Empreendedora conta como trocou jornalismo por marca de pão de queijo com sabor de aconchego 

Nossa Mulher Positiva é Carla Fiorito, jornalista, apresentadora, mãe de Gabriel (11 anos) e empreendedora das marcas Pão de Queijo e Pão de Beijo da Cidade. Carla não tem medo de se reinventar e transita com habilidade por universos totalmente diferentes. É uma mulher multifacetada; ao mesmo tempo em que sobe ao palco para comandar, como Mestre de Cerimônias, o evento de uma grande empresa, veste a camisa do empreendedorismo feminino e traça estratégias para fazer seu pequeno negócio ganhar espaço no mercado de alimentação. Construir, reconstruir e aprender com os processos todos os dias, com a mão na massa.

1. Como começou a sua carreira?
Sou formada em Jornalismo e Comunicação Social pela PUC-SP desde 1999. Iniciei minha carreira na área na TV Universitária, fazendo reportagens. Ainda na faculdade, meu primeiro emprego foi no Canal Rural, do grupo RBS. Foram três anos em que passei por muitas áreas diferentes que valeram como mais uma faculdade: de produtora, passei a pauteira; depois repórter e apresentadora. Como a estrutura ali era pequena, tínhamos que fazer de tudo: desde dirigir o carro da emissora até uma cidade do interior onde gravaria uma reportagem, até editar a matéria em vídeo e, depois, apresentar ao vivo no telejornal. Todos esses processos foram fundamentais para o meu desenvolvimento profissional, fazendo com que eu passasse a entender o todo, algo essencial para o desenvolvimento do meu negócio como empreendedora. Do Canal Rural, fui para o Multishow, canal Globosat, e novamente, a mão na massa foi uma característica forte: passei da produção para a criação das pautas até a realização (off câmera) de entrevistas com grandes nomes da música e da cultura brasileira, além da cobertura de grandes festivais. Jamais vou me esquecer do dia em que fui escalada para entrevistar Ney Matogrosso durante um grande evento da Globo.

Eu ainda era uma jovem de 20 e poucos anos, parei na porta do camarim e vi o nome dele impresso: Uau! O frio na barriga deu lugar a uma conversa em que o cantor (que tinha fama de bravo com os repórteres) foi muito generoso comigo e me deixou confiante para seguir em frente com o trabalho. Depois disso, tive a oportunidade de entrevistar Caetano Veloso, Gilberto Gil e tantos outros nomes. Passei por emissoras como Rede TV!, onde fui responsável pela editoria de internacional. Fui repórter do programa “No Coração do Brasil”, da Band, comandei, ao lado de Cunha Júnior, o “Vitrine”, uma das revistas eletrônicas mais tradicionais da TV brasileira, exibida durante anos pela Cultura e que também contou com nomes importantes como Renata Ceribelli e Marcelo Tas. Ao mesmo tempo, fui escolhida para ser apresentadora da TV Tam Nas Nuvens. Durante quase sete anos, viajei pelo Brasil e muitos outros países gravando matérias sobre os destinos turísticos da companhia aérea e que eram exibidos na telinha dos aviões. Foi a realização de um sonho que sempre tive comigo: o de desbravar o mundo. Fiquei conhecida por milhões de passageiros que, todos os dias, embarcavam nas aeronaves e, até hoje, acontece de alguém comentar: “você não era a garota da TAM?”.

Também transitei pelo universo da moda, apresentando por quatro anos um programa na Fashion TV Brasil. Também tive várias experiências em TVs corporativas, como do Banco Santander e Avon, até que conheci o mundo das startups ao trabalhar na eduK, uma empresa focada em educação e que ensinava mulheres a transformar habilidades caseiras, como confeitaria, gastronomia e artesanato em negócios lucrativos. Foi aí que vivi uma grande virada na minha carreira. Brinco que ali fui mordida pelo “bichinho do empreendedorismo”. Decidi criar a Pão de Queijo da Cidade para contar a história da receita de maior sucesso da minha mãe, a dona Maria: uma paraibana arretada que saiu da roça ainda pequena e venceu em São Paulo com uma receita autoral de pão de queijo. Hoje a marca tem quatro anos e meio, e nossa proposta é oferecer aos nossos clientes produtos artesanais, feitos com ingredientes naturais, sem nada de química ou conservantes e com sabor de aconchego e amor, assim como abraço de mãe. Um dos nossos maiores diferenciais é a versão vegana (feita à base de batata doce e mandioquinha) que atende a um mercado cada vez mais crescente de consumidores que não podem ou optam por não comer produtos com ingredientes de origem animal, como queijo, leite, ovos e manteiga. Vejo a nossa marca Pão de Beijo da Cidade como o futuro do pão de queijo: gostoso como o que é feito na fazenda, saudável e, ainda por cima, sustentável.

