Como a nova presidência da Petrobras traz impactos para o agro

A Petrobras anunciou nesta semana um reajuste de 7% nos preços da gasolina, algo como R$ 0,23 por litro nas refinarias. A medida está em linha com a atual política da estatal, que acompanha as variações no mercado internacional. Para o diesel, o reajuste não veio dessa vez. A expectativa da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) e do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie) é de que a defasagem esteja entre 9% e 12%, o que sinaliza uma tendência de alta do valor do combustível em breve. As despesas com óleo diesel estão entre as mais importantes na formação de custos do setor agrícola, que está em fase de colheita da soja neste momento e plantio de milho na segunda safra, só para citar duas culturas mecanizadas que necessitam do combustível. De acordo com o Centro Brasileiro de Infraestrutura, quando há defasagem abaixo de 10%, a estatal pode esperar um pouco para ver se câmbio ou o petróleo se ajustam a fim de evitar o reajuste do preço. “Eu só começo a ficar preocupado quando a Petrobras não aumenta o preço com defasagem superior a 10%, porque acima de 10% começa a ter risco de desabastecimento”, explica Adriano Pires, diretor do centro. 

Concordo com Pires quando ele projeta que a alta do diesel ocorrerá, afinal a medida é coerente com a diretriz da atual diretoria. O desafio está em antecipar qual será a política adotada pela nova diretoria. Está marcada para esta quinta-feira uma reunião do Conselho de Administração da Petrobras para aprovar o nome do senador Jean Paul Prates para a presidência da estatal e se ele receber o sinal verde para prosseguir, precisaremos aguardar para entender qual será a política de preços na era Lula.

Até o momento, os sinais não são conclusivos, mas há risco de vermos o PT colocar em prática a intenção (mencionada no plano de governo de Lula) de abrasileirar os preços dos combustíveis com algum controle dos valores. O controle de preço de combustível na era PT gerou prejuízos bilionários ao setor sucroenergético, já que o etanol perdeu competitividade em relação ao combustível fóssil, que teve o consumo incentivado pelo congelamento de preços, e muitas usinas fecharam as portas. A consultoria Archer Consulting avalia que o risco do congelamento de preços voltar a ocorrer ainda não pode ser descartado. 

“O risco é médio para baixo do controle de preços na Petrobras ocorrer. Para o setor de cana, acho que vamos ter uma safra mais açucareira e isso tem relação com a questão da isenção dos impostos federais que contribuiu negativamente com o preço do hidratado e deixou o etanol menos competitivo em relação à gasolina. No momento que voltarem os impostos, aí o etanol volta a ganhar impulso”, explicou Arnaldo Correa, diretor da empresa. A urgência da nova diretoria para, eventualmente, rever a política de preços dos combustíveis estará atrelada à velocidade de subida dos preços internacionais. “Talvez, se o preço continuar a cair, a Petrobras até prorrogue a forma de mexer na política de combustível. Quanto maior o preço internacional, maior a pressa da Petrobras em mexer na política de preços”, explica o head de óleo, gás e renováveis da StoneX Brasil, Smyllei Curcio. Além da política de preços de combustíveis, interessa ao agronegócio entender qual a estratégia para produção de fertilizantes nitrogenados em unidades da estatal. Por enquanto, precisaremos esperar para ver qual será a condução a ser adotada daqui para a frente.