Copom segue expectativa de cortes do mercado, mas ressalta necessidade de cautela dos bancos centrais

Seguindo a expectativa do mercado financeiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros para 12,25% ao ano. Apesar de destacar o agravamento do cenário internacional e a necessidade de cautela por parte dos bancos centrais, o comitê afirmou que o ritmo de cortes segue adequado para a política monetária brasileira. “O comitê reafirma que a economia está em desaceleração, mas que mesmo assim há preocupações com a desancoragem da inflação e com a inflação de serviços. Em suma, o cenário básico do Copom está mantido neste comunicado e também está mantido o discurso de que a redução de 0,5 p.p. é adequada para as próximas reuniões. Mas vai depender das condições futuras. É um cenário de alinhamento com as expectativas”, pondera Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi.

Jayme Carvalho, economista-chefe da SuperRico, pontua que havia dúvidas se o Banco Central seria um pouco mais duro na questão política. “O BC foi leve na sua comunicação, só falou que espera que as metas sejam atingidas. Aumentou, na minha opinião, a ênfase em relação ao cenário externo e o desafio que ele traz para a política monetária brasileira. O Banco Central está bastante preocupado que as ancoragens ainda não estão convergindo na velocidade que ele esperava. Em algum momento, o BC vai ter de diminuir o ritmo de queda. Mas eu diria que é uma ata sem surpresas e sem entrar um possível embate com o governo do lado fiscal”, considera.

Head de Renda Fixa da Suno Research, Vinicius Romano indica que o comunicado destacou preocupações do Banco Central brasileiro com o cenário internacional, que se mostrou mais incerto que o usual, exigindo cautela na condução da política monetária. “Além disso, o Comitê reafirmou a importância da firme persecução das metas fiscais, as quais são essenciais para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária. O patamar atual da taxa Selic ainda proporciona uma boa relação risco x retorno para os títulos pós-fixados, já que estes praticamente não sofrem com marcação a mercado e são positivamente impactados pelo alto nível da taxa básica de juros”, avalia.

Já a Confederação Nacional da Indústria (CNI) avaliou como insuficiente o corte promovida. Para Ricardo Alban, presidente da confederação, é necessário que sejam  realizados novos e mais intensos cortes nas próximas reuniões, caso seja mantido o cenário de controle da inflação. “A queda da Selic não é suficiente para impedir custos adicionais e desnecessários em termos de atividade econômica. Tenho a plena convicção de que a queda de juros não está na velocidade que nós precisamos. Na verdade, estamos em uma armadilha, porque a nossa taxa Selic atingiu um patamar bastante
desestimulante. Entendo que não é possível fazer uma queda abrupta, mas o Banco Central poderia ser um pouco mais desafiador e ter iniciado uma redução mais acelerada”, afirma Alban.

Para Rodrigo Sgavioli, head de alocação e fundos da XP, a manutenção do ritmo de cortes de 0,5 p.p. por parte do Copom reforça a previsão de trajetória da Selic em queda de forma gradativa. Isso levaria a taxa de juros de referência do Brasil para 10% a.a. em meados de 2024, segundo o especialista. Mas, depois disso, o espaço parece mais limitado para promover novos grandes cortes.

Esta é a terceira redução seguida da Selic após um período sete manutenções consecutivas e o menor patamar desde março de 2022, quando a taxa de juros estava em 11,75%. A decisão do colegiado seguiu as expectativas do mercado, como mostrou a Jovem Pan. Na ata da reunião anterior, os membros do grupo já haviam sinalizado a possibilidade de continuar com reduções de 0,5 ponto percentual nos encontros seguintes. A última edição do Boletim Focus, que mede as expectativas do mercado, também projetava o corte de 0,5 p.p..