2. Como é formatado o modelo de negócios do Pão de Queijo da Cidade? Nascemos como uma marca online, vendendo nossos produtos congelados (pães de queijo, pães de beijo veganos e versões em waffles) via site próprio. Em pouco tempo, passamos a atender o food service, como cafeterias e padarias, como a Padoca do Maní. Hoje, estamos desbravando o mundo do varejo, e agora a marca também está presente em empórios e supermercados como Casa Santa Luzia, entre outros. Além disso, apostamos muito no nosso modelo de assinatura, afinal, pão de queijo é um dos salgados mais consumidos pelo brasileiro, sendo considerado, inclusive, patrimônio cultural e imaterial brasileiro. Difícil encontrar quem não ame, né?

3. Qual foi o momento mais difícil da sua carreira?
Quando me tornei mãe de Gabriel, 11 anos atrás, esse movimento entre as mulheres de defender nosso espaço no mercado de trabalho ainda não era tão forte e evidente. A maternidade era uma quebra na curva de crescimento profissional, e senti que sair de cena por um tempo para cuidar dele me deixou um tanto insegura para voltar (ainda mais trabalhando com a minha imagem). Sinto que, naquele momento, não consegui equilibrar tão bem o desafio da maternidade com a dedicação que o trabalho externo também exige. No começo, me sentia culpada se saía para fazer uma viagem a trabalho, e quando voltava e passava muito tempo em casa, não conseguia assumir para mim mesma que sentia falta de ser a Carla profissional. Se fosse hoje, acredito que seria muito mais fácil entender que está tudo bem, que podemos ocupar todos os lugares e estar inteira em cada um deles. É um exercício de consciência, não é nada fácil ser mulher, mãe, profissional, empreendedora, e vejo que, com o tempo, vamos aprendendo (ou espera-se que aprendamos) a lidar melhor com essa pressão interna e externa, além de abrir mão de sermos perfeitas o tempo todo. Isso é simplesmente impossível.

4. Como você consegue equilibrar sua vida pessoal x vida corporativa/empreendedora? Pois é, será que eu consigo? Brincadeiras à parte, tenho feito o exercício diário de escolher minhas batalhas. Ser empreendedora não é nada fácil, vamos falar a verdade, ainda mais no Brasil. Quando criamos um negócio, uma pequena marca como a minha (que, pensando positivamente, ainda vai ser grande), passamos 24 horas por dia pensando e respirando o negócio. Sem equilíbrio interno, é difícil não enlouquecer. Hoje, além de gerir o Pão de Queijo da Cidade, sou Mestre de Cerimônias de eventos corporativos para grandes marcas. É um trabalho que exige muita responsabilidade, foco e concentração. Quando estou ali, em um palco representando uma empresa, eu tenho que estar presente neste trabalho, não posso estar preocupada com o fluxo de caixa, com as vendas, com os boletos da Pão de Queijo da Cidade. Portanto, tenho buscado equilíbrio na presença. Tento, cada vez mais (e isso me parece que está sendo uma conquista recente minha), focar no aqui e agora. Quando chego em casa, os desafios são outros: tenho filho para dar atenção e seguir no foco da educação, tenho casa para cuidar, que é outra empresa para administrar, vocês sabem bem, né? Voltei a fazer ioga, que me ajuda demais a baixar a ansiedade, a me alongar, traz consciência para a respiração e também a me lembrar do quanto eu sou uma pessoa privilegiada. Ser gentil comigo mesma no sentido de reconhecer que fiz o possível e o meu melhor também tem sido um lindo exercício diário de equilíbrio.

5. Qual seu maior sonho? Olha, tenho alguns: em primeiro lugar, sonho e trabalho para que não falte a mim e à minha família o básico e que a gente também possa desfrutar, ter prazer e alegria na vida. Que essa nossa jornada não seja pesada no sentido de deixar os problemas e desafios parecerem maiores do que o contexto geral da vida de privilégio que realmente temos. Sonho e me cuido para ser uma velhinha ativa, com saúde e com um mínimo de condição financeira para viver até o fim curtindo e com a certeza de que tudo valeu a pena. E enquanto esse dia não chega, ainda sonho em rodar muitos lugares incríveis em um motorhome junto com meu filho, meu marido, Daniel, e nosso cachorro Trovão. E por que não fazer disso um conteúdo a ser compartilhado como nos tempos de repórter de viagem?

6. Qual sua maior conquista? Nossa, que pergunta difícil. Mas olhando para a Carla de 2023, talvez a minha maior conquista esteja no entendimento de que, apesar do orgulho que tenho de ser uma mulher independente e de tudo o que construí até hoje, a vida é muito mais prazerosa e leve em parceria.

7. Livro, filme e mulher que admira (não pode ser a mãe) Livro: “Cem Anos de Solidão”, de Gabriel García Márquez. Filme: “Into the Wild” (Na Natureza Selvagem). Mulher: Maria, Priscila, Alessandra, Carla, Cris, Juliana, Carol, Silvia, Michelle, Mariana, Domingas, Fabiana, Rita, Renata, Karin, Luciana, Salete, Regina, Daniela… São todas as mulheres reais que fazem parte da minha vida, família de sangue e família escolhida. Toda e qualquer mulher que, assim como eu, é imperfeita, única, admirável, lutadora e me ensina ao longo da vida o quanto todas nós somos incríveis.