Capital natural: restauração ambiental como estratégia para salvar a economia e o clima no Brasil

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Um estudo recém-publicado na revista científica Nature analisou dados de 1600 regiões do mundo ao longo de quatro décadas e trouxe uma previsão alarmante: a crise climática poderá gerar prejuízos globais de U$ 38 trilhões por ano entre 2025 e 2049. Para o Brasil, as consequências econômicas também são severas – o país pode perder entre 5% e 30% da renda per capita ao longo desse período. As regiões brasileiras mais vulneráveis, segundo a pesquisa, serão o Centro-Oeste e o Norte. Em todas as áreas indicadas pelo levantamento, as mudanças climáticas já são irreversíveis, independentemente das emissões futuras de gases do efeito estufa. 

A situação é crítica, mas existem iniciativas que podem mitigar os danos. Uma delas é a que foi nomeada de a Década da Restauração de Ecossistemas, instituída pela ONU e que vai de 2021 a 2030. Ela visa recuperar 350 milhões de hectares degradados globalmente, com uma meta específica para o Brasil: restaurar 12 milhões de hectares até 2030. 

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Os benefícios vão além do meio ambiente. Esse processo pode combater as mudanças climáticas em curso, reduzir a pobreza e evitar uma extinção em massa. Os ecossistemas são a base de toda a vida na Terra. Quanto mais equilibrados e saudáveis forem, mais o planeta e seus habitantes se beneficiarão. Embora isso pareça evidente, a situação ambiental no Brasil tem mostrado uma trajetória preocupante. Por aqui, 33% do território nacional já sofreu degradação, com a perda de 110 milhões de hectares apenas nos últimos 39 anos. Esses danos causam eventos climáticos extremos como secas e inundações, que estão ocorrendo com mais frequência, além de comprometer a produção agrícola e a infraestrutura. 

É nesse contexto que o Itaqui, única comunidade verde de Inovação e Tecnologia do país, iniciou um projeto focado na implementação de corredores ecológicos na Grande São Paulo. Nessa região, há fragmentos preservados, porém isolados, de Mata Atlântica. O isolamento reprodutivo e o progressivo aumento das taxas de autofecundação ou cruzamento entre indivíduos aparentados trazem o declínio lento e gradual das espécies, resultando na extinção local delas. Os corredores verdes são essenciais, assim, para a manutenção da biodiversidade, ajudando a reverter esse quadro e mitigando os impactos das mudanças climáticas. 

Os benefícios serão tangíveis, já que promoverão segurança hídrica e conforto térmico para mais de 21 milhões de pessoas, além de redução da erosão e maior fertilidade do solo, diminuindo o custo de tratamento de água. A estimativa é de uma economia de R$ 338 milhões em São Paulo e R$ 259 milhões no Rio de Janeiro. 

A restauração ecológica também é uma oportunidade social. Espera-se que o Brasil possa criar 200 mil empregos por ano com a recuperação da vegetação nativa. O Centro de Pesquisas e Inovação Itaqui tem desempenhado um papel fundamental nesse esforço, usando tecnologia geoespacial e modelagem de nicho ecológico para identificar fragmentos florestais com alta relevância biológica, comparáveis à Serra do Itaqui, um hotspot de biodiversidade localizado a 30 km da capital paulista. Além disso, a equipe do Itaqui participou de audiências e consultas públicas para as concessões de rodovias no estado de São Paulo, influenciando editais com recomendações que integram a conservação ambiental às novas infraestruturas. O objetivo é garantir o compromisso das empresas com a biodiversidade, assegurando monitoramento constante.  

A união de esforços entre universidades, institutos de pesquisa e empresas é essencial para consolidar políticas eficazes. A conservação dos fragmentos florestais e a continuidade dos processos ecológicos são fundamentais para garantir a evolução da biodiversidade. Além de benefícios ambientais, essas ações trazem impactos diretos à economia. Como evidenciado pelo estudo da Nature, entender a gravidade e a distribuição dos impactos climáticos é necessário para embasar decisões de governos, bancos centrais e companhias. Essas instituições, cada vez mais, precisam considerar os riscos climáticos em suas projeções econômicas e adotar medidas adaptativas. 

Com a degradação ambiental custando caro à economia global e local, a restauração ecológica se apresenta como uma das melhores estratégias para enfrentar a crise. A integração de ciência, inovação e políticas públicas é obrigatória para que o Brasil enfrente os desafios climáticos da melhor forma e aproveite as oportunidades econômicas que surgem da restauração ambiental. 

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