Decisão do Copom de manter taxa de juros pode limitar crescimento da atividade econômica, avaliam especialistas

Nesta quarta-feira, 22, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu manter a taxa Selic em 13,75% ao ano. A medida já era esperada por economistas, mas foi recebida de forma mista pelo mercado, que aguarda a redução gradual do percentual. A Confederação Nacional da Indústria (CNI) considerou como ‘equivocada’ a decisão. Na avaliação da instituição, o Copom já deveria ter iniciado o processo de redução da Selic nesta reunião. “Para a CNI, a Selic em 13,75% ao ano está em nível acima do necessário para garantir a manutenção da trajetória de desaceleração da inflação nos próximos meses. A taxa básica de juros no patamar atual foi um dos fatores determinantes para a desaceleração da atividade econômica no final de 2022, com destaque para a retração de 0,2% no PIB do último trimestre. E seguirá sendo um limitador significativo para o crescimento da atividade em 2023, quando as previsões para o PIB indicam alta de apenas 0,88%, segundo o Boletim Focus do BC”, afirmou a CNI em nota.

“No momento, a CNI explica que é fundamental levar em consideração que os eventos adversos relacionados a grandes empresas varejistas no Brasil terão influência negativa sofre o mercado de crédito. Esses acontecimentos têm levado ao aumento de provisões por parte dos bancos, o que reduz a oferta e tende a encarecer o crédito. Assim, deve haver retração das concessões de crédito nos próximos meses, com reflexos negativos sobre a atividade econômica. Além disso, as dificuldades enfrentadas por bancos nos Estados Unidos e na Europa também devem levar a aperto nas condições de crédito nessas regiões, com provável alteração na trajetória até então esperada de elevação nas taxas de juros básicas. Na avaliação da CNI, é preciso que o governo tenha cautela na condução dos gastos públicos, para evitar que a taxa Selic permaneça em patamar alto, com prejuízo para a atividade econômica”, complementou.

Contudo, analistas do mercado financeiro observam que a medida pode ser positiva no longo prazo e ajudar a diminuir a inflação. Todavia, o cenário também depende da recepção do arcabouço fiscal, que será apresentado em 1º de abril. “Se não houver mudanças no cenário internacional e a projeção da nova âncora fiscal der sinais positivos, a manutenção da taxa de juros deve trazer resultados positivos na redução do processo inflacionário. Com isso, pode haver uma redução progressiva da Selic, fechando o ano na casa de 12,25% ou 12,75%. Tudo isso depende muito das variáveis internacionais. Outro fator que temos que levar em consideração é que o Banco Central tem que garantir o poder de compra da moeda brasileira. Essa obrigação de manter a inflação dentro da meta se torna vital para garantir que o órgão cumpra sua principal função. O principal foco da política econômica hoje é a garantia da austeridade fiscal e o novo arcabouço é de extrema importante para garantir isso”, aponta Alessandro Azzoni, economista e conselheiro da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alessandro Azzoni.

Apesar disso,  a alta de Selic também é negativa para o mercado consumidor. Azzoni explica que uma taxa de juros muito alta freia o setor produtivo e, para estimular o crescimento econômico, é preciso ter uma redução para fazer com que o custo do dinheiro seja menor. Além disso, diversos setores sofrem com o alto valor de financiamentos, potencialmente se tornando inviáveis. “Temos uma projeção de inflação de 5,96% e o juros hoje é mais que o dobro disso. Esse é um valor totalmente exorbitante. Antigamente, se tínhamos uma inflação de 6%, a Selic ficava em torno de 8% a 9%. Isso extrapola e vem frear o processo econômico brasileiro”, pondera.