Fertilizante recua quase 50% em um ano, é hora de comprar?
Os preços do cloreto de potássio já registram uma queda de 46% nos últimos 12 meses. De acordo com a Agrinvest Commodities, é o menor patamar desde fevereiro de 2021. Confira as tendências de mercado para a safra 2024/25 na entrevista com o analista Jeferson Souza.
Por que o cloreto de potássio caiu tanto? Vai cair mais? É uma combinação de oferta e demanda. Eu lembro que nós conversávamos lá quando a guerra começou entre a Rússia e a Ucrânia, nós tínhamos uma incerteza muito grande com fertilizante. Naquela ocasião, o preço do cloreto, ele chegou próximo de US$ 1.200,00 a tonelada custo e frete. Agora, a tonelada do fertilizante está sendo negociada abaixo de US$ 300 para o importador. Então é uma queda muito grande. Isso aqui é uma resposta de uma grande oferta no Brasil.
Nós importamos no ano passado 13,5 milhões de toneladas de cloreto, o maior volume importado da história. Nós terminamos o ano de 2023 com o maior volume de estoque também da história do Brasil. Então, tudo isso impulsionou para baixo a cotação do fertilizante e proporciona hoje ao produtor rural, ao sojicultor propriamente dito, uma relação de troca abaixo da média dos últimos anos. Não é a melhor relação de todos os tempos, isso tem que falar também, mas ela está abaixo da média e é isso que é importante. Em um ano em que você tem um preço de soja desvalorizado, cotações recuando toda semana, o produtor tem que olhar muito para os outros anos e pensar em gestão de risco. Então é por isso que hoje nós encaramos que o cloreto de potássio, ele tem uma oportunidade na sua aquisição.
E você fez uma pergunta se ele poderia cair mais. A resposta para isso, eu acredito que no curto prazo, nós temos uma tendência contrária. O fortalecimento do preço do cloreto, ele pode acontecer nas próximas semanas, assim como ele já está acontecendo. Então o produtor que analisa sua relação de troca e encara que é um momento propício, eu acho que o cloreto pode ser o primeiro passo que ele dá para a temporada 2024/2025.
Por que o preço do cloreto de potássio já começa a dar sinais de que chegou ao fundo do poço? Você já vê um movimento de alta em algumas regiões? Exatamente. Algumas empresas, desde a semana passada, já começam a reajustar as cotações. Eu tenho computado aqui um aumento de US$ 10 a tonelada nas últimas duas semanas. Então essa tendência, ela já está virando para o cloreto potássio. E por que isso? Por uma demanda no Brasil. A demanda está aquecida para o KCL, os produtores estão aproveitando as oportunidades e estão comprando o cloreto de potássio. É isso o que nós sentimos nos últimos dias e nas últimas semanas. Até mesmo em regiões em que o produtor compra mais tarde, como no caso do Paraná, sul do Mato Grosso do Sul, São Paulo, nós percebemos que ele está aproveitando essa oportunidade. Hoje, eu tenho um avanço bem representativo nas compras de cloreto de potássio no Brasil. Em contrapartida, o fósforo está atrasado.
Como estão os preços e a relação de troca dos fosfatados? Se nós pensarmos no preço do MAP, propriamente dito, você percebe que a retração nos últimos 12 meses é muito menor do que a do cloreto de potássio. E por que isso? Porque você tem hoje um cenário global que faz com que o preço no Brasil, ele se comporte como uma âncora. Você não vê queda para o MAP desde setembro do ano passado. Então, hoje se eu for colocar a relação de troca, eu percebo que ela está acima da média. Isso dificulta a tomada de decisão do produtor. Nesse momento, ele não está comprando fósforo. Esse é o sentimento que nós temos. Eu tenho hoje uma relação interessante para o cloreto. Porém, para o fosfatado, infelizmente, a relação de troca, ela está acima da média. Isso porque a soja ela caiu, mais do que o MAP, por exemplo.
Ou seja, a sua recomendação estratégica do ponto de vista de gestão dos negócios é aproveitar a oportunidade com KCL e executar alguns negócios para 24/25, já que o mercado está começando a dar sinais de que vai mudar? E no caso dos fosfatados, é para esperar? Em resumo, seria isso. Eu tenho comigo uma seguinte premissa: a relação de troca é o termômetro para o produtor comprar o seu insumo, seja o fertilizante, seja o defensivo, seja o que ele comprar. Quando eu tenho uma relação de troca abaixo da média, eu começo a pensar em negociar. Agora, se eu estou no mês de fevereiro, começando a entrar no mês de março e nesse momento eu tenho uma relação acima da média, eu preciso, obviamente, tomar algum tipo de atitude, quem sabe visando mitigar um risco, mas não necessariamente comprando fertilizante. Por que? Porque se você tiver comprando hoje esse fertilizante fosfatado, no caso do MAP, você estará com uma relação de troca acima da média dos últimos anos. Eu conversei com o produtor e ele falou uma frase muito interessante. Ele me disse que para fazer um negócio não tão bom assim, você não tem pressa. Então nesse caso, eu uso essas palavras, até mesmo para definir a situação do MAP no Brasil. Eu não estou dizendo que nós temos chance de ver o preço despencando do MAP. Agora, que a relação de troca está alta para antecipar isso, é um fato. Então isso dificulta a antecipação do produtor.
Dentro dessa perspectiva, a gente está com a comercialização de fertilizantes em qual patamar? Porque a venda de soja antecipada está abaixo da média. Está abaixo da média também. Eu faço um levantamento quinzenal aqui dentro e hoje eu posso dizer para você que nós temos no Brasil por volta de 25% do fertilizante negociado para a soja 2024/2025. Tradicionalmente, nesse período, nós estaríamos acima de 35%. Portanto, eu tenho 10 pontos percentuais, no mínimo, de um atraso na compra do produtor que vai começar a plantar em setembro deste ano. É um reflexo semelhante ao que você falou da venda de soja, né? O produtor está segurando a venda e segurando a compra.
Do lado da oferta de fertilizantes, você vê algum tipo de risco para a temporada 24/25? Nós temos que deixar uma coisa muito clara: o Brasil continua importando mais de 80% do que consome aqui. Você comentou dois players que são os maiores fornecedores de adubo para nós no Brasil, Rússia e China. Do lado da China, eu tenho algumas questões envolvendo fósforo que podem trazer limitações. Agora do lado da Rússia, confesso para você que eu sou cético em relação a uma restrição ainda mais para o Brasil. Nós temos que pensar que a Rússia, ela produz e ela só consome 12% a 15% do que ela produz de fertilizante, o resto, ela exporta. Então, é uma questão comercial. Tenho uma lição que eu aprendi nos últimos anos é que quando você tem um comprador disposto a fazer negócio, as coisas acontecem. Então, eu acredito que hoje, eu não vejo um problema ligado à Rússia. E nós temos um case muito claro do cloreto de potássio.
Uma das razões pela qual nós podemos justificar essa queda no cloreto está ligado a uma sanção que a BieloRússia sofreu, um importante fornecedor para nós. A Europa, os Estados Unidos colocaram sanções no país e o Brasil, nesse caso, foi um destino extremamente atrativo e os negócios se direcionaram para cá, aumentando a oferta. Ou seja, nós tivemos uma queda no preço. Então, ao meu ver, essa questão ligada à guerra hoje, ela é muito mais conhecida pelos players de fertilizante no Brasil e no mundo. Eu particularmente, não encaro hoje um risco Rússia como importante para nós olharmos. Penso que o Brasil vai continuar fazendo bastante negócio na Rússia porque eles precisam vender e nós precisamos comprar.