Avanços da robótica na neurocirurgia: um futuro cada vez mais real

A neurocirurgia é conhecida por ser uma especialidade que demanda elevada precisão e rigor técnico, além de ser altamente vinculada ao uso de tecnologias avançadas e de alta complexidade, como microscópios, endoscópios, neuronavegadores e implantes de neuromodulação. No campo da robótica, entretanto, embora um dos primeiros procedimentos do tipo tenha sido realizado em uma neurocirurgia, seu uso ainda não se tornou corriqueiro como em outras áreas da medicina, como a urologia, ginecologia e cirurgia abdominal.
Uma das maiores dificuldades é a necessidade de um nível de precisão e controle de movimento ainda mais delicado do que em outras áreas cirúrgicas, permitindo que o cirurgião possa operar o robô de forma remota, como ocorre em outras especialidades.
Novas tecnologias e o papel da estereotaxia
Nos últimos anos, esse panorama vem se modificando rapidamente, com o desenvolvimento, por diversas empresas de tecnologia médica ao redor do mundo, de robôs tarefa-específicos, tanto para cirurgias cranianas quanto para cirurgias funcionais e de coluna. Alguns levantamentos sugerem que, mesmo em países como os Estados Unidos ou da União Europeia, menos da metade dos centros de treinamento universitários em neurocirurgia já incluem algum tipo de robô em seu treinamento habitual. No Brasil, alguns centros começaram a trazer essa inovação ao longo dos últimos dois anos. Dentre todos os procedimentos neurocirúrgicos, dois campos se destacam na evolução da robótica: o implante de eletrodos cerebrais e a cirurgia de coluna.
No tratamento de doenças como Parkinson, distonia e epilepsia, muitas vezes é indicado o implante de um eletrodo cerebral profundo, que será conectado a um gerador que realizará uma função semelhante à de um marca-passo cerebral. Considerando que o implante desses eletrodos deve ser extremamente preciso, tanto para obter o efeito desejado quanto para não causar danos indesejados, é utilizada uma técnica de localização chamada estereotaxia, que permite, por meio de coordenadas precisas, localizar exatamente a área do cérebro em que o eletrodo deve ser inserido. Com o uso de braços robóticos, pode-se aumentar a precisão, a velocidade e a segurança do procedimento, melhorando, por consequência, o resultado para os pacientes.
O avanço dos robôs na cirurgia de coluna e novas fronteiras
No caso das cirurgias de coluna, especialmente naquelas em que é necessário o implante de parafusos (os famosos pinos e placas de artrodese), a necessidade de precisão recai sobre a preservação da estrutura óssea que irá ancorar o material e evitar danos às estruturas neurológicas ao redor. O uso de radiografias, tomografias e, mais recentemente, da neuronavegação tem permitido cirurgias menos invasivas e com menor risco de falha.
Em 2020, durante visita a um grande centro americano, pude observar uma versão ainda rudimentar de um braço robótico que unia as técnicas já disponíveis até então para melhorar a segurança e o tempo desses procedimentos. Hoje, cinco anos depois, com grande prazer, vejo que já temos no Brasil uma versão aprimorada dessa tecnologia, disponível ainda em poucos locais, mas que já demonstra grande valor para as cirurgias de coluna. Os novos robôs permitem cortes menores, cirurgias mais rápidas e com a mesma efetividade da cirurgia tradicional.
Algumas outras áreas promissoras, ainda sem previsão de implementação no país, envolvem robôs para procedimentos endovasculares, tratamentos oncológicos utilizando laser de alta frequência e robôs para mapeamento cerebral, biópsias e a combinação de robótica com endoscopia — em todos os casos, permitindo cirurgias minimamente invasivas e precisas.
Finalmente, embora a maioria dos robôs neurocirúrgicos funcione hoje como auxiliares e guias de posicionamento, diversos esforços se concentram na criação de um braço robótico que possa ser operado de forma remota, permitindo a realização de procedimentos nos quais o neurocirurgião possa controlar diretamente a execução da cirurgia, como ocorre em outras especialidades. Com o crescimento dos dispositivos que incorporam inteligência artificial, o desenvolvimento de novos materiais e o aumento da potência computacional, esse futuro parece cada vez mais próximo.
Cesar Cimonari de Almeida – CRM 150620-SP/RQE 66640
Neurocirurgião