Em tempos de crise, como equilibrar o mercado de consumo com as práticas ESG? 

Nos últimos anos a discussão sobre “sustentabilidade” tem ganhado maior destaque na sociedade, inclusive com reflexos no mercado de consumo. Os consumidores já se mostram mais conscientes sobre o impacto ambiental e social em relação aos produtos que consomem, o que acaba refletindo em um aumento na procura por empresas que adotam práticas ESG (Ambientais, Sociais e de Governança). Por outro lado, sabemos que as empresas precisam se manter competitivas e gerar lucro para seus acionistas. E aí surgem algumas importantes questões: como conciliar essas duas demandas aparentemente conflitantes? É possível manter o equilíbrio entre mercado de consumo e ESG?

Podemos dizer que não há conflito entre essas demandas, as quais até podem se complementar. Empresas que adotam práticas sustentáveis ​​e responsáveis ​​socialmente podem se beneficiar de uma maior lealdade dos consumidores que valorizam tais ideias e estão dispostos a pagar mais por seus produtos. Contudo, embora não exista um maior conflito aparente, em tempos de maior crise econômica pode ser um desafio a busca pelo equilíbrio. Por outro lado, sabemos que existem algumas estratégias a serem adotadas para enfrentar essa situação.

Antes de tudo, é necessário identificar as áreas onde uma empresa pode ter um impacto mais significativo em relação às questões ESG. O investimento em eficiência energética pode ser um exemplo para redução de custos operacionais e redução da emissão de carbono. É fundamental que se procure integrar essas práticas no planejamento estratégico da empresa, com a devida comunicação aos stakeholders, como clientes e investidores, referente às ações adotadas com essas questões, o que poderá permitir o aumento da lealdade do seu consumidor. Na busca por novas receitas e redução de custos, é possível a exploração de novas oportunidades de negócios identificados com as práticas ESG, como a produção de produtos inteligentes ou a implementação de programas de reciclagem. 

Além disso, por que não analisar a possibilidade de serem firmadas parcerias com organizações que compartilham dos mesmos valores e objetivos em relação às práticas ESG? Internamente, é fundamental promover a educação e a conscientização sobre questões que envolvem a empresa e os seus consumidores, o que poderá promover um aumento na demanda por produtos e serviços atraentes para esse mercado, cada vez mais consciente e engajado. Nesse sentido, pensando nas companhias que buscam equilibrar as práticas ESG com o seu mercado de consumo, tomo a liberdade de apresentar alguns benefícios e desafios desse processo.

Benefícios:

  • Melhora na imagem da marca: resultado da construção de uma opinião positiva entre os consumidores e investidores.
  • Maior acesso a investidores responsáveis: isso pode tornar a captação de recursos mais fácil.
  • Maior eficiência operacional: redução dos custos e do desperdício.

Desafios:

  • Custo: inicialmente esses investimentos podem aumentar os gastos operacionais e reduzir os lucros em um período de curto prazo.
  • Conflitos de interesse: certamente surgirão contradições entre atender as expectativas dos investidores e as necessidades dos consumidores.
  • Conformidade regulatória: as empresas precisam cumprir as normas cumulativas às questões ESG, o que pode ser um desafio em algumas jurisdições.
  • Falta de padronização: a falta de padrões comuns em torno das questões envolvendo ESG pode dificultar uma avaliação das empresas sobre o seu desempenho, refletindo em uma comunicação falha com o mercado.

Feitas estas considerações, é preciso ressaltar a possibilidade de termos duas situações distintas. Se, por um lado, o necessário equilíbrio das demandas do mercado de consumo e as preocupações com ESG podem ser um desafio significativo para as empresas, por outro, a obtenção desse equilíbrio pode beneficiar na melhora da imagem da sua marca, da sua eficiência operacional e do acesso aos investidores responsáveis. Diferentemente do que muitos imaginam, as práticas ESG devem ser encaradas como uma oportunidade para que as empresas se destaquem no mercado e gerem valor para seus acionistas. O ESG não deve ser visto como um obstáculo.