EUA pressionam países africanos a liberar operação da Starlink, diz reportagem

O governo dos Estados Unidos, sob liderança do presidente Donald Trump, está sendo acusado de pressionar países africanos a acelerar a liberação de licenças para a operação da Starlink, empresa de internet via satélite de Elon Musk.
A denúncia foi detalhada em uma reportagem investigativa publicada pela ProPublica na última quinta-feira (16), com base em documentos diplomáticos obtidos em países como Gâmbia, Camarões, Djibuti e Lesoto.
Segundo o texto, diplomatas norte-americanos têm intermediado reuniões entre representantes da Starlink e reguladores locais, reforçando que aprovar rapidamente os serviços da empresa seria um sinal de “amizade” com os EUA.
Em alguns casos, a ameaça era implícita. Diplomatas indicavam que, caso a autorização demorasse, programas de ajuda financeira, como o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), agência liderada por Musk, conhecida por cortes drásticos, poderiam interferir no repasse de verbas.
De acordo com o The Verge, um exemplo citado foi o da embaixadora dos EUA na Gâmbia, Sharon Cromer, que mencionou, durante reunião com autoridades locais, que um projeto de US$ 25 milhões para modernizar a rede elétrica do país estava “sob revisão”. Para o governo gambiano, o recado era claro. “A implicação era que os assuntos estavam conectados”, afirmou Hassan Jallow, vice do ministro das comunicações.
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Tensão cresce
O caso se intensificou quando Lamin Jabbi, o chefe da pasta, recusou formalmente os pedidos da Starlink durante uma visita a Washington, nos Estados Unidps. Horas depois, a empresa cancelou uma reunião agendada com o Departamento de Estado, e a embaixadora Cromer passou a pressionar diretamente o presidente gambiano com uma carta de três páginas defendendo a liberação da Starlink.
Em outros países, as estratégias foram semelhantes. Em Lesoto, o acordo com a Starlink foi aprovado rapidamente, ultrapassando concorrentes globais, enquanto o país sofria com tarifas de 50% impostas por Trump, algo que diplomatas americanos teriam comemorado em comunicados internos. A urgência do governo seria garantir vantagem competitiva à empresa de Musk frente à expansão de rivais chineses na região.
Para ex-diplomatas dos EUA, o comportamento da atual gestão levanta sérias preocupações éticas. “Se fosse outro país fazendo isso, chamaríamos de corrupção”, disse Kristofer Harrison, que atuou no Departamento de Estado sob George W. Bush. Já Kenneth Fairfax, ex-embaixador no Cazaquistão, classificou o episódio como “capitalismo de compadrio” em estado puro.
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