O papel do Brasil na transformação da Ford em uma companhia de serviços

Ford

A Ford Motor Company passa por um processo intenso de transformação digital. Seu objetivo é claro: não depender apenas da venda de automóveis fabricados para crescer seus negócios, mas acelerar na direção de uma empresa orientada por serviços. O esforço da Ford é similar ao que outras companhias do setor têm empreendido. Com carros cada vez mais conectados, serviços automotivos ganharam espaço em todo mundo ao longo dos últimos cinco anos.

A transformação digital da Ford, no entanto, se destaca por um elemento: o papel do Brasil em sua estratégia. Apesar de ter encerrado a fabricação de veículos no país em 2021, fechando suas unidades fabris em Camaçari (BA), Taubaté (SP), e Horizonte (CE), o Brasil continuou operando como um polo de desenvolvimento para a companhia – focado em tecnologia.

Leia também: Porsche Cup Brasil: dados em tempo real transformam automobilismo

Segundo Luciano Driemeier, gerente de Mobilidade e Novos Negócios da Ford, hoje são mais de 1,5 mil engenheiros no Brasil, e mais de 100 recursos que estão sendo desenvolvidos aqui para apoiar a estratégia da Ford em carros conectados. “Esses engenheiros não estão aqui para desenvolver o que não dá para desenvolver lá fora. Eles estão aqui para desenvolver em conjunto com o pessoal lá de fora. Eletrificação, conectividade, autonomia – a gente está aqui, como engenheira brasileira, desenvolvendo o futuro da mobilidade, desenvolvendo tecnologia de ponta”, contou em conversa com o IT Forum.

A estratégia da multinacional é ancorada no seu Centro de Desenvolvimento e Tecnologia, em Camaçari, mas é também apoiada por um campo de testes em Tatuí (SP) e por um hub de ideação em Salvador (BA). Juntas, as estruturas ajudam a companhia na criação e desenvolvimento de tecnologias e serviços que são usadas localmente e ao redor do mundo.

‘API first’ e o papel da TI

Um dos planos da companhia nesse novo rumo é a adoção de uma estratégia baseada no conceito de ‘API first’. O conceito consiste na produtização de APIs e na aceleração da inovação. Djalma Brighenti, gerente de TI da Ford América do Sul, contou que a estratégia vem exigindo uma mudança de paradigma em sistemas e ambientes proprietários para a Ford no país.
“A adoção do conceito de API first envolve uma alteração significativa em relação à forma como desenvolvemos e entregamos nossos produtos e serviços digitais”, afirmou Brighenti ao IT Forum. “Promovendo flexibilidade, colaboração, velocidade, inovação e direcionamento ao cliente.”

Para apoiar a transformação, a Ford tem apostado em parcerias e na atualização de sua TI. Em parceria com o Google, a companhia realizou a migração e rearquitetura de suas aplicações para o Google Cloud Platform (GCP). Com isso, a companhia buscou simplificar seu ambiente tecnológico, reduzindo a quantidade de arquiteturas diferentes e também os custos operacionais. A movimentação também deu acesso a tecnologias modernas, como aprendizado de máquina e inteligência artificial, para ajudar em melhorias de eficácia das aplicações.

Esse cenário impactou, é claro, o papel da TI da companhia. De acordo com Brighenti, a TI deixou de ter uma atuação de back-office e assumiu um papel estratégico dentro do modelo de negócio da Ford. Isso também impactou o ritmo e a condução dos trabalhos dos times de TI e também a colaboração com outras áreas, incluindo negócios e vendas.

“Nosso escopo de trabalho foi expandido.”, contou o gerente de TI da Ford. “Continuamos atuando em serviços que envolvam questões relacionadas à infraestrutura de rede das instalações e colaboradores, internet e conexões, mas também participamos ativamente do gerenciamento do uso dos dados do veículo conectado para cuidar do cliente.”

Novos produtos e serviços

Um dos exemplos de como a TI tem se aproximado de clientes Ford para possibilitar novos serviços é o chamado agendamento online. A Ford hoje permite o agendamento de revisões e manutenção do veículo de forma 100% online, por meio do aplicativo FordPass. O consumidor escolhe o dia, horário, concessionária e até mesmo quem vai atendê-lo, tudo pelo smartphone.

A Ford lançou também o “Pickup and Delivery”, serviço de retirada e entrega do veículo na residência do cliente para aqueles que fazem revisão ou manutenção nas concessionárias da Ford. Outra funcionalidade foi o “Compre Sem Sair de Casa”, que permite fazer todo o processo de negociação do veículo, desde a procura até a decisão de compra, sem ser necessário ir até uma concessionária.

“O time de TI está mais próximo dos consumidores e concessionários, entendendo melhor suas jornadas com a marca, seus desafios, necessidades e desejos, e ajudando a tangibilizar ações e serviços, além de aprimorar as tecnologias embarcadas em produtos e serviços”, explicou o executivo.

Nesse contexto, outra tecnologia que tem ganhado força na companhia são os desenvolvimento em inteligência artificial (IA). De acordo com Driemeier, gerente de Mobilidade e Novos Negócios da Ford, a IA já é parte da estratégia da companhia há anos, mas assume uma nova posição de destaque conforme com a conectividade ubíqua em em veículos da Ford.

“A conectividade me abre um espectro enorme de possibilidades, e a maioria delas é alimentada por IA”, contou. “Um exemplo é a área de ‘Quality’, que é quase como se fosse uma ‘medicina preventiva’. Agora que tenho um carro conectado, por que vou esperar o carro sofrer alguma falha, a ponto do consumidor ter que ir até uma oficina, se posso proativamente fazer um reparo para evitar uma falha, uma perda ou uma parada do produto? Eu começo a olhar para o veículo não mais só quando o consumidor me procurar, mas proativamente o tempo todo.”

O negócio tradicional da Ford, de venda de veículos, também está sendo impactado pela transformação da empresa. Dois exemplos disso foram os cases da pré-venda do modelo F-150 e da nova geração da Ranger. Para esse projeto, o time de TI da Ford Brasil se uniu à empresa de software CI&T, com foco em transformar a jornada de compras do consumidor e fortalecer a conexão direta com o público.

No caso da F-150, a plataforma de pré-vendas do veículo foi desenvolvida em cinco meses, com foco em encurtar o processo de compra, refinar a previsibilidade das vendas e antecipar o recebimento de pagamentos. Ela foi ao ar em fevereiro deste ano, quando o veículo entrou em pré-venda. Brighenti celebra o resultado do projeto, que teve todas as 500 unidades do veículo disponíveis em pré-venda vendidas em tempo recorde. “No primeiro lote, aberto no dia 14 de fevereiro, a Ford priorizou os clientes da marca e 250 veículos foram arrematados em menos de uma hora. Dois dias depois, a venda foi aberta para todo o público e as unidades remanescentes duraram só nove minutos”, contou.

O time de TI da companhia coletou aprendizados técnicos com a experiência do lançamento da F-150, para planejar o lançamento da Nova Ranger, realizado quatro meses depois. “Os resultados não poderiam ter sido melhores”, ponderou o executivo. “A Nova Ford Ranger vendeu mais de 3.000 unidades no Brasil só na primeira semana de lançamento. Desse total, mais de 1 mil unidades foram registradas em apenas 24 horas, exclusivamente pela plataforma online desenvolvida pelo time de TI.”

Siga o IT Forum no LinkedIn e fique por dentro de todas as notícias!