Brasil está cada vez mais cínico, empobrecido e distante do futuro

Quem acreditou no Brasil como o país do futuro agiu como o sujeito que comprou na rua, de um espertalhão desconhecido, um bilhete de loteria premiado. O sonho do Brasil-potência, abençoado por Deus, bonito por natureza e muito cordial não resiste nem mesmo a um mero flerte com a realidade. Construímos, sim, uma nação que disputa privilégios de forma desbragada e que tem como principal bandeira ética a capacidade de construir relações carnais com quem decide. Vejamos como se comportam os principais atores da nossa economia. A corrida por subsídios, benefícios e salvaguardas é incessante. Na outra ponta, lideranças de sindicatos, associações de classe ou mesmo de ONGs se refestelam em cargos diretivos, bem distantes do chão de fábrica. Afinal, a vida em gabinetes e no centro das discussões é bem mais emocionante, saudável e confortável do que na labuta das linhas de montagem ou ao lado dos grupos que dizem representar.

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Nos últimos dias, o país assistiu a anúncios de planos para a indústria, reivindicações de ajuda por parte de produtores rurais, de empresas aéreas, do setor de serviços, de religiosos ameaçados pelo leão do Imposto de Renda e o lobby em favor dos 17 setores beneficiados pela desoneração. Todos defensores do Estado mínimo, desde que preservando ao máximo as vantagens dos setores que representam. Nos veículos de comunicação, se multiplicam notícias de privilégios generosamente oferecidos a figurões do Judiciário. De forma ecumênica, tais benefícios, disfarçados sob o manto genérico de “penduricalhos”, inflam salários e acrescentam vantagens como férias anuais de 60 dias e auxílio-moradia, de norte a sul do país. E o pagador de impostos que se lasque!

Concorrente na questão dos benefícios e na criatividade para adotar penduricalhos, o Legislativo não apenas sabe proteger e remunerar bem 58.208 vereadores, 1.059 deputados estaduais/distritais, 513 deputados federais e 81 senadores, como se dedica a lobbies em defesa de poderosos grupos públicos e privados. O fato é que quem consegue constituir um bom lobby, seja em Brasília, nas capitais de Estados ou mesmo nas câmaras municipais, jamais morre pagão. A cultura que se espraia por todos os setores, de megaempresários rurais a dirigentes de pequenos sindicatos urbanos, passando por industriais, religiosos ou comerciantes, de políticos a humildes pagadores de impostos, é a da boca livre. Assim, ninguém mexe nos direitos adquiridos, por maiores que sejam os supersalários que eles protegem, de quem é diretamente pago diretamente pelo Estado ou nos costumes privados de quem se acostumou a ser socorrido por ele. Nesse cenário, a pergunta que fica é: como é que se vira quem não conseguiu constituir um bom lobby no Legislativo?