Diesel: Novas altas podem ocorrem e impactar safra 23/24

Um dos combustíveis mais importantes para o agronegócio deverá ficar mais caro após o governo retomar parte da cobrança do PIS/Cofins sobre o diesel. O imposto estava zerado desde 2021, e o governo Lula havia decidido prorrogar o incentivo até 31 de dezembro de 2023, mas precisou antecipar a cobrança para compensar o programa de descontos para carros novos que foi lançado no meio do ano. O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Pedro Rodrigues, diz que o diesel pode ficar mais caro. Confira a conversa que tive com ele:

Há perspectiva de novos aumentos de preço para os combustíveis com a retomada dos impostos e alta do petróleo? Dos impostos, sem dúvida. Geralmente, quando eles aumentam, eles são repassados quase que imediatamente para o consumidor. Então, o governo quando agora antecipou a retomada da cobrança total, na verdade parcial sendo cobrado já de um certo percentual ao longo do tempo para o financiamento do programa da compra de carros, o consumidor do diesel vai sentir sim o aumento desse PIS/Cofins na bomba. Uma situação diferente é o que a gente vê na alta do barril de petróleo. O barril subiu em razão do corte da produção de um milhão de barris feito pela Arábia Saudita, mas a política de preço da Petrobras hoje não segue mais a paridade de preço da importação. Então, dessa forma, fica difícil a gente dizer em quanto tempo ou se a Petrobras vai aumentar esse preço, em quanto ela vai aumentar e quando ela vai aumentar. Essa política de preço, na verdade, tirou transparência e previsibilidade do preço do combustível para o consumidor.

É algo imediato? Quanto mais caro o diesel vai ficar em função da retomada desses tributos? Esses tributos, lá em 2021, era algo em torno de R$ 0,35 por litro do diesel. Então esse aumento agora, ele pega algo em torno de R$ 0,24. O consumidor pode prever que pode chegar até os R$ 0,35 no dia 31 de dezembro de 2023. Porque essa antecipação foi feita, mas se não tivesse antecipação, também no dia 31 de dezembro, o consumidor iria ter a recomposição, a reoneração da alíquota de PIS/Cofins sobre o preço do diesel, o que faria o combustível ficar mais caro, dependendo também da política de preço e de como se comporta o petróleo, de como a Petrobras vai se comportar, poderia ter um aumento. Vale lembrar que o PIS/Cofins, ele é um aumento não em percentual, mas em centavos por litro. Então, se a gente tem uma redução de câmbio, por exemplo, ou uma redução do preço do barril e temos o retorno da PIS/Cofins, pode ser que, na bomba, o consumidor não sinta tanto esse aumento, e vice-versa. Mas, o que a gente está vendo hoje é o contrário. Estamos vendo uma subida no preço do barril e uma reoneração do combustível. Porém, como eu coloquei, hoje essa subida no preço do barril, não necessariamente no curto e médio prazo, pode ser entendida como aumento de preço para o consumidor, dado que a política de preço da Petrobras hoje não tem essa transparência.

Hoje há uma defasagem em relação ao preço praticado no diesel da gasolina aqui no Brasil e o preço do mercado internacional? Se tivesse uma PPI ele teria que estar mais alto? Sem dúvida, hoje temos uma defasagem, sim, tanto na gasolina quanto no diesel. Ela já foi maior, vale lembrar que a Petrobras, há pouco tempo, anunciou um grande aumento nos combustíveis, principalmente no diesel, porque o Brasil é importador de diesel. Mais ou menos 25% do diesel consumido do Brasil é importado. Quando a Petrobras começa a aplicar uma defasagem muito alta, ou seja, vender diesel mais barato do que no mercado internacional, sempre corremos o risco de ter desabastecimento. Desabastecimento de diesel não significa que vai acabar o diesel nos postos de gasolina. Significa, simplesmente, que alguns postos talvez possam ter determinadas dificuldade de comprar o produto. Pode faltar por alguns dias. A Petrobras realizou esse aumento tentando evitar esse tipo de coisa. É importante dizer que, para o consumidor, muitas vezes parece bom ter uma redução de preço ou uma artificialidade de preço, quer dizer, pagar mais barato. Mas, também é importante lembrar que essa conta no final sempre vem, não é bom termos artificialidade de preços em um livre mercado como acontece com o mercado de diesel, de gasolina, de combustíveis em geral aqui no Brasil. A conta acaba saindo mais caro no final do dia.

