Cinco respostas e polêmicas sobre o assédio no ‘BBB 23’ que levou à expulsão de MC Guimê e Cara de Sapato

Não se fala em outra coisa: o assunto desta sexta-feira, 17, hoje gira em torno das expulsões de MC Guimê e Cara de Sapato do “BBB 23”. O cenário não poderia ser diferente: uma enxurrada de opiniões tomou a internet desde a madrugada até agora. Prepare-se, pois a novela está longe do fim. Afinal, como mulher, defendo que temos que discutir, sim limites e, principalmente, refletir sobre o que está acontecendo no mundo dos relacionamentos atualmente. A verdade é uma só: nós mudamos, e os homens estão sem reação diante de tanta evolução, mas isso é tema para uma outra coluna. Agora, vamos nos ater ao fato de que dois homens públicos não seguraram a onda e passaram dos limites ao assediar Dania Mendez, participante mexicana em intercâmbio na versão tupiniquim do reality. Para entender o que está acontecendo, essa coluna ouviu com exclusividade o Dr. João Borzino, sexólogo e terapeuta de casais há mais de 18 anos, na tentativa de analisar os comportamentos ocorridos no programa e falar sobre outras situações que, infelizmente, fazem parte do cotidiano de muitos homens e mulheres.

Em sua opinião, enquanto terapeuta de casal e sexólogo, o que está acontecendo com homens e mulheres? No tocante à relação de intimidade/romântica, os homens e mulheres hoje andam muito confusos. Há uma impressão social que relativiza o comportamento, como se houvesse uma “liberdade promíscua” que não corresponde à realidade verdadeira. É algo virtual, padronizado nos meios de comunicação midiáticos, que reflete nas relações de forma conflituosa. Resumindo: os papéis “masculino” e “feminino” estão confusos e mal delimitados. Digo isso pois existem comportamentos “naturais e seculares” da nossa “espécie”, que podem ir evoluindo com o passar do tempo, porém não podem fugir à nossa essência.

Podemos dizer que eles precisam de terapia (os homens em geral) por conta da necessidade de alimentarem a imagem da masculinidade? A maioria não precisa de terapia, mas sim psicoeducação, ou seja, uma forma de entendimento sobre os aspectos afetivos das relações, que leva a adequabilidade e menor sofrimento nas interações sociais (sejam românticas ou fraternas). Falta muita “responsabilidade emocional” de maneira geral, e já não é de hoje, diga-se de passagem.

Até que ponto a masculinidade pode ser tóxica? Isso é mais evidente no Brasil por conta do machismo? Masculinidade tóxica é machismo, na realidade. Confundimos as características que tornam um indivíduo masculino com a transgressão. Ser masculino é um tipo de configuração cerebral que atribui características como ser mais visual, menos afetivo, ter visão mais focada, ser mais racional, objetivo, ter maior noção de espaço, entre outras coisas. Ser machista já é um olhar que subjuga a mulher, colocando em um papel estereotipado distorcido de objeto, e enaltece e amplifica tudo que é do universo masculino, tornando os excessos regras, como por exemplo beber demais é bonito, macho mesmo gosta de futebol, lugar de mulher é na cozinha ou na cama e etc…..

O fato da mulher se sentir culpada mesmo sendo vítima representa esse estereótipo da sociedade? Interpreto essa culpa e falta de reatividade da mulher como algo natural da feminilidade. As mulheres discutem muito sobre seus direitos e sobre quais são maneiras de combater as diferenças e preconceitos, mas na hora que os abusos acontecem, calam-se. É da natureza feminina sentir culpa e vergonha quando a toxicidade acontece na prática. É por isso que vivo as encorajando dizendo não que falem mais, mas sim, que denunciem, que ponham a boca no trombone e não deixem mais que a negligência aconteça velada. O feminismo não tem qualquer representatividade, a mulher precisa exercer seus direitos e a lei fazer cumprir.

Até que ponto podemos jogar a culpa na bebida por atos como esse?

O álcool, assim como qualquer estado de consciência alterado pelo abuso de substâncias, apenas agudiza aquilo que está subjacente. É assim na psiquiatria como um todo. Por exemplo, é o que facilita o verdadeiro suicida a cometer o ato. Resumidamente, o álcool e as outras substâncias entorpecentes apenas agravam, mas não são a causa pura.

Mais que analisar os fatos, é preciso rever valores e conceitos e, ainda, enxergar os limites. Como mulher, digo, ou melhor, escrevo, que estamos cansadas de tanta manipulação até por parte da mídia, inclusive, não só dos homens. Somos, e ironicamente em pleno mês das mulheres, julgadas, cobradas e crucificadas o tempo todo. O preço disso? Culpa. Por isso, mesmo com o erro dos dois apresentado no reality, a mulher envolvida, que é a vítima, se sente tão mal e chora diante dos fatos. Até quando? Eu, como mãe de uma menina de 11 anos, lhe pergunto agora: você, pai e mãe de menino, está educando como seus filhos? Geralmente, quando um homem aprende desde o berço a respeitar uma mulher, ele sabe como tratá-la e o quanto ela é importante. O doutor disse tudo: a falta de responsabilidade emocional leva não somente ao assédio, como também a quadros e consequências mais graves, quando acontece várias vezes e mina vidas. Moral da história: tome as rédeas da sua vida, amadureça e seja homem, não só nas redes sociais ou em frente à uma câmera de TV. Seja homem na essência de ter responsabilidade afetiva, respeito e posicionamento para, como diz meu pai, “honrar aquilo que tem no meio das pernas…” Soou machista? Feminista? Não estou aqui levantando bandeiras não, aliás, levando somente três bandeiras: a do respeito, a da sororidade e a da educação. Se você sabe que quando bebe pode passar dos limites e magoar pessoas, diminua a quantidade porque isso não faz com que você apenas respeite o outro, mas também, a si mesmo.