamos todas as capacidades para colocar esses casos de uso em produção. Seja garantindo que a qualidade dos dados seja boa, ou que tenhamos uma plataforma central, compreendendo todas as regulamentações de conformidade e segurança’”, narrou. “Acredito que isso tenha sido até agora o que tenho visto como sendo o domínio do CIO.”
Potencial do mercado brasileiro
Na conversa com o IT Forum, o cofundador da Databricks falou ainda sobre o potencial que a empresa enxerga no Brasil. A companhia, que faturou mais de US$ 1 bilhão no seu último ano fiscal, não abre números sobre seus resultados locais, mas espera crescer seu time no Brasil em 50% ainda este ano.
No início de agosto, a companhia inaugurou seu primeiro escritório físico no país, em São Paulo. A equipe local se concentrará no desenvolvimento de negócios, field engineering, professional services e marketing, apoiando o crescimento dos negócios dos clientes em toda a região. A Databricks tem hoje nomes como iFood, PicPay e Bradesco entre seus clientes locais.
De acordo com Tavakoli, o Brasil, assim como a América Latina, combina o potencial de ter um grande número de empresas nativas digitais – como fintechs – com grandes empresas com alta demanda por dados e analytics em setores como serviços financeiros, setor público e manufatura.
“Há uma enorme oportunidade e acredito que isso é um ponto interessante. É um país que está procurando de forma bastante intensa a migração para a nuvem, tem necessidades significativas de dados e análises, e conta com uma boa base de talentos técnicos que sabe como aproveitar isso”, disse. “Estamos extremamente otimistas em relação ao Brasil e investindo muito pesadamente. Já vimos e estamos vendo um ótimo crescimento a partir disso e acreditamos que estamos apenas começando a arranhar a superfície.”
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