De veterinária à CEO de tech: trajetória de Luiza Dias é marcada por perseverança

Natural de Minas Gerais, Luiza Dias não tinha uma rotina como veterinária. Cada dia era diferente e demandado conforme a necessidade de cuidados com os animais das diversas fazendas em que trabalhava. Logo aconteceu a mudança para os Estados Unidos e a maternidade veio. Ela, então, decidiu fazer uma pausa na carreira.

“Quando a Olivia nasceu, aquela vida de antes não era mais compatível com minha realidade. Eu não tinha rotina ou horário. Como nos Estados Unidos é muito comum ficar em casa com os filhos, me dediquei três anos à maternidade. No momento em que decidi voltar, fiquei perdida, não sabia o que queria fazer”, lembra a hoje presidente da GlobalSign Brasil, autoridade certificadora e fornecedora de soluções de identidade e segurança para a Internet das Coisas (IoT).

Ela, então, fez diversos trabalhos, mas nada relacionado à tecnologia. Um dia, em uma das muitas buscas no LinkedIn, se deparou com um anúncio da GlobSign procurando por uma assistente de vendas nos EUA que falasse português. “O único requisito que eu preenchia era o idioma”, brinca.

No dia da entrevista, foi questionada se sabia algo de tecnologia e vendas e ela foi sincera. “Passei dois dias no site da empresa e não entendi nada. No dia eu inverti a conversa e perguntei o que eles estavam buscando de competências comportamentais, porque na parte técnica eu realmente não tinha nada a oferecer na época. Reforcei que eu tinha muito jogo de cintura”, completa ela, lembrando que saiu de lá com a certeza de que não seria contratada.

Para sua surpresa, alguns dias depois ela foi convidada para ocupar a posição. “Eles resolveram apostar em mim. Fui me interessando e me envolvendo com outros departamentos, um verdadeiro mergulho para que eu conseguisse conversar com o cliente. Eu precisava entender do produto, do suporte, de marketing… Foi dando muito certo”, conta.

Força materna

Em pouco tempo, Luiza ganhou responsabilidades, gerando resultados positivos e a gerenciar times. Um crescimento exponencial para quem sempre teve muita garra e perseverança.

Em sete anos, ela conquistou o posto máximo da empresa no Brasil, como CEO da operação nacional e, em 2021, depois de 15 anos nos EUA, se mudou novamente para sua terra natal para abrir oficialmente o escritório por aqui. Logo no primeiro ano, o time da GlobalSign Brasil bateu a meta de faturamento em linha com sua missão de tornar o mundo digital mais seguro.

“Foi uma mistura de abertura da empresa e meu momento de vida. Eu me separei nesse caminho, estava literalmente sozinha, sem amigos ou familiares, e tive o empurrão da força materna, da mentalidade de precisar fazer diferente, de ser exemplo de luta, de dedicação. Essa é a força que a Olivia me deu”, diz, lembrando que teve de encarrar o desafio de frente.

Luiza morava mais ao norte dos Estados Unidos, em New Hampshire, e a adaptação à vida local, com temperaturas que muitas vezes chegavam a menos 27 graus Celsius, não foi fácil. Era comum ela ter de acordar muito antes de sair de casa para descongelar o carro, ver quantas blusas iria colocar em sua filha e sair.

“Lembro-me das vezes em que minha filha ficava doente e a GlobalSign sempre foi muito humana, pois tem flexibilidade de horário. Ia muitas vezes para casa, fazia a comida, a colocava para dormir, e, por fim, pegava o computador para trabalhar madrugada afora. Muitas vezes estava exausta, com a função de mãe cumprida, mas seguindo firme com minha carreira”, recorda.

Missão: mãe

Os desafios de Luiza como profissional e mãe seguem e crescem todos os anos. É como um videogame: as fases vão ficam mais difíceis. As projeções de crescimento da GlobalSign são agressivas e todo ano a empresa salta cerca de 25% e a pressão de equilibrar todos os pratos é enorme. “Sempre tem a culpa e a reflexão: será que estou dando atenção suficiente. Qualidade versus quantidade é bonito, mas a gente se sente muito mal com isso”, relata.

Ela revela que aos finais de semana tenta desconectar e aproveitar com a filha, mas nem sempre consegue. Muitas vezes, ela se pegou assistindo a um filme e respondendo e-mail.

Na época em que Luiza estava abrindo o escritório no Brasil, ficou muito envolvida com todos os passos: desde a escolha de móveis, passando pela papelada de abertura até entrevistar o time que iria trabalhar com ela. Toda essa jornada demandou muito do seu tempo e um momento específico a marcou.

“Tenho um escritório em casa e minha filha veio com uma prancheta me pedir um horário para falar comigo. Depois disso, comecei a me policiar mais. Mas essa dupla jornada tem um lado bom para ela: antes ela me imitava, brincava de fazer reuniões, anotações. Certa vez teve o dia das profissões na escola e ela me pediu a camiseta da GlobaSing para falar do meu trabalho”, conta, reforçando a visão de que o exemplo arrasta.

Dar conta de tudo?

Com a reflexão de que ser mãe e profissional é sinônimo de não dar conta de tudo, Luiza propõe que outras mulheres pensem que é preciso se perdoar, pois certamente não daremos conta de tudo. “Não existem filhos felizes e satisfeitos sem uma mãe feliz e satisfeita, educamos pelo exemplo. Por isso, preste atenção em você, na sua jornada, é o melhor que você pode fazer por eles”, ensina.

Ela lembra ainda que as mulheres e mães têm o desafio constante de se provar no mercado de trabalho, mas que é preciso quebrar a mentalidade de que ao ser mãe nenhuma empresa a contratará mais. “As coisas começam na boca e chegam no coração”, encerra ela.

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