Estamos diante de um desastre civilizatório

A educação no Brasil virou caso de saúde pública. Se os índices de evasão escolar no ensino médio já eram ruins, ficaram ainda piores durante a pandemia.  O número de adolescentes que abandonaram os estudos saltou de 165 mil para 377 mil entre 2020 e 2021, um aumento de 128%. Segundo o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc), Norte (+846%) e Nordeste (+218%) foram as regiões mais afetadas. Esse enorme contingente de brasileiros e brasileiras que não concluirão o ensino médio se soma à bomba geracional formada por aqueles que não estudam nem trabalham, os chamados nem-nem. Segundo o IBGE, os brasileiros desocupados, na faixa etária de 15 a 29 anos, chegam a 10,9 milhões. Pela OCDE, que considera a faixa etária de 18 a 24 anos, o Brasil fica apenas atrás da África do Sul, num ranking de 37 países, com 36% de sua população jovem sem qualquer atividade.

É um desastre civilizatório e, claro, econômico. A ausência dessa população no mercado de trabalho, além do impacto negativo no PIB, tente a aprofundar o déficit previdenciário, que este ano deve chegar a 400 bilhões de reais. Situação que se agrava com o fim do bônus democrático, fase de crescimento da população em idade ativa apta para trabalhar. Desde 2022, há uma reversão na taxa de natalidade. Tudo fica ainda mais dramático quando olhamos os resultados do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), divulgados pela OCDE, segundo a qual menos da metade dos estudantes de 15 anos de idade conseguiu atingir um nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências.

O governo fala em voltar a incentivar o ensino técnico e lançou recentemente um programa de bolsas para manter o estudante em sala de aula, repetindo políticas já adotadas em ao menos 6 estados (Alagoas, Bahia, Goiás, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Tocantins). A estratégia tem efeito limitado, pois não ataca o principal problema por trás da evasão: a necessidade de trabalho. Combinar formação escolar com atividade profissional é, sem dúvida, um caminho importante, como demonstram os quase 25 anos do Programa Jovem Aprendiz. Tramita na Câmara, desde 2019, um projeto que institui o Estatuto do Aprendiz, com a promessa de ampliar seu alcance. Em 2022, o governo Bolsonaro também editou uma MP para incentivar a contratação de jovens e mulheres. A imposição de regras ao empresário, sem a concessão de incentivos, é como um tiro n’água. Haverá uma bala de prata para resolver tamanho desafio?

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