Bolsa despenca 7%, e dólar tem alta de 3% em fevereiro; mercado financeiro prevê março nebuloso

Fevereiro terminou com um resultado negativo para o mercado financeiro no Brasil. Principal indicador de desempenho da B3, a Bolsa de Valores brasileira, o Ibovespa fechou o mês com queda de 7,49%, aos 104.931 pontos. Esta é a maior baixa mensal desde junho de 2022, quando o índice caiu 11,5%. Enquanto isso, o dólar comercial registrou valorização de 2,92%, sendo cotado a R$ 5,23. A B3 teve o pior desempenho do mês quando comparada aos principais índices globais, como as Bolsas dos Estados Unidos, da Zona do Euro, da China e do Japão. Em segundo lugar, aparece o índice norte-americano Dow Jones, com queda de 4,2%. Segundo especialistas do mercado financeiro ouvidos pelo site da Jovem Pan, os fatores que contribuíram para esse desempenho do mercado de ações brasileiro foram a alta da inflação mundial, a melhora da economia no mercado externo e as indefinições e discussões em relação a política fiscal brasileira. Além disso, a crise vivida pela Americanas, após a divulgação do rombo fiscal e de dívidas bilionárias, também pode ter impactado negativamente a Bolsa de valores. Para março, a expectativa de especialistas do mercado financeiro é de uma recuperação moderada.

Segundo Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos, o resultado do Ibovespa é reflexo de uma economia aquecida no mercado externo e o impacto das discussões internas em relação aos rumos da política fiscal do governo. Ele observa que dados econômicos divulgados durante fevereiro demonstraram que a atividade econômica fora do Brasil voltou a crescer. Enquanto isso, por aqui, falas desencontradas de governantes e o embate travado sobre a taxa de juros impactou negativamente as empresas brasileiras. “Dados do Índice de Gerentes de Compras (PMI) da China mostram uma economia mais forte e isso deve ajudar nossas empresas exportadoras em março. Do ponto de vista interno, a questão da reoneração dos impostos indicou que o Ministério da Fazenda está preocupado com a questão fiscal. Ainda que isso possa ter um impacto na inflação, traz certo alívio para o investidor. Por outro lado, existem políticas não tão positivas como a taxação da exportação do óleo cru. Isso caiu muito mal no mercado e reflete também nas exportadoras. Por causa da China e da questão dos juros nos Estados Unidos, empresas exportadoras e de commodities devem ter destaque em março. Já os setores de consumo tem apresentado uma tendência de retração. É difícil dizer, mas é possível que o mercado tenha uma leve recuperação em relação a fevereiro”, avalia.

De acordo com Carlos Caixeta, economista e associado do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), a Bolsa brasileira vem sofrendo com as altas taxas de juros, tanto no Brasil como no exterior. Ele esclarece que, quanto mais alta a taxa, mais os investidores buscam títulos do governo para investir. “É natural que toda vez que os governos aumentem os juros, a Bolsa sofra como resultado da fuga de investidores, que deixam as ações para buscar aplicações de renda fixa. No caso brasileiro, isso fica mais grave ainda porque em torno de 55% de todo o fluxo de negociações da B3 é feito por capital estrangeiro. Isso explica porque a queda da Bolsa brasileira foi maior do que nos outros índices, porque este capital saiu em busca de investimentos mais atrativos. Enquanto as empresas continuarem tendo dificuldades por causa da alta de juros, a Bolsa deve continuar fraca. Esse ano deve ser muito ruim para aplicações de renda variável. Para março, não devemos ter muitas novidades. O cenário externo deve se manter e, caso a Selic continue alta no Brasil, a perspectiva não é boa para este mês. Para nossa economia destravar, vai ser preciso reduzir a taxa de juros, que precisa que a inflação caia”, contrapõe.

Gustavo Medeiros, administrador de empresas e especialista em psicodinâmica do mundo dos negócios, também observa a fuga de capital estrangeira e credita este movimento ao nível de risco e incerteza no Brasil. Ele aponta que a capacidade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de cumprir as promessas de campanha é determinante para essa percepção e para a resposta dos investidores. “Embora muitos indicadores econômicos mundiais estejam melhorando, o Brasil se encontra em uma transição turbulenta. O país elegeu um presidente que causa incerteza no mercado e isso pode ser traduzido como risco. Em épocas de medo e risco, os investidores e grandes fundos fogem para países mais seguros, como os Estados Unidos e a Suíça, por exemplo. Essa saída da Bolsa faz com que ela caia porque ocorre uma venda de ativos em massa, forçando o preço para baixo. Consequentemente, o dólar sobe porque essas pessoas precisam recomprar a moeda norte-americana para investir em Bolsas que a utilizam. O atual governo é contra o livre mercado. Então, qualquer medida de intervenção na economia ou aumento do teto de gastos fará com que o risco aumente, acarretando em fuga de capital. Quanto mais o atual governo conseguir cumprir as promessas de campanha, mais risco vai causar. Quanto menos eles conseguirem interferir no mercado, mais a Bolsa deve subir. Estou mais otimista, porque vejo que o governo não está conseguindo executar o plano deles. Neste caso, o Brasil tem potencial pra avançar bastante. Contudo, ainda temos o fator agravante do caso Americanas, que foi uma fraude imensa mas ainda sem punições ou prisões. O medo de fraudes e de auditorias que deixam passar prejuízos gigantescos pode se espalhar para outras empresas, principalmente as varejistas”, pondera.