Argentina virou laboratório de programas sociais; resultado salta aos olhos

A Argentina chega às urnas hoje com uma crise econômica e social sem precedentes. O desemprego atinge 44,6% da população, enquanto a pobreza chega a 40,1% e a inflação acima de 140% consome o poder de compra que resta dos salários e benefícios sociais. Quem se debruçar com mais atenção sobre esses dados chegará à chave para a saída da crise. Em 20 anos, os programas sociais na Argentina saltaram 657%, se multiplicando até chegar à assombrosa quantidade de 141 benefícios diferentes. Eles consomem 4,5% do PIB, alcançando nada menos que 22 milhões de pessoas, praticamente metade de toda a população de 45 milhões — estão aptos para votar hoje 35 milhões de eleitores. Candidato do peronismo de esquerda, Sergio Massa usou (e abusou) do cargo de ministro da Economia para expandir ainda mais o poder do estado nessa área, envenenando ainda mais a economia.

O medo de perder a assistência estatal poderia garantir a vitória de Massa, mas aparentemente a maioria da população, inclusive parte daquela beneficiária desses programas, parece querer mais do que viver de sobras cada vez mais escassas. Por isso o apoio ao cada vez menos anarquista Javier Milei, que defende o enxugamento do Estado e a redução drástica desses benefícios, mas modulou o discurso para atrair a direita tradicional e garantir governabilidade, caso eleito. Como reformista que sou, não acredito em revoluções, mas aposto em reformas negociadas para otimizar a gestão pública geração após geração. Um Milei mais ponderado pode resgatar a Argentina do ‘colapso venezuelano’ e conduzi-la para um futuro melhor, que não virá do dia para a noite.

Se há alguma lição a tirar do laboratório argentino, é a de que programas de redistribuição de renda devem ser usados com moderação. Não podem se expandir indefinidamente, pois não substituem a atividade produtiva. Como um remédio que se torna veneno, em excesso eles inibem o empreendedorismo, a concorrência, o avanço tecnológico e científico, prendendo a sociedade num círculo vicioso de dependência estatal. Como o Estado nada produz e nem gera lucro, apenas consumindo a riqueza produzida pela sociedade, significa que uma sociedade menos produtiva gerará menos riqueza, menos impostos e muito menos verba para se gastar em programas sociais. O resultado é o colapso econômico, exatamente o que a Argentina vive hoje. A chave para mudar essa realidade está nas mãos do eleitor.