Financiamento de data centers exige novos modelos de capital
A rápida expansão dos data centers na América Latina está forçando uma transformação no modelo de financiamento dessas infraestruturas. O crescimento da demanda por serviços em nuvem, aplicações de inteligência artificial (IA) e descentralização do processamento de dados tem exigido investimentos que ultrapassam a escala tradicional do setor e pressionam por capital de longo prazo e de origem global.
Durante evento realizado hoje, 3, pelo site Tech Capital, em São Paulo (SP), executivos de fundos de investimento, operadoras de data centers e instituições financeiras discutiram como a natureza dessas estruturas evoluiu de empreendimentos de 5 MW ou 10 MW, com custos entre US$ 20 milhões e US$ 40 milhões, para projetos com capacidade superior a 100 MW, chegando a campus de 1 GW e valores superiores a US$ 2 bilhões.
“O Brasil ainda não experimentou plenamente o project finance no setor de data centers, mas isso está começando a acontecer”, disse Rodrigo Abreu, CEO da Omnia Data Centers e operating partner da Patria Investments. Segundo ele, com o salto no tamanho dos investimentos, o modelo tradicional de financiamento corporativo dá lugar a fundos de infraestrutura globais, soluções de securitização de recebíveis (ABS) e estruturas híbridas com garantias reais.
Capital de risco e pré-construção são gargalos
Para Victor Almeida, diretor de investimentos da Piemonte Holding, o principal desafio está na necessidade de capital especulativo antes da assinatura dos contratos com clientes. “Não é possível esperar o contrato com o hyperscaler para começar a levantar o capital. É preciso ter o terreno, as estruturas básicas prontas”, disse. Ele defendeu estruturas criativas como a separação entre risco de desenvolvimento e operação, permitindo atrair investidores com diferentes perfis de risco.
Mauricio Giusti, sócio da Actis, dona da NextStream, destacou que a natureza dos contratos — longos e em alguns casos dolarizados — amplia o interesse de investidores estrangeiros no crédito, mas o equity continua sendo escasso. “É preciso muito capital num curto prazo. Se a empresa não entrega os projetos, o risco recai sobre os primeiros investidores, que podem ser diluídos ao buscar capital emergencial mais caro”, alertou.
Papel do BNDES e regiões prioritárias
Do lado público, o BNDES já se prepara para atuar mais fortemente no setor. Ricardo Scherer Perlin, gerente da divisão de TMT do banco, anunciou o lançamento de um estudo sobre fundos voltados a IA e data centers. Segundo ele, o banco utiliza modelos híbridos de financiamento que combinam garantias corporativas, ativos e recebíveis. “Vamos precisar de muitos bolsos: PPPs, bancos, bancos de desenvolvimento e dinheiro estrangeiro”, afirmou.
Perlin também mencionou o foco em promover investimentos em regiões emergentes do país, como Norte e Nordeste, e a importância de atrair capital internacional para o financiamento de data centers com operações estruturadas em moeda estrangeira.
Sustentabilidade e moderação regulatória são diferenciais
A sustentabilidade foi apontada como diferencial competitivo do Brasil. Roberto Miranda de Lima, CEO da Arch Capital, afirmou que data centers com energia limpa e consumo zero de água são prioridade. Segundo estudo da empresa, a pegada de carbono de um data center no Brasil pode ser até nove vezes menor que em outros países, como o México.
Quanto à regulação de IA, os investidores se mostraram cautelosamente otimistas. Para eles, a velocidade de adoção da tecnologia será mantida independentemente do texto final do projeto de lei. No entanto, alertam que um marco regulatório excessivamente restritivo poderia prejudicar o potencial do Brasil de se tornar um hub global de IA.
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