Quanto está essa defasagem hoje? Quanto mais ou menos o diesel teria que estar? É difícil dizer para o consumidor na bomba qual seria essa defasagem. Na refinaria, quer dizer, quando a Petrobras vende esse combustível para os distribuidores, estamos falando, hoje, de uma defasagem em torno de 10%. Ela já foi maior, mas hoje está em 10%. Quando essa defasagem acontece, para o consumidor final, o preço na bomba é sempre livre. Então, muitas vezes, a Petrobras aumenta o preço na refinaria, mas determinada distribuidora não repassa todo o aumento. O posto de gasolina também pode não repassar todo. Ou seja, funciona o livre mercado. Sempre que a gente fala dessa defasagem, é o preço vendido pela Petrobras na refinaria, sem a margem da distribuidora, sem a margem dos postos de revenda e sem os impostos.

Qual é a sua previsão para esses próximos meses em relação à oferta de diesel? Semanas atrás vimos o caso de postos que reclamavam da dificuldade de manter o seu abastecimento total. Isso vai se repetir? Essa defasagem ainda não é tão alta. O que aconteceu na última vez com a Petrobras foi um aumento de 16% – a defasagem chegou a quase 30%. Quer dizer, chegou a 26%, 27%, aí, sim, o mercado começou a sinalizar essa falta. Não acredito que a Petrobras vai deixar esse preço artificialmente mais baixo a ponto de faltar diesel. Acho que vai acontecer exatamente o que aconteceu da outra vez. A Petrobras vai ser obrigada a dar um aumento, menor ou maior do que foi da última vez. Com essa política de preço ela [Petrobras] tira uma palavra que você colocou muito bem, que é importante para o produtor e para o consumidor de diesel, que é a previsibilidade. Se a Petrobras seguir isso, o preço e a tendência do mercado internacional, podíamos estar falando aqui hoje de uma possível alta nos preços, dado que o barril do petróleo saiu de US$ 85 para US$ 90. A defasagem indica uma tendência, não necessariamente um aumento matemático dos preços. Mas o consumidor e o produtor poderiam ter um norte, certa previsibilidade. E com essa política hoje ele não tem. A política atual não traz transparência, é muito difícil saber como a Petrobras calcula a venda de combustíveis para as distribuidoras. Também não traz previsibilidade para o consumidor, visto que o barril do petróleo pode aumentar e não necessariamente o diesel aumentar aqui dentro. No final, o que o produtor e o consumidor precisam é essa previsibilidade, o que, na minha opinião, falta na atual política de preço da companhia.

Qual é a tendência para o preço do barril? Esse movimento de alta tem fundamentos para continuar? Se pegarmos a demanda por petróleo do mundo, ela já voltou a patamares um pouco maiores que antes da pandemia. Nesse momento de mercado, em razão de uma série de fatores, principalmente o movimento acelerado de transição energética e pouco investimento de países como os Estados Unidos e outros grandes produtores, de empresas na descoberta, exploração de novos campos de petróleo, isso deu muito poder a Opep+, liderada pela Arábia Saudita e pela Rússia, que são dois países que têm um modelo político que não é igual ao modelo democrático: é um modelo cuja decisão de corte de barris ou qualquer outra é feita de forma unilateral. Então, esses países, hoje, tentam, de alguma medida, através de corte de oferta, elevar o preço do barril para cima de US$ 85 até US$ 90. É o que temos visto. Mas nada impede deles fazerem mais corte. Esses países hoje são price maker, eles conseguem fazer o preço do barril de petróleo em razão da importância da sua oferta de petróleo para o mercado global. Se as economias voltarem a crescer, veremos um barril mais alto, na casa dos US$ 90, US$ 93, talvez na média do ano. Mas, volto a falar, é difícil dizer se o barril vai subir nos próximos dias, nos próximos meses. Temos que acompanhar tanto os movimentos dos países quanto os cortes de produção desses países, hoje liderados pela Arábia Saudita, que é a Opep+.

Qual o cenário base que você desenha para a gente? Eu acho que no cenário base teremos um pequeno aumento de preços, em razão da retomada recomposição desse PIS e dessa Cofins, mas acho que o cenário para frente, ainda principalmente em razão do aumento do preço do barril, é nebuloso em razão dessa pouca transparência da política de preço da Petrobras.

E em relação à gasolina? O setor de etanol está preocupado com a perda de competitividade do etanol se não houver o reajuste da gasolina à medida que o preço internacional suba. Qual é o cenário base? É um cenário muito parecido, porque a gasolina também sofre a defasagem. Só que a gasolina, do ponto de vista ambiental, principalmente para o etanol, ainda é pior, porque a gasolina é um competidor do etanol. Se você cria artificialidade de preços, ou seja, vende gasolina mais barata do que no mercado internacional, você está dando um sinal de que o etanol está perdendo competitividade. Isso é muito ruim, não só para o produtor de etanol, como também para o meio ambiente do país como todo.