G7 faz reunião de três dias para pressionar Rússia e condenar ‘coerção econômica’ da China

Os líderes do G7 se vão se reunir entre os dias 19 e 21 de maio no Japão para participar da cúpula em Hiroshima – cidade símbolo da destruição nuclear – que pretende debater sanções mais severas contra a Rússia e avaliar medidas de proteção diante da “coerção econômica” da China. O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também estará presente neste encontro. Ele desembarcou no país nesta quinta-feira, 18. Está é sétima participação do representante brasileiro no G7, que foi criado em 1975, para facilitar uma reação coordenada à crise do petróleo e do câmbio, e reúne algumas das principais economias mundiais, e que estão alinhadas politicamente, ou seja, não são as maiores economias do mundo. Atualmente, ele é formado por Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão (país que detém a presidência do G7 no momento) e Reino Unido. Todo ano os líderes se reúnem para discutir iniciativas econômicas, políticas e sociais, em áreas como ambiente, direitos humanos, desenvolvimento e saúde. A segurança global também costuma ser um assunto presente. Além do presidente brasileiro, também foram convidados para participar da cúpula os representantes da Índia e Indonésia, entre outras nações. Essa é uma tentativa de aproximar o G7 dos países em desenvolvimento nos quais a China faz grandes investimentos.

Durante o encontro, os governantes tentarão estabelecer uma frente unida diante de Rússia e China. Também abordarão outras questões urgentes, mas que não geram consenso no grupo. A invasão russa da Ucrânia é um tema prioritário da reunião, no momento em que Kiev enfrenta bombardeios com mísseis e após meses de combates violentos em Bakhmut, leste do país, e em outras cidades da frente de batalha. “Nós defendemos valores compartilhados, incluindo o apoio ao povo da Ucrânia que defende seu território soberano e responsabilizar a Rússia por sua agressão brutal”, disse o presidente do Estados Unidos Joe Biden durante uma reunião com Fumio Kishida, primeiro-ministro do Japão. O líder norte-americano é o segundo presidente do país, depois de Barack Obama, a visitar a cidade que foi destruída por uma bomba atômica lançada pelas tropas de Washington em 1945. Durante seus anos de existência, o G7 já tomou algumas decisões de importância global. Ano passado ele determinou sanções à Rússia e anunciou o investimento de US$ 60 bilhões (R$ 2,9 trilhões na cotação atual) em infraestrutura em desenvolvimento.

Neste ano, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, deve discursar durante a reunião por videoconferência, e, segundo o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, os participantes pretendem reforçar a bateria de sanções contra Moscou, que, de acordo com os números oficiais, provocaram uma contração de 1,9% na economia russa no primeiro trimestre. Estados Unidos e seus aliados enviaram armas à Ucrânia para fortalecer a defesa do país, mas a aguardada contraofensiva das tropas de Kiev não foi concretizada até o momento. O chefe de Governo da Alemanha, Olaf Scholz, disse à imprensa que a questão é evitar que as sanções sejam contornadas. “Acredito que esta questão será muito bem resolvida e de forma bastante pragmática”, afirmou.

Cúpula em Hiroshima em meio à sombra nuclear

As reiteradas ameaças do presidente da Rússia, Vladimir Putin, de usar armas nucleares foram condenadas pelos líderes do G7 e minimizadas por alguns analistas, que consideram o discurso uma tentativa de minar o apoio internacional à Ucrânia. A visita dos líderes ao Parque Memorial da Paz de Hiroshima na sexta-feira destacará o tema: o local é uma recordação do ataque com uma bomba nuclear de 1945, que destruiu a cidade e matou quase 140 mil pessoas. Kishida quer aproveitar a reunião para obter um compromisso dos participantes sobre a transparência dos arsenais nucleares e para defender a redução dos mesmos. As expectativas de êxito no tema são pequenas, em um momento de tensão com potências nucleares como Rússia, Coreia do Norte e China.

Os debates sobre a China abordarão os esforços para proteger as economias do G7 de uma possível chantagem econômica, por meio de uma diversificação das redes de suprimentos e dos mercados. Nas disputas com países como Austrália e Canadá, o presidente chinês, Xi Jinping, se mostrou disposto a bloquear ou desacelerar o comércio e a estabelecer a cobrança de tarifas sem anúncio prévio e sem apresentar explicações. Sullivan destacou que os líderes do G7 pretendem condenar a “coerção econômica” e trabalhar para solucionar as divergências sobre a maneira de lidar com a China. O governo dos Estados Unidos adotou uma postura agressiva ao bloquear o acesso da China aos semicondutores mais avançados. Contudo, os países europeus, em particular Alemanha e França, querem assegurar que as medidas não impliquem o rompimento dos vínculos com a China, um dos maiores mercados do mundo. Ao mesmo tempo, a China recebe nesta quinta-feira na ex-capital imperial de Xi’an os governantes de cinco países da Ásia Central, que há alguns anos integravam a esfera de influência de Moscou, mas atualmente estão mais próximos de Pequim.