Dinheiro, brasileiros e estrutura fora do padrão europeu: O que Neymar vai encontrar na Arábia Saudita?  

Principal jogador do Brasil da última década, o atacante Neymar decidiu mudar a rota de sua carreira e assinar com o Al-Hilal, da Arábia Saudita. Após passar dez anos na Europa, o craque migrou para a Ásia e viverá uma realidade completamente diferente, seja dentro ou fora de campo. Oficialmente, o brasileiro afirmou que aceitou a proposta da equipe do Oriente Médio porque gostaria de se tornar um “atleta global”. “Eu conquistei muito na Europa e desfrutei de momentos especiais, mas eu sempre quis ser um jogador global e me testar com novos desafios e oportunidades em novos lugares”, disse. Para os torcedores e boa parte dos comentaristas, entretanto, a escolha priorizou o aspecto financeiro. De acordo com a imprensa europeia, Neymar quadruplicou seu salário, passando de 40 milhões de euros anuais (R$ 216 milhões) para 160 milhões de euros (R$ 866 milhões). Assim, ele será o terceiro futebolista com melhor remuneração no mundo, atrás apenas de Cristiano Ronaldo (Al-Nassr) e Karim Benzema (Al-Ittihad) — ambos também atuam na Liga Saudita.

Apesar de possuir um salário astronômico, Neymar não encontrará uma infraestrutura semelhante às de Barcelona e Paris Saint-Germain. Ex-treinador do Al-Hilal, Rogério Micale afirmou ao site da Jovem Pan que os clubes sauditas possuem apenas uma “estrutura funcional”, ficando atrás até times do Brasil neste aspecto. “Em termos de estrutura, o Al-Hilal tem uma boa estrutura, mas não é excelente. Dentro da Arábia Saudita é o mesmo modelo para praticamente todos os clubes. O Al-Hilal melhorou significativamente neste sentido, mas não chega a ser uma infraestrutura de primeiro mundo, como nós vemos na Cidade do Galo, do Atlético-MG, no Athletico-PR e no próprio São Paulo. Longe disso! É mais compacta e simples. Ainda assim, atende as necessidades. Ela é funcional”, explicou o técnico, que ganhou o ouro olímpico na Rio-2016 ao lado de Neymar. Já sobre a ida de seu ex-comandado para a Arábia Saudita, Micale considerou a negociação como algo natural. “É uma tendência. Até porque a Arábia Saudita terá uma das principais ligas do mundo em função da questão econômica do país. Assim como a Europa é um continente importador de talentos, a Arábia Saudita tende a contratar bastante porque a moeda é forte e o país tem muito dinheiro. A questão é totalmente financeira”, acrescentou.

Na esteira dessas grandes contratações, Neymar viu que poderá “matar a saudade” do Brasil com alguns amigos compatriotas. Dos 147 jogadores estrangeiros da Liga Saudita, 28 são brasileiros. No próprio Al-Hilal, o craque formará um trio de ataque com Malcom, ex-Barcelona, e Michael, ex-Flamengo. Fabinho, Roberto Firmino e Alex Telles, companheiros de longa data de seleção brasileira, também estão no país do Oriente Médio. Ao mesmo tempo em que atletas de alto nível chegam, apenas quatro da Liga Saudita estão se beneficiando com as contratações. Isto porque somente Al-Hilal, Al-Nassr, Al-Ittihad e Al-Ahli são controlados pelo governo do sheik Mohamed bin Salman. A discrepância para outras equipes, assim, tende a ser maior.

“Você olha para os jogadores do Khaleej e do Ahli e há uma grande diferença aqui. Eu gostaria de perguntar: o público está satisfeito com isso? Há apenas quatro times com jogadores muito bons. Isso não me parece justo. A gente fala que ‘é 11 contra 11’. Há dois meses, eles estavam jogando na Premier League e agora estão jogando na nossa frente, o que indica uma injustiça”, desabafou Hamad Al Abdan, atleta do Al-Khaleej, em entrevista coletiva. Desta forma, Neymar também deve encontrar uma liga onde poderá melhorar seus números. No Paris Saint-Germain, o atacante não rendeu o esperado devido ao alto número de lesões, mas somou uma boa média. Ao todo, foram 173 jogos, com 118 gols e 70 assistências.