Conheça os baratos e gastronômicos vinhos da casta Dolcetto

O piemontês não está nem um pouco preocupado com o que o tal “mercado” vai achar dos seus vinhos. Esta afirmação, que tem um fundo de verdade, além do folclore, toma mais força quando se trata dos seus vinhos mais simples, especialmente os de castas autóctones (que são as uvas originárias de um determinado território e que lá se desenvolvem). A Dolcetto, vinhateiro piemontês, nem sequer se preocupou muito, até pouco tempo atrás, em colocar seus vinhos fora da Itália. Verdade é que os vinhos da uva Dolcetto passaram a ser mais conhecidas por causa dos anuais e famosos festivais de tartufos que ocorrem em Alba. Muitos turistas afluem para lá, nem todos endinheirados. O Dolcetto, que é um vinho barato e gastronômico, passou a ser uma ótima opção para acompanhar receitas com tartufos sem onerar, mais ainda, as caras refeições preparadas com esta iguaria. 

No Piemonte, segundo o site LiberWines, há sete D.O.Cs, sendo seu cultivo quase que exclusivo nas províncias de Cuneo, Alessandria e em vinhedos de altitudes elevadas, graças à forte resistência que a casta possui quando exposta a temperaturas frias. Origina vinhos secos, frutados, de corpo e de intensidade aromática médios e suaves devido à média acidez. Seus descritores aromáticos são amarena (fruta da família das cerejas, porém mais ácidas), ameixa seca, rosa branca, groselha, violeta, alcaçuz e amêndoa. Não são, de modo geral, vinhos de guarda, mas sim feitos para serem bebidos jovens, entre dois e quatro anos a partir da colheita; possui rápido amadurecimento, segundo o Mestre Amarante (para o site Mistral), característica que foi extremamente privilegiada pelo clima frio das regiões em que as vinhas da casta são cultivadas.

Apesar do nome Dolcetto da casta dar a impressão de que estamos falando de uma uva com bastante presença de açúcar e capaz de produzir vinhos tintos doces, tudo não passa de uma vaga referência. Ao contrário do que o nome possa sugerir, vinhos tintos elaborados com a casta italiana Dolcetto dificilmente apresentam caráter doce. A maioria dos exemplares da casta é bastante tânica, macia, fresca e seca. Os Dolcettos de Alba, que levam a denominação de Dolcetto D’Alba, a meu ver, são os melhores vinhos desta casta: bem rústicos, de cor rubi intenso e, vejam lá, mais de 80% da produção é consumida na própria região produtora, sendo a principal razão do desinteresse do piemontês com as opiniões estrangeiras. 

Aqui no Brasil é fácil encontrar vinhos da casta Dolcetto e vou sugerir alguns, a começar pelo excelente Dogliani DOCG Papà Celso, um dos melhores que já provei e que, ao contrário da maioria dos Dolcettos, pode ser guardado por uma década tranquilamente. O Sót, Dolcetto D’Alba, da Cascina Sót, possui tipicidade e acidez únicas, sendo fresco e bom para um consumo mais jovem e com um potencial gastronômico espetacular. O Dolcetto D’Alba Costa di Bussia é mais austero que os anteriores e segue muito bem com queijos maturados (ou mesmo spaghetti ao molho bolonhesa ou molho sugo). O Bruno Giacosa Dolcetto D’Alba também pode ser guardado por anos a fio e tem uma tipicidade a toda prova. Por fim, o Sansilvestro Primaio Dolcetto D’Alba, mais simples, tem um apelo rústico muito bacana e é uma opção bem acessível. Os Dolcettos são vinhos que devem ser bebidos a temperaturas levemente refrescadas, por aqui, e não necessitam de aeração ou decanter. Valem ser conhecidos. Salut!