Haddad ataca ‘poder’ da Câmara e Lira cancela reunião sobre arcabouço fiscal

Arthur Lira cancelou a reunião em que seria debatida a votação do arcabouço fiscal, depois de ataques públicos de Fernando Haddad à Câmara dos Deputados. O encontro estava previsto para ocorrer hoje às 19h na residência oficial do presidente da Câmara, com a presença de líderes partidários e do próprio ministro da Economia. Em entrevista, Haddad disse que o regime em vigor no Brasil não é mais o presidencialismo de coalizão, mas “uma coisa estranhíssima, espécie de parlamentarismo sem primeiro-ministro”. “A Câmara está com um poder muito grande, e ela não pode usar esse poder para humilhar o Senado e o Executivo. Mas ela está com um poder que eu nunca vi na vida”, afirmou. Ele também questionou o montante de R$ 40 bilhões destinado a emendas parlamentares no orçamento federal. “É 0,4% do PIB. Onde no mundo tem isso?”, indagou.

Lira e seus aliados reagiram imediatamente, classificando as falas de Haddad como uma afronta à autonomia de outro Poder e decidindo cancelar a reunião para debater o texto final da nova regra fiscal. O tema, claro, será debatido no tradicional almoço de líderes nesta terça-feira, mas a data da votação agora é incerta. Quando se deu conta do estrago, o ministro da Economia telefonou para Lira e tentou justificar suas declarações, alegando que foram dadas num “contexto de reflexão” sobre o fim do presidencialismo de coalizão e que não tinha intenção de criticar o comando da casa legislativa.

“Eu defendi durante essa entrevista que a relação pudesse ser mais harmônica para produzir melhores resultados. Tudo que tenho feito é dividir as conquistas do primeiro semestre com Legislativo e Judiciário. Longe de mim querer criticar a atual legislatura”, disse à imprensa, ao deixar a Fazenda. O mea-culpa foi uma exigência do próprio presidente da Câmara, que, na conversa com Haddad, repisou que orçamento é peça do Legislativo, “por isso se forma uma comissão mista, na qual deputados e senadores colocam seus pleitos para atender seus eleitores.”