Brasil não é um país de competência, e sim de relacionamentos

A ascensão das redes sociais e a prevalência dos relacionamentos digitais no Brasil oferecem um panorama intrigante, especialmente quando analisados sob a ótica das oito dimensões culturais da Cientista Erin Meyer em “The Cultural Map”. Este artigo explora como, no contexto digital brasileiro, os relacionamentos muitas vezes superam as competências técnicas em importância.

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1. As 8 Dimensões de Erin Meyer e o Ambiente Digital Brasileiro
Ao aplicar as dimensões culturais de Meyer – Comunicação, Avaliação, Persuasão, Liderança, Decisão, Confiança, Discordância e Agendamento – ao ambiente digital brasileiro, observa-se uma tendência clara para a valorização dos relacionamentos.

2. Relacionamentos versus Competências nas Redes Sociais Brasileiras
A dimensão ‘Confiança’, que Meyer divide em confiança baseada na tarefa e confiança baseada no relacionamento, é crucial no Brasil. Nas redes sociais, isso se traduz em uma preferência por conexões pessoais e autenticidade. Um exemplo claro dessa dinâmica é observado no mercado de trabalho: não é raro ver uma pessoa com menos competência técnica, mas com melhores relacionamentos, conseguir uma vaga de emprego ou oportunidade em detrimento de outra mais qualificada. Isso reflete a importância dos laços pessoais e da rede de contatos no contexto brasileiro.

3. Exemplo no Mercado de Trabalho
Considere o cenário de contratação em uma empresa brasileira. Dois candidatos disputam a mesma vaga. O primeiro possui um currículo impressionante, repleto de qualificações técnicas e experiência relevante. O segundo candidato, embora menos qualificado tecnicamente, tem uma rede de contatos robusta e é conhecido por ter boas relações com membros influentes da empresa. Surpreendentemente, mas não incomum no Brasil, o segundo candidato pode ser o escolhido. Este fenômeno reflete a preferência por confiança baseada no relacionamento, onde as conexões pessoais e a capacidade de navegar em redes sociais são vistas como ativos valiosos.

4. Comunicação e Hierarquia: A Influência nos Relacionamentos Profissionais
A comunicação no Brasil também tende a ser do tipo contextual (observando o histórico dos envolvidos), e indireta (com vocabulário apaziguador), conforme descrito por Meyer. Isso favorece uma abordagem onde entender o subtexto e estabelecer uma conexão pessoal é crucial. Um ponto interessante de análise é que, para o funcionamento dessa estrutura informal de confiança, a PRIVACIDADE no relacionamento entre os atores, é fundamental. Assim, apenas quem está autorizado saberá que existe um elo entre as partes. Entretanto, essa cultura permite a formação de um novo risco; uma vez conectada, essa rede de atores, agindo de modo oculto, pode facilmente atuar na espionagem corporativa e no uso de técnicas de engenharia social.

5. Impacto nas Redes Sociais
Nas redes sociais, essa dinâmica é ainda mais evidente. Influenciadores digitais, por exemplo, podem não ser os mais experientes ou informados em seu campo, mas sua habilidade de criar conexões pessoais com o público pode lhes conferir maior credibilidade e influência do que especialistas tradicionais. Eles cultivam relacionamentos através de suas plataformas, criando uma sensação de proximidade e confiança com seus seguidores, eis a importância dos profissionais de diversas áreas garantirem sua presença nas redes sociais; para manter os bons relacionamentos – é o que confirma o especialista Michel Souza, Tecnólogo em Marketing especializado em Social Media.

6. Consequências para Profissionais e Empresas
Para profissionais, especialmente aqueles que são mais técnicos e menos inclinados a investir em relacionamentos, esse cenário pode ser desafiador. Eles podem se encontrar em desvantagem, não por falta de competência, mas por não terem uma rede de contatos tão extensa ou habilidades interpessoais tão desenvolvidas. Para as empresas, embora valorizar relacionamentos possa fomentar um ambiente de trabalho agradável e colaborativo, existe o risco de negligenciar a importância das competências técnicas. Isso pode levar a decisões de contratação que não são baseadas na meritocracia, potencialmente comprometendo a qualidade e a eficiência do trabalho.

Em resumo:
Este foco nos relacionamentos, evidenciado nas redes sociais e no mercado de trabalho brasileiro, destaca uma característica cultural distintiva. Enquanto em muitas culturas a competência técnica pode ser o fator decisivo, no Brasil, a capacidade de construir e manter relacionamentos pessoais é frequentemente vista como igualmente, senão mais, importante. Entender essa dinâmica é crucial para quem deseja navegar com sucesso no ambiente profissional e digital do país. E o que é possível entender com tudo isso? Em termos populares…

  • “Não se mexe com tartaruga em cima da árvore, principalmente no Brasil”
  • “Os incompetentes, também crescem”
  • “É bem mais fácil (ou bem mais difícil) crescer no Brasil; só depende da ótica”
  • “Sempre vão existir mais coisas entre o céu e a terra, do que nossa vã filosofia”

Referências: Meyer, E. (2014). The Culture Map: Breaking Through the Invisible Boundaries of Global Business. PublicAffairs.

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