Brasil perde R$ 104 bi por falta de processos digitais de identificação

Um levantamento inédito realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), à pedido da Unico, revelou que o Brasil tem desperdiçado dezenas de bilhões quando o assunto é maturidade digital de governos e empresas. Segundo o levantamento O Custo Brasil da Identificação, no ápice da digitalização de 2021, o custo de provar a identidade variou de R$ 104,4 bilhões a R$ 174,2 bilhões, o que representa de 1,2% a 2% do PIB naquele ano.

Trata-se, diz o estudo, de um resultado expressivo quando comparado ao impacto esperado de reformas, como a tributária e previdenciária. “O país perde três vezes mais com a ineficiência dos processos de identificação do que o valor que se espera economizar com reformas importantes”, afirma Renan Pieri, professor do Departamento de Planejamento e Análise Econômica da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV/EAESP).

O objetivo do levantamento foi mapear as situações mais relevantes em que provar a própria identidade pode representar um entrave ou um custo e contribuir com o debate de como tornar empresas e governos mais eficientes. Quando analisada sob a ótica de cada cidadão, essa ineficiência mostrou um peso importante também para o bolso do brasileiro que gastou, em média, de R$ 497 a R$ 830 no ano para se identificar, em serviços rotineiros, como liberar uso de cartão no banco ou entregar documentos para ser admitido em um emprego.

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Na análise do levantamento, os resultados revelam que o país não tem aproveitado da melhor maneira possível as oportunidades da evolução tecnológica – que incluem as mais recentes soluções em inteligência artificial e o 5G, por exemplo.

“A vida se tornou mais digital, mas provar que ´eu sou eu´ ainda continua seguindo a lógica tradicional, com muitos processos físicos e desperdício de tempo e dinheiro. Empresas e governo têm investido para engajar as pessoas no mundo online, mas ainda há um longo caminho para inovar no quesito autenticação de identidade, garantindo segurança e privacidade”, explica Pieri.

Base de cálculo

Para o estudo, foram analisados pelos pesquisadores da FGV uma série de dados e processos, inclusive os que envolvem a relação entre empresa e consumidor; empresa e empresa; e consumidor com consumidor. Nessas relações, o custo da identificação pode ter chegado a R$ 51,9 bilhões de reais somente em 2021. Se olharmos para o grupo trabalhadores/empregadores, o valor alcança R$ 22,9 bilhões, sendo 33% maior que o custo estimado para as relações entre cidadãos e governo (R$ 17,2 bilhões). Além disso, o estudo também destaca que os entraves de identificação tradicional geram fraudes que acarretam custos que vão de R$ 37,3 a R$ 72,2 bilhões.

Os cálculos são baseados nos custos relacionados a situações do cotidiano, como processos de contratação de recursos humanos; deslocamento para a emissão ou assinatura de documentos.

“Conseguimos identificar um grande potencial de aumento na eficiência econômica que pode ser gerado pela implementação de processos baseados em identidade digital”, explica o professor Renan Pieri. O economista destaca que tais ganhos podem ser ainda maiores para o país com a adoção de mecanismos de identidade digital avançada, que possibilitam o armazenamento de informações adicionais atreladas a identidades individuais, como dados fiscais, por exemplo.